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 Xenogears *-*

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aizensan

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MensagemAssunto: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 06, 2010 8:48 pm

Prologo



Eu sou Alfa e Omega,o Inicio e o Fim,o Primeiro e o Ultimo....



[Uma gigantesca nave espacial viaja pelo espaço a uma grande velocidade. Quando derepente, Luzes vermelhas começam a brilhar no centro de controle.]

Computador:Isso é uma emergencia nivel 1.

Mulher 1:Omega 1 reiniciado. Genoma do Alfa 1 restruturado. Confirmando a reposição de éxon...

[No monitor em frente a ela, um embrião se transforma em uma pequena criatura alada.]

Mulher 2:Codigo de base 85 milhões, 100 milhões! Sua velocidade é impressionante! Alfa 1 para central Razeal, acesso confirmado. Inicializando Feteck. Desconectado!

[No monitor, um ponto branco viaja através de um campo de poligonos.]

Mulher 1:Ativando abrigo de emergencia... Negado! A contaminação está aumentando muito.
Capitão!

Capitão:Corte os cabos manualmente.

Mulher 1:Certo. Ativando rajadas de alto destruição. Confirmando...

[Em algum lugar da nave, uma parte do encanamento cai da parede, alguma coisa eletrica passa por ela do mesmo jeito.]

Mulher 1:Nada bom. Não aconteceu nada.

Mulher 2:Omega 1, eles estão atacando! Nós não podemos para-los! 98% de nossas armas foram tomadas.

[Uma enorme caverna com 2 objetos amarelos girando ao centro começam a brilhar.]

Mulher 1:Piloto automatico Deus foi acessado. E sua logica está sendo reescrita.

[No monitor, um enorme portal aparece abaixo de uma esfera.]

Mulher 1:A area Ergo está aumentando. Um plano interno está se formando. Alternar para o modo de deslocamento espacial. Alfa 1, confirmando a transferência dos codigos de coordenadas. Coordenada posta
NX128EZ061, o planeta central!

[O capitão levanta nervoso pois algo terrivel estava acontecendo.]

Capitão:Droga, Então eles estão planejando atacar. [Ele pega o telefone.]

Capitão:Sala de maquinas, ative o modo de selamento de emergencia. Sala de controle? Sa-

[O telefone o qual balança fora do gancho na sala de controle se quebra. O capitão abaixa o telefone. Derrepente, um texto em vermelho aparece no enorme monitor em frente a eles. Ele contem a frase "Vocês devem ser como deuses", se repetindo diversas vezes.O capitão fica assustado,o que aquilo queria dizer?]

Capitão:Vejam se todos os civis e passageiros são transportados com segurança para as naves de fuga.
Vou enviar uma expedição após a evacuação está completa. Estou evacuando a nave. Todos vocês ,
evacuar agora.

[Pessoas correm aterrorizadas pela nave e pulam nas naves de fuga. Derrepente, armas saem da nave e rapidamente abatem as naves de fuga. O capitão assiste a tudo aterrorizado. Ele senta em sua cadeira e tira um medalhão com uma foto de sua mulher e filha,ele parece triste. Ele vira de lado e aperta alguns botões. Um pequeno painel sobe. Ele puxa alguns botões e senta em sua cadeira calmamente enquanto pensa em sua familia.
A nave explode jogando varios pedaços para um planeta proximo.]

[Mais tarde, nos destroços da nave, Uma jovem garota de cabelos azuis sai do meio da bagunça. Ela olha uma luz caindo do céu e anda pela praia a qual ela está...]
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Maomy

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 06, 2010 8:56 pm

(=-) adorei!!!! esta mt bom (hoho1)


amei a 1 frase (hahaha) *mas isso voce ja sabia*

kero a continuaçao logo (54)
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 06, 2010 9:30 pm

Capítulo 01: A Vila de Lahan

O Continente de Ignas, no hemisfério norte do nosso mundo. Neste, o maior continente, uma guerra tem seguido entre dois países por centenas de anos. Ao norte do continente jaz o Império de Kislev; ao sul, está o Reino do Deserto de Aveh.
A guerra durou por tanto tempo que as pessoas esqueceram da causa, conhecendo apenas o círculo sem fim de hostilidade e tragédias. A obsessão crônica da guerra em breve encontraria uma mudança devastadora. Isso se deveu ao “Ethos”, uma instituição que preserva a cultura do nosso mundo, reparando ferramentas e armas escavadas das ruínas de uma civilização antiga. Ambos os países escavavam estas ruínas e pediam ao “Ethos” que consertasse as descobertas, a fim de aumentar seu poder militar.
As variadas armas escavadas das ruínas alteraram grandemente o desempenho do esforço de guerra. O resultado das batalhas entre os dois países não era mais determinado pelo combate homem a homem, mas por ‘Gears’ – máquinas de combate humanóides gigantes – que eram obtidos do interior mais profundo das ruínas. Eventualmente, depois de mudanças constantes no estado de guerra, Kislev conseguiu ficar por cima. O principal fator por trás disso estava na enorme diferença entre a quantidade de recursos enterrados no interior de suas ruínas. Mas, de repente, uma força militar misteriosa apareceu no continente de Ignas. Chamados de ‘Gebler’, esta força decidiu fazer contato com Aveh. Com a ajuda desta força militar Gebler, Aveh conseguiu recuperar-se de sua desesperada minoria para voltar até a fazer par com Kislev. Então, tomando vantagem de sua recém-conquistada aliança, Aveh começou a capturar um território após o outro de Kislev, sem mostrar qualquer indicação de diminuir sua campanha de invasão.
A história começa na vila remota de Lahan, nos limites de Aveh, próxima à fronteira de Kislev...

A vila está em chamas. Pessoas correm por toda a volta enquanto a escuridão da noite é rompida pelo tom vermelho-brilhante das labaredas em seus lares. Um grupo de Gears militares enfrenta um Gear solitário, pilotado pelo jovem Fei Fong Wong, já cansado pelo esforço.
_ Huff... Puff... Malditos!
Apesar de nunca ter pilotado um Gear na vida, Fei conseguiu derrubar alguns dos soldados sem maiores problemas.
_ Agora peguei você!!
Mas os Gears inimigos tornaram a se pôr de pé.
_ O que, raios, é você? – ele pergunta – Não importa como eu o derrube, ainda consegue ficar de pé?
A poucos metros da batalha o Dr. Citan Uzuki, amigo próximo de Fei e do povo da vila tenta se fazer ouvir:
_ Fei, pare! Você não deve lutar aqui!
Uma rajada de metralhadora do Gear inimigo e Fei procurou desviar, sendo atingido por pouco pelo mesmo que acabara de derrubar. Tornando à carga, o Gear de Fei atinge mais uma vez o outro e torna a derruba-lo.
_ Maldição... Por quê? Por quê tiveram de vir aqui? Pra quê fazer isso?
A única resposta é o som das chamas que continuam consumindo a vila, alheias à luta.

Algumas horas antes...

Mais duas pinceladas e parecia pronto. Com um olhar crítico, Fei se afastou um pouco da tela e achou que bastava por hora, resolvido a tirar uma folga. Não tinha idéia de onde viera a inspiração que o levara a pintar aquele quadro, mas quando dera por si, já estava bem adiantado no trabalho. Geralmente, só pintava os arredores de Lahan, onde vivia. Era um rapaz alto, de longos cabelos castanhos presos e também era um mistério. Três anos antes, ele aparecera em Lahan todo sujo de sangue e ensopado da tempestade. Muitos dos aldeões não acharam que suportaria, mas o líder da vila o acolhera e a constituição firme do rapaz impediu o pior. No entanto, ele não se lembrava de coisa alguma anterior a isso, sabendo apenas que fora entregue ao chefe da vila por um estranho mascarado. Havia quem supusesse que o homem fosse o pai de Fei, mas nem mesmo o rapaz podia saber com certeza. Comentavam também sobre os pesadelos terríveis que ele tivera pouco depois, onde sempre chamava pelo pai. No entanto, ele mesmo não tinha qualquer lembrança anterior aquilo.

Tendo terminado sua pintura, Fei resolveu ir ter com os amigos no andar de cima da sua casa, que conversavam animadamente com Lee, o chefe da vila. Entre eles estava Timothy, que foi o primeiro a vê-lo se aproximar.
_ Oi Fei! Desculpe usar a sua casa desse jeito, mas precisávamos nos reunir aqui hoje. É preciso conversar com o chefe sobre o grande dia de amanhã.
_ Ah, claro, o seu casamento com Alice! Isso sim é um grande dia!
_ Bom... é mesmo... mas ainda é meio difícil pensar nisso como realidade, sabe?
Fei se afastou um pouco, como se estivesse sem graça, antes de dizer:
_ Hã, Timothy... Eu só quero agradecer a você e à Alice... Há três anos, eu acordei nessa vila sem o menor vestígio da minha memória... não sabia quem era, onde tinha estado ou o que tinha feito até aquele dia... não podia me lembrar de nada. E, apesar disso, você e Alice simpatizaram comigo e me encorajaram a seguir em frente. Se vocês dois não estivessem lá comigo, não sei o que teria me acontecido... – e, voltando-se para o amigo: _ Do fundo do coração, Timothy, obrigado mesmo! Você e a Alice merecem viver juntos pra sempre!
_ Hah, corta essa! – riu o outro – Não precisa ficar todo sentimental comigo... Seja como for, sempre senti como se tivesse sido seu amigo desde que éramos meninos. E vamos continuar sendo amigos pra sempre, certo?
_ É claro!
_ Ah, Fei, a propósito... – e pareceu lembrar de algo – Será que você podia ir ver como está a Alice? Ainda tem umas coisas pra eu discutir com meu pai e o Chefe Lee, mas tenho certeza de que ela gostaria de companhia.
_ Claro, sem problemas! Te vejo mais tarde, então.
Fei estava prestes a sair quando entrou um garotinho pela mesma porta que ele usaria.
_ Ah, aí está você, Fei! Eu queria falar com você sobre uma coisinha!
_ Ei, como é que está, Dan? Tá animado hoje... como sempre, aliás.
_ Ô, Dan, não seja tão mal educado! – cortou Timothy – Pra quê entrar gritando desse jeito?
_ Saco, o Timothy também tá aqui. – resmungou o menino - Não enche, Timothy! Até casar com a minha irmã, você não tem nada a ver comigo. O meu negócio é com o meu amigo aqui, o Fei. – e virou-se para Fei:
_ Pois é, Fei, eu preciso falar com você depois...
_ O que foi, Dan? – o ar grave do menino fazia parecer sério – Parece coisa grave.
_ E é mesmo; por isso eu não posso falar aqui – e olhou feio para Timothy – Tem uma certa pessoa ouvindo que podia causar problemas. Temos que falar sério, um a um, de homem pra homem! Te encontro lá fora. - E voltando-se para Timothy:
_ Se cuida até amanhã, Timothy. – e mostrou a língua para o outro, saindo logo depois. Fei ficou olhando confuso para a porta e para o amigo.
_ O que é que há com ele, afinal?
_ E pensar que a partir de manhã eu vou ser cunhado desse moleque... – Timothy deu de ombros e riu: _ Hah! Essa parte não vai ser nenhuma lua-de-mel!
Ainda rindo, Fei saiu logo atrás de Dan. Era bom que Timothy tivesse aquele gênio animado; com o mau humor de Dan por causa do casamento iminente da irmã, ele obviamente iria precisar de ânimo!
Dan estava no meio do caminho para a casa de Alice e, vendo Fei se aproximar, chamou o rapaz de canto e perguntou:
_ Podemos conversar agora, Fei? É importante.
_ Claro Dan. O que foi?
_ Como você sabe, amanhã finalmente é o dia do casamento da minha irmã... – falou o menino num ar solene – e é bem sobre isso que eu quero falar: o casamento da Alice. Pra ser perfeitamente honesto com você, Fei... eu sempre quis que você fosse meu irmão. Ainda não é tarde demais. Você podia seqüestrar a Alice e fugir com ela! E, se precisar da minha ajuda, eu adoraria fazer qualquer coisa!
Fei ficou sem ação diante da surpresa enquanto, num tom mais calmo e baixo, Dan segredou;
_ Pode ser meio esquisito eu dizer isso, mas a minha irmã é bonita, cozinha bem... (e, só entre nós, ela é bem dotada, também! Heh, heh heh!) E aí? O que você acha?
_ Tá bom, Dan, você venceu. Acho que eu vou simplesmente pôr Alice no colo e correr com ela pra longe daqui!
_ Mesmo? – o rosto do menino se iluminou – Eu sabia que gostava de você, Fei! Esse é o espírito! Mas... ia ser preciso mudar os sentimentos dos dois, também. E você precisaria gostar dela...
Como Fei esperava, era mais uma das idéias de Dan. Bastava dar corda suficiente e ele próprio percebia os furos do plano. O menino era genioso, mas tinha bom senso. Apesar de ter sido obrigado a se resignar, ele ainda parecia satisfeito.
_ Seja como for, você se dispôs a me ajudar. Obrigado, Fei! Você é um cara legal.
Fei despediu-se de Dan e chegou logo à casa de Alice. Era o bom de viver numa vila pequena; não demorava nada chegar de um lugar a outro. A vizinha na porta foi a primeira a recebe-lo, animada:
_ Oi, Fei! Veio ver Alice? Bom... é costume não se deixar homem nenhum ver a noiva... mas acho que você pode ser uma exceção. Entre!
Apesar de ser um “forasteiro”, não nascido em Lahan, Fei havia sido como que adotado pelo Chefe Lee, era um pintor habilidoso e o conhecimento de artes marciais que tinha, mesmo sem lembrar como aprendera, já salvara mais de uma vez as pessoas de Lahan dos monstros que habitavam nas redondezas. A coragem do rapaz e seu bom caráter tinham conseguido a confiança de todo o povo dali naquele curto intervalo de três anos.Cumprimentando a tia de Alice, que criara a moça e o irmão dela depois da morte de seus pais, Fei subiu até o quarto de Alice. Ela estava lá, fazendo retoques no vestido branco que usaria no dia seguinte.
_ Oi, Alice. Esse é o seu vestido de casamento?
_ Hã? Fei, você me assustou! – e voltou-se para o vestido – É sim. Eu acabei de terminar. Demorou mais do que eu pensava.
_ Hmmm... – Fei se aproximou e deu uma boa olhada, com ar de aprovação – Você fez um bom trabalho! Vai ficar muito bem em você, Alice. Parabéns.
_ Obrigada...
Ela desviou o rosto e alguma coisa no silêncio parecia querer dizer que havia mais a ser dito. Fei sentiu-se inquieto, pensando no que devia ou não dizer, e quando resolveu falar, Alice fez o mesmo.
_ Hã, Alice...
_ Sabe, Fei...
Os dois pararam e se olharam, meio sem jeito, até Fei fazer sinal para que ela falasse.
_ Desculpa, Alice. O que foi?
_ Ah... nada.
_ Sei...
Os dois continuavam um tanto encabulados, e Alice recomeçou:
_ Ah, sim. Fei... você viu o Dan?
_ Vi sim. Ele tá lá fora. – sorriu – Resmungando como sempre.
_ Ai, esse menino! E eu pedi a ele para se apressar! Queria que ele me fizesse um favor.
_ Que tipo de favor?
_ Pro meu casamento amanhã. Eu queria que ele emprestasse uma câmera e alguns flashes do Dr. Uzuki, no pico da montanha.
O Dr. Citan Uzuki era conhecido de toda a Vila de Lahan. Vivia com sua esposa e a filha pequena no pico da montanha próxima à vila e também era muito considerado pelas pessoas dali por sua ajuda médica e, também, por seus inventos estranhos. Era um amigo de longa data de Fei, que se ofereceu:
_ Se é só isso, eu ficaria feliz em ir pedir pra você.
_ Mesmo? Ah, Fei, mas ia ser abusar...
_ Que nada, não é incômodo nenhum. Além disso, não me deixa muito à vontade pensar no Dan carregando coisas que quebram tão fácil. E pra completar, eu posso ter a chance de provar mais um pouco da comida da Yui se for até a casa do Doc.
_ Esse é o meu Fei.
O riso de Alice espantou um pouco aquele clima de desconforto de antes, e Fei já estava quase na escada quando ela tornou a chamar.
_ Fei... espere um pouco.
_ Hã? – ele voltou-se – Tem mais alguma coisa que quer que eu traga?
Ela tornou a se voltar, um tanto sem jeito e torcendo as mãos de nervosismo antes de responder:
_ Não... não é bem isso...
Fei ficou sem entender e ela, ainda sem olhar para ele, perguntou:
_ Fei... Alguma vez você pensou nas coisas assim? – foi até a janela e continuou, sempre evitando olhar para Fei – Se... Se, ao menos, você tivesse nascido nesta vila... e se tivéssemos nos conhecido antes...
Agora foi a vez dele de ficar sem jeito. Houve silêncio, porque nenhum dos dois sabia o que dizer, até que Alice disse:
_ ... N-não é nada. Me desculpe...
_ Bom... Acho que é melhor eu... ir andando, então.
_ Ah... tudo bem. Cuide-se e dê minhas lembranças ao doutor.
Fei ainda olhou para ela um instante antes de sair. Alice ouviu a porta lá embaixo se fechando e perguntou a si mesma:
_ Isso é o destino? – e baixou os olhos, vendo Fei tomar o rumo da montanha - Eu me sinto tão idiota. A quem estou enganando?
Aquela conversa com Alice acompanhou Fei durante todo o seu caminho rumo à casa do Dr. Citan Uzuki. Quando algo como o plano de Dan vinha exclusivamente da cabeça dele, era fácil pensar numa bobagem de criança; vindo de Alice, no entanto, fez Fei se surpreender perguntando o que realmente teria acontecido se as coisas fossem como ela imaginara. Meio aborrecido consigo mesmo e sem jeito com o que estava quase pensando, ele chegou ao topo da montanha sem maiores problemas.
A casa do doutor tinha três andares, sendo o primeiro a sala de visitas e a cozinha, o segundo os quartos e o terceiro um observatório de onde se viam todos os arredores , incluindo a fronteira de Kislev. Ainda havia um último cômodo nos fundos do terreno onde o doutor fazia sua experiências com eletrônica. Fei imaginou se ele não estaria lá quando chegasse. E, de fato, quem o recebeu foi a esposa de Citan.
_ Olá, Fei! Há quanto tempo.
_ Oi, Yui. Onde está o doc?
_ Meu marido está mexendo na sua sucata lá nos fundos, como sempre.
_ Eu já imaginava. Será que ele nunca se cansa de brincar com essas coisas? Bom, é melhor eu ir falar com ele. Com licença, Yui.
Midori, a filha do casal, estava tão quieta quanto de costume. Fei costumava brincar com ela durante suas visitas, mas a menina não estava disposta a sair do lado da mãe naquela tarde em particular. Indo para os fundos da casa, no entanto, Fei não via o doutor em parte alguma e nem ouvia o costumeiro som de ferramentas. Olhando em volta, ele perguntou em voz baixa:
_ Afinal, onde é que você está, Doc?
Um som de explosão pareceu fazer o quarto dos fundos tremer e Fei olhou para o alto, procurando a razão do barulho. Foi quando ouviu uma voz conhecida de lá;
_ Ahhh, isso não é nada bom! Por quê eles usam essas peças tão inferiores? É por isso que a intervenção deles às extrações...
E lá estava ele, óculos de quatro lentes no rosto e o costumeiro sobretudo verde, olhando para uma máquina que mais parecia um caranguejo com uma hélice e com ar de reprovação a um painel fumegante.
_ Doc! Então era aí que você estava!
O doutor voltou-se. Tinha cabelos negros e olhos da mesma cor e um aspecto de intelectual que combinava com a sua figura. Esse mesmo aspecto traía sua natureza de estudioso, mas escondia sua outra natureza: o Dr. Uzuki conhecia técnicas de ether como o próprio Fei e seu conhecimento de artes marciais no mínimo rivalizava com o do rapaz. Ninguém sabia ao certo do passado do doutor e sua família e, como sempre eram tão bons com todos, ninguém o incomodava procurando saber. Ele deixou o ar de decepção de lado e abriu prontamente um sorriso ao reconhecer o rapaz.
_ Ah, olá, Fei! É bom ver você!
_ Você tá bem, Doc? O que está tentando fazer aí em cima?
_ Ah, achei que poderia tentar consertar este Caranguejo de Areia. E, quanto àquela explosão, não precisa se preocupar. Acontece o tempo todo.
Ambos riram. Sim, Fei podia se lembrar de visitas anteriores e de algumas vezes em que ajudara o doutor. Explosões eram um tanto comuns na casa do Dr. Uzuki quando ele começava com suas experiências.
_ Pode esperar um pouco, Fei? Estou prestes a terminar por hoje. Ah, e a propósito, tem uma coisa interessante no depósito. Por quê não dá uma olhada enquanto eu termino aqui? Não vou demorar.
_ Claro, Doc. Mas, por favor, se apresse. Vai escurecer antes que perceba.
Fei não achava nada ruim a idéia de ficar para o jantar. Como dissera à Alice, a comida de Yui era mesmo excelente. Mas o doutor já se machucara cismando em prolongar afazeres até depois do pôr do Sol e foi pensando nisso que o rapaz entrou no depósito. Lá, bem no meio de várias das coisas do doutor, havia uma caixa dourada grande sobre uma mesa.
_ Então, era disso que o Doc estava falando –e começou a tatear a caixa, intrigado – Vamos ver... O que há de tão interessante em...?
Foi quando ele tocou num botão lateral e engrenagens começaram a se mover. Fei deu um pulo de surpresa para trás enquanto a caixa abriu-se para todos os lados, revelando uma estatueta branca de anjo belíssima, ao mesmo tempo em que luzes coloridas se fizeram presentes e a estatueta começou a girar lentamente e uma canção suave se fez ouvir, como numa caixa de música.
_ O q-que... é isso?
Talvez fosse a estatueta, ou talvez as luzes, mas Fei de repente sentiu um estranho calor dentro de si. Haviam... lembranças... algo dentro de si que moveu-se inquieto, e então ele percebeu que era a música.
_ Essa música...? Eu... tenho a impressão de ter ouvido antes, em algum lugar...?
_ O que você acha? Nada mau hein?
Fei voltou-se e o doutor entrou, tornando a saúda-lo.
_ Olá outra vez, Fei. Desculpe te-lo feito esperar. – foi diretamente para a caixa e também admirou a estatueta por algum tempo, perdido em pensamentos – A música é uma coisa misteriosa... às vezes, faz as pessoas se lembrarem de coisas que não esperavam. Pensamentos, sentimentos, memórias... Coisas quase esquecidas... Pouco importando se o ouvinte deseja se lembrar delas ou não...
_ Doc, o que é isso...?
_ Foi retirada de algumas ruínas antigas, e ainda está em reparos. Obviamente é um equipamento de áudio de algum tipo. – e tornou a olhar pensativamente para a estátua giratória – Há muito tempo, pessoas ouviam esta melodia, como estamos fazendo agora... Às vezes, eles podem ter ficado alegres... enquanto às vezes podem ter sido levados às lágrimas.
Fei ficou em silêncio, pensando consigo mesmo o quanto o que o doutor dissera parecia combinar com ele. Ouvindo aquilo ele sentia algo caloroso em seu coração, mas também uma profunda e inexplicável tristeza, como a lembrança de algo precioso perdido várias vezes. Perdido em pensamentos, Fei foi trazido de volta pela voz do doutor:
_ Aliás, o que traz você aqui hoje?
_ Hã? Ah, é mesmo! Alice pediu para emprestar a sua câmera, Doc.
_ Ah, claro. O casamento dela é manhã, certo...? Então, é melhor irmos pegar o que ela pediu. E, a propósito, Fei, o jantar deve ficar pronto em breve. Gostaria de se juntar a nós?
_ Claro que gostaria! Eu estava esperando que o senhor convidasse.
_ Bem, eu ainda tenho que fazer uma limpeza por aqui. Emporta-se de fazer companhia à Midori lá em casa?
_ Claro. Fique à vontade, Doc. Eu vou na frente e como quando o jantar estiver pronto.
_ Ótimo. – riu o doutor – Vá na frente, então. Mas eu não vou ser responsável se você ficar com dor de estômago por comer a comida de minha esposa, Yui.
Fei foi até a porta, ainda sorrindo, mas voltou-se para comentar com Citan, sério de novo.
_ Doc... Eu me sinto estranho quando ouço essa música... Sinto... algo quente por dentro.
Com o ar pensativo de sempre, com a mão sob o queixo, o doutor comentou:
_ Talvez seja porque você tem alguém vivendo dentro de você. E ele também deve ter gostado desta música há muito tempo atrás, antes de se tornar parte de você...
Fei fez cara de quem não estava entendendo e saiu,o que ele quis dizer com isso?.Enquanto isso Citan comentava consigo mesmo:
_ Meu Deus, o casamento de Timothy e Alice é mesmo amanhã. – seus pensamentos divagaram – Pode mesmo ser melhor viver uma vida comum, nesta condição... como um filho de homem...
Citan balançou sua cabeça, como se para escapar de um pensamento mais profundo antes de lembrar do que estivera consertando.
_ Bom, que seja. Acho que seria melhor eu consertar o rotor, pelo menos...
Foi quando ele percebeu que as luzes coloridas estavam diminuindo depressa, bem como a música. Voltando-se para a caixa, Citan percebeu que a estátua parara de girar e parecia se mover de forma diferente. No começo só um balanço, que se tornou uma tremedeira frenética e cada vez mais forte, até que subitamente se quebrou em pedaços sem que nada a atingisse. E o doutor Citan Uzuki sentiu um calafrio.
_ Não pode ser... S-será que... isso é um presságio?
Aproximou-se e examinou a estatueta. O anjo parecia ter se quebrado de dentro para fora, apesar de ser uma estátua maciça. Citan tornou a pôr a mão no queixo, como costumava fazer quando meditando ou preocupado.
_ ... E agora, o que vai acontecer...?
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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 06, 2010 10:26 pm

Capítulo 02: Sombras Cadentes

O jantar, como de costume, estava perfeito. Fei não poupou elogios à comida e Yui ficou muito satisfeita.
_ Se gostou tanto assim, Fei, você pode vir comer quando quiser. É bom ter companhia pra jantar, especialmente quando gostam tanto da nossa comida.
_ E quanto ao equipamento fotográfico, Fei – comentou o doutor – é melhor deixar que eu o levo amanhã bem cedo. Não me deixa muito à vontade a idéia de ver você lidando com coisas tão delicadas.
_ Onde foi que eu ouvi isso antes? Bem, então vou indo. Até amanhã Yui, Midori.
_ Boa noite, Fei, e até amanhã.
Midori continuou em silêncio como sempre e o doutor acompanhou Fei até o portão. Ainda pensando no que acontecera com a caixa de música, Citan recomendou cuidado no retorno à vila, mas Fei comentou despreocupadamente:
_ Está tudo bem, doc. Essa não é a hora de atividade dos monstros da montanha. Vejo vocês no casamento, amanhã.
_ Bem... está certo. Até amanhã, Fei.
De fato, o caminho de retorno estava tranqüilo e até agradável com o ar da noite, sem monstros errantes em parte alguma. Fei estava cruzando a ponte entre um dos penhascos que faziam parte do caminho de volta quando ouviu um som acima de si. Voltando os olhos para cima, viu formas humanas enormes passando sobre si em alta velocidade, cortando o céu da noite com um estrondo de motores.
_ Gigantes...?
_ Fei!
Era o Dr. Uzuki quem vinha correndo e Fei perguntou:
_ Doc, o que era aquilo? Aquelas coisas enormes que passaram agora há pouco...
_ Então você também viu. A julgar pela direção que vieram, eu diria que eram Gears do nosso país vizinho, Kislev.
_ Quer dizer que aquelas coisas são Gears...
Estrondos e sons de explosão começaram a soar no sopé da montanha e ambos ficaram alarmados.
_ Explosões? Fei, por acaso aqueles Gears não tomaram o rumo de...
_ Lahan!
_ Isso é um absurdo! Lahan está em território de Aveh! O que poderia atrair um esquadrão de Gears de Kislev até aqui? E, mais importante, será que eles pousaram em Lahan?
_ Um combate de Gears no meio da vila seria uma catástrofe, Doc! Nós temos que fazer alguma coisa!
_ Vamos, Fei! Precisamos correr!
Ambos se apressaram rumo à vila e Fei viu seus piores temores ficando maiores na medida em que se aproximavam. Incêndios por toda a parte transformavam a noite em dia e, por toda a parte, pessoas corriam de um lado para o outro para escapar do combate. Quando por fim chegaram, viram que o pior estava mesmo acontecendo: os Gears estavam em combate em plena vila. Em meio ao caos das pessoas correndo e da fumaça, Citan viu duas pessoas conhecidas.
_ Alice! Timothy!
Chamados, o casal foi até onde Fei e o doutor estavam, com Timothy dizendo:
_ Doutor, eles simplesmente vieram de lugar nenhum e pousaram bem no meio da nossa vila...!
_ Eu sei, eu sei, isso é um absurdo. Mas por enquanto, vocês estão bem?
_ Sim – respondeu Alice – mas não conseguimos encontrar o Dan em lugar nenhum!
_ Vou procurar mais uma vez – falou Timothy – Vá na frente, Alice, e saia da vila.
_ Espere um pouco, Timothy – interveio o doutor – É melhor que você, Alice e o resto do pessoal evacuem a área. As coisas podem piorar.
_ Mas doc, você sabe que eu não posso simplesmente deixar Dan para trás!
_ Eu sei como se sente, mas deixe o resto comigo e com Fei. Antes de mais nada, você precisa se preocupar com a sua segurança e a da sua noiva. É responsabilidade sua proteger Alice.
Isso era um argumento forte, mas Timothy ainda parecia inseguro; então, Fei apoiou o doutor.
_ É como o doc disse. Saiam da vila os dois e não se preocupem com o Dan. Se eu o conheço ele já deve ter saído e espera por vocês em algum lugar. Se não, eu mesmo o levo assim que puder.
_ É... Acho que vocês estão certos. – concordou Timothy – Vamos, Alice! Vamos deixar o Dr. Uzuki e o Fei cuidarem das coisas agora.
_ Sim... está certo. Obrigada doutor. Mas, Fei... por favor, procure pelo Dan!
_ Se ele ainda estiver na vila, pode ter certeza de que eu vou salva-lo.
_ Agora mexam-se, vocês dois! – ordenou Citan – Fei, eu vou procurar nas casas por alguém que não tenha saído. E você vai andar pela vila, conduzindo os perdidos a um lugar seguro!
_ Certo doc. Cuide-se.
_ Você também.
Timothy e Alice saíram da vila, Citan tomou o rumo das casas e Fei seguiu para a praça principal de Lahan. Um grupo de Gears estava lá em combate, com três Gears militares menores de Kislev enfrentando um Gear negro solitário, disparando com suas metralhadoras sobre ele e tudo o mais ao redor. Mais um estrondo fez com que tudo parecesse tremer e o próprio Fei caiu ao chão. Quando tornou a erguer-se viu o Gear negro em posição de espera, sobre o joelho direito e com a escotilha do piloto no peito aberta, e um cadáver desconhecido no chão. Obviamente, o último ataque derrubara o piloto, mas o Gear ainda parecia em condição de batalha. Em meio ao clarão das chamas e o reflexo no metal, Fei viu que ainda parecia haver alguém no comando: um garoto. Uma criança terrivelmente familiar.
_ Hã?
Uma imagem se formou na mente de Fei, semelhante ao crucifixo que tinha consigo, balançando e cintilando contra a luz. Tornou a olhar para a cabina do Gear e viu quando o menino abriu um sorriso, e a cabina pareceu se fechar. Havia algo perturbador naquele sorriso e a imagem do crucifixo ondulou para o outro lado, enquanto Fei se tornava agudamente consciente das batidas cada vez mais rápidas do próprio coração.
O Dr. Citan Uzuki acabara de sair de outra casa e encaminhara os habitantes para a saída mais próxima da vila e estava indo no rumo da praça central de Lahan. Foi quando notou que Fei estava subindo no Gear.
_ Fei? Fei, espere!
O rapaz não pareceu ouvi-lo, alheio a tudo. A cabina se fechou e o Gear tornou a ficar de pé, colocando-se em posição de combate e voltando-se para os Gears de Kislev. Atrás dele, Citan gritou:
_ Fei, não faça isso! Você não deve lutar aqui...!!
O Gear negro dirigiu-se para frente e confrontou dois dos Gears de Kislev. Na cabina do piloto, uma voz metálica falou num idioma que Fei não compreendeu em nada até que dissesse:
_ Modificador lingüístico ativado. Identificado: dialeto dos Cordeiros de Ignas. Modo simples ativado. Sincronizando interface de entrada com tempo normal de reflexo do piloto. Aviso ao piloto: Modo de Combate! Prestes a entrar em combate! Unidades de combustível restantes: 1200. Use anel de comando à esquerda da tela para atacar. Mova as alavancas para movimento e aperte os botões pré-determinados para iniciar seqüência de ataque automática.
O sinal se tornou mais agudo e a voz, ainda metálica, assumiu um tom mais urgente:
_ Aviso! Gears inimigos agora preparando-se para atacar! Encerrar modo de auxílio!
Dois Gears de Kislev atacaram com suas metralhadoras, mas apesar de alguns eventuais acertos, a blindagem do Gear negro suportou bem enquanto Fei moveu-se e derrubou o primeiro inimigo com apenas dois movimentos. O segundo estava afastado demais para que Fei evitasse seu ataque mas, meio que movido inconscientemente, o rapaz usou sua técnica do Chi, o Tiro Guiado. Quando lutava sozinho, a técnica condensava a força do seu espírito num projétil que sempre atingia o alvo; dentro da máquina amplificadora de Ether do Gear, no entanto, Fei disparou uma torrente de energia devastadora no segundo rival que o derrotou completamente. Mal derrotara a dupla de atacantes, no entanto, quando mais um grupo pousou exatamente diante dele.
_ Reforços, hein?
Outro grupo pousou à sua direita e Fei perguntou-se quantos mais daqueles Gears haviam ali. Em meio aos novos ataques, Fei também percebeu um modelo diferente entre os inimigos: um majestoso Gear de bronze que apenas manteve-se à parte, de braços cruzados, como se observasse a batalha. Forçado ao limite pelo número avassalador de inimigos, Fei disse a si mesmo:
_ Eu acho que não tenho escolha... a não ser lutar!
E tornou a atacar o grupo de Gears. Na praça de Lahan, o doutor Uzuki também observava.
_ Fei...! A forma como está lutando... – e ficou apreensivo – Isso não é nada bom! Se ‘ele’ despertar aqui...
_ Doc!
Uma voz familiar chamou à sua direita e ele viu Dan sair correndo de uma casa em chamas com algo em suas mãos.
_ Dan, você está bem? O que, diabos, está fazendo aqui?! Timothy e Alice ficaram preocupados!
_ Eu sinto muito Dr. Uzuki. Eu saí antes da vila, mas tive que voltar. Não podia suportar a idéia de que o vestido de noiva da minha irmã ia se perder.
Foi quando Citan conseguiu reconhecer o pacote feito ás pressas por Dan.
_ Você voltou apenas para salvar o vestido de casamento da sua irmã? Heh... quem diria que você era um garotinho tão sentimental? – os sons de metralhadora e golpes de metal em metal se fizeram ouvir de novo e Citan conduziu Dan – Depressa, Dan. Temos que aproveitar enquanto Fei mantém aqueles Gears ocupados. Ao que parece, eles estão atrás do Gear em que Fei está...
Dan voltou-se para o combate. O Gear negro saltou sobre uma rajada de metralhadoras e derrubou seu atacante com um golpe e o menino pareceu reconhecer aqueles movimentos. Fei estivera ensinando a ele algo do que sabia de artes marciais e o Gear negro movia-se da mesma forma que Fei.
_ Fei está... dentro daquele monstro?
_ Fei está preso... – disse o Dr. Uzuki com um rosto entristecido – ao destino negro e cruel de deus...
Outro Gear inimigo tombou com uma seqüência de golpes rápidos e o Gear negro parou, sua cabeça quase parecendo viva e com uma expressão feroz enquanto se mantinha parado e em guarda, durante uma pausa nos ataques inimigos. A postura e mesmo a feição ilusória pareciam-se com as de Fei para Dan.
_ ... Fei?
Após um instante de contemplação, o doutor conduziu o menino para o lado, alertando:
_ Venha, Dan! É melhor que nos afastemos daqui.
_ Dan!!
Era Timothy, que vinha por outra ala da vila e parecia aliviado ao ver o menino em segurança junto a Citan.
_ Eu sabia que você ainda estava na vila! Rapaz, como estou feliz que você esteja bem!
Foi quando os Gears atacantes se aproximaram de Timothy, notando sua presença. O rapaz ficou parado sem saber o que fazer diante daquela ameaça metálica, e Fei gritou;
_ Esperem, não atirem! Desgraçados, estas pessoas não têm nada a ver com vocês!
E tentou ajudar Timothy, mas dois Gears de Kislev cortaram sua frente, bloqueando-o
_ Saiam do caminho, bastardos!
Um golpe rápido derrubou outro dos Gears e o Gear de bronze, que se mantivera passivo até então, fez um sinal para o soldado à sua esquerda, que abriu fogo na direção de Timothy.
_ Pare com isso! – gritou Fei – Eu disse pareeee!!!!
A rajada atingiu Timothy em cheio, matando-o instantaneamente. Foi quando Fei sentiu uma pontada aguda em sua mente e viu outra vez o crucifixo balançar, cintilando na luz. Viu um garotinho com olhar espantado, com sangue salpicado em seu rosto e seu cabelo. O crucifixo balançou para o outro lado e os cabelos do menino agora cobriam seus olhos. E, em meio ao sangue que escorria em seu rosto, ele sorriu.
Fei curvara-se na cabina, sentindo a dor aguda. Ele então levantou-se, os cabelos escondendo parte do seu rosto, e ele sorriu. No ato, feixes intensos de luz emanaram do Gear negro e devastaram tudo à sua volta, começando pelos Gears inimigos e passando por casas, pessoas próximas e terminando em Alice. À distância, Dan gritou pela irmã mas foi contido por Citan um instante antes do último lampejo vermelho que se deu antes da explosão.

-------------------------------------

Fei despertou na manhã seguinte, confuso. Não se lembrava de nada do que havia acontecido e nem como chegara ali. A primeira coisa que reconheceu foi que não estava em sua cama, mas sob uma árvore.
_ Hã...! Onde eu...?
Olhando em volta, ele viu um grupo de pessoas reunidas e o Dr. Uzuki entre elas, que viu quando ele despertou.
_ Ah, finalmente você recuperou a consciência, Fei...
_ Doc, o que aconteceu? – perguntou o rapaz, confuso – Onde é que estão o Chefe Lee, Timothy, Alice...? O que foi que...?
_ Sim... – Citan parecia inseguro, sem saber por onde começar – Bem, é que...
Foi quando Dan adiantou-se, passando por Citan e olhando com raiva para Fei.
_ Seu assassino!
Fei e Citan voltaram-se para o menino e, enquanto o doutor procurava acalma-lo, Fei perguntou:
_ O quê? Dan, o que quer dizer com...?
_ Fei... – Dan livrou-se do doutor e correu os olhos por toda a volta – Isso aconteceu... porque você teve que entrar naquele monstro...! Alice, Timothy e todas as pessoas...! – voltou seu olhar para Fei novamente – Você matou a todos usando aquele monstro...!!
Foi quando Fei percebeu que Dan falava do Gear negro que estava atrás de si, de pé e imóvel como uma estátua. Fei não conseguia se lembrar de nada posterior ao momento em que Timothy fora baleado, mas ouvia a voz de Dan e outras em seguida falando:
_ Por quê você teve que lutar no meio da vila? Como sabia pilotar um monstro desses?
_ Mãe? Cadê minha mãe...?
_ Viu, eu te disse... disse que deixar alguém de quem nós não sabíamos nada vir morar na nossa vila queria dizer desastre...
_ Ooooh... Dói... Dói tanto...
Fei virou o rosto, voltando-se para Dan e o povo da vila e fez menção de aproximar-se, mas todos começaram a se afastar com medo e raiva em seus rostos. Mesmo as crianças. Mas ninguém parecia pior do que Dan.
_ Seu assassino! A minha irmã... Me devolva a minha irmã!!
_ Dan , não há nada a se ganhar pondo a culpa toda em Fei – disse o Dr. Uzuki com a mão nos ombros do menino – E, mais importante, você sabe que Fei não tinha como controlar o mal funcionamento daquele Gear.
_ Eu... eu sei disso! – murmurou o menino, choramingando – Mas... Mas... – voltou-se para Fei e gritou – EU ODEIO VOCÊ!
E saiu correndo sem olhar para trás. Fei pensou em correr atrás dele e viu que não teria o que dizer se o alcançasse. E o doutor disse:
_ Pode ser melhor se o deixarmos sozinho por enquanto. Ele não sabe o que fazer com sua raiva, sua angústia...
Fei apenas baixou sua cabeça, sentindo-se com o peso do mundo inteiro sobre os ombros. Dan estava certo. Ele era mesmo um assassino. Era aquele que matara o povo da vila e a destruíra, de forma pior que os Gears inimigos poderiam ter feito. E ele ouviu Citan dizer:
_ A propósito, Fei... Pode ser uma boa idéia se você resolver deixar este lugar. Não há garantias de que um novo esquadrão não venha pra cá. Eles provavelmente vão querer saber o que houve com seus companheiros. Além disso – e olhou para as pessoas reunidas – a sua presença não vai deixar a atmosfera mais alegre... se é que me entende. Pode ser melhor para você e os outros se você partir.
_ Sim, eu acho que está certo... O desastre aconteceu porque eu estava aqui... mas o que eu devo fazer agora?
_ Sim, bem... Por quê não cruzar a Floresta da Lua Negra e seguir rumo a Aveh? Tenho certeza de que os soldados de ontem não eram de lá e, se você estiver em território de Aveh, eles não serão capazes de localiza-lo tão facilmente.
_ Tá... eu entendo, Doc. Por favor... tome conta das coisas por aqui.
_ É claro. Bem... cuide-se.
Fei não disse mais nada, afastando-se devagar. Antes, porém, parou e deu uma última olhada para o povo sobrevivente de Lahan e para o Dr. Uzuki. Depois, voltou-se para o Gear negro reluzente e ouviu a voz acusadora em sua própria mente, enquanto a máquina parecia fita-lo nos olhos:
“Você matou a todos usando aquele monstro...!!”
“Assassino! A minha irmã... me devolva a minha irmã!!!”
Não havia nada que ele pudesse dizer ou fazer, por mais que quisesse. Com um nó na garganta, Fei afastou-se sem olhar para trás.
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSeg Mar 08, 2010 2:41 am

Capítulo 03: A Garota da Floresta

A Floresta da Lua Negra ficava nos arredores de Lahan e era caminho obrigatório para quem ia da vila para o deserto de Aveh. No geral, Fei não teria muito com o que se preocupar quanto aos monstros, a não ser pelos Elfos da Floresta, mais numerosos ali do que os hobgoblins e mais perigosos, também, mas isso mal passava pela cabeça do rapaz, ainda atormentado pelos acontecimentos da vila. Pouco antes de entrar na floresta ele deu uma última olhada na direção de Lahan e não pôde ver as casas mais altas que antes haviam. Seus pensamentos ainda eram sombrios e ele estava penetrando no caminho que conduzia a uma clareira em meio à floresta quando ouviu:
_ Rareceas! Antva!
A voz de mulher era completamente desconhecida para Fei, assim como o idioma em que ela estava falando. Voltando-se, ele deparou com uma moça que não devia ter mais de dezoito anos num uniforme militar desconhecido e ela empunhava uma pistola. Apesar do propósito ser claro, Fei não conseguia entender uma única palavra do que ela dizia.
_ Alaham stiuld. – ela continuou a falar por mais algum tempo, até que o piscar de seus olhos azuis mostrou que ela finalmente compreendeu que Fei não a entendia. Sacudindo a cabeça, ela tornou a falar, desta vez de forma compreensível.
_ Levante as mãos e jogue fora a sua arma! Faça qualquer movimento suspeito e eu atiro!
Fei não reconhecia aquele uniforme. Após um instante em silêncio, a garota disse:
_ Hã... vire-se!
Fei continuou olhando para ela. Sem dúvida, entre tudo o que poderia acontecer na floresta, ele não esperaria nada como aquilo. Firmando a arma em mãos, ela deu mais ênfase:
_ Eu disse... vire-se!
Fei virou-se, então, e a garota se aproximou devagar, até que o cano da pistola tocasse as costas de Fei e ele pudesse sentir algo inusitado:
_ ... você tá tremendo?
_ Fica quieto! – após um instante de silêncio, sondando, ela disse – Você não parece um dos soldados de Kislev que estão atrás de mim... mas...
Ela se afastou devagar e Fei resolveu voltar-se. Ela parou no ato e tornou a firmar a pistola em suas mãos.
_ Não se mova!
Os dois permaneceram parados mais um momento antes que ela dissesse:
_ Eu tenho ordens de matar todos os habitantes da superfície, os ‘Cordeiros’, que encontrar por acaso... É parte da minha missão. Nada pessoal.
O que a deixava mais inquieta era que a ameaça da arma não parecia deixar Fei nervoso. O rosto dele estava impassível demais para alguém sob a mira de uma pistola. Como se o tempo fosse importante, ela continuou:
_ Eu tenho uma pergunta para você... como eu saio desta floresta?
_ Você... se perdeu?
_ Me responda! Só isso! Como eu saio daqui?
_ Desculpe... mas eu também estou procurando o caminho pra fora daqui.
_ Ah...
A decepção dela foi tão grande que a garota baixou a cabeça e também a arma, tirando Fei da mira. Sem que ela se decidisse e um tanto aborrecido com aquela situação, o rapaz perguntou;
_ Quanto tempo mais você vai ficar parada aí, desse jeito? Se vai atirar em mim, então anda logo e faça isso.
Ela tornou a olhar para ele, espantada. Com certeza, não esperava ouvir aquilo.
_ Que coisa estranha pra se dizer! Você não percebe a situação em que está?
_ Não me importo com minha situação. – Fei baixou a cabeça – Sou só um sujeito cuja vida não tem valor. Não há qualquer sentido pra mim em viver.
Ele tornou a erguer a cabeça e deu um passo na direção da moça, que prontamente apontou a pistola, apesar de indecisa.
_ F-Fique parado!
Fei deu mais um passo e ela atirou. Em algum ponto atrás de si, Fei ouviu um galho que a arma atingira cair ao chão, mas ele continuava ileso.
_ Pra onde você está apontando? – e indicou o próprio peito – Aqui! Me acerte aqui! Anda...
_ Você... Está brincando comigo? – se afastou devagar, sem tirar os olhos de Fei – Você é muito esquisito. Tem algo de errado com você! Devia ao menos tentar resistir um pouquinho!
Foi quando uma coisa azul pulou da árvore ao lado da moça e caiu atrás dela, o que a fez voltar-se, confusa.
_ O que é isso? Quem é você?
A resposta do Elfo da Floresta foi um murro que derrubou a garota, inconsciente. No ato, o torpor de Fei acabou e ele bradou:
_ Ei! Mantenha essas mãos longe da Elly!
Elfos lutavam como pugilistas, mas não eram muito espertos e nem adversários à altura de Fei. Um instante de luta e a dupla de elfos caiu e fugiu assustados, e livre da ameaça, ele voltou-se para a moça inconsciente.
_ Você tá bem? Agüente firme!
Mas ela desmaiara, despertando outra vez apenas depois do anoitecer. Olhando ao redor, ela viu uma fogueira acesa e o rapaz estranho parecendo assar algo nas chamas, e o rosto dele abriu-se num sorriso ao vê-la desperta.
_ Bom, você finalmente acordou! Ficou desmaiada tanto tempo que eu comecei a me preocupar.
Ela não respondeu, sentando-se e ficando de cabeça baixa. A despeito disso, ele insistiu:
_ Como está se sentindo?
Mais silêncio.
_ Ainda pretende me matar? Então vá em frente e atire em mim! Mas seria melhor que não fizesse isso enquanto estivermos nesta floresta. Os monstros da floresta detestam ruídos altos, sabia?
Ela continuou quieta, sem sequer olhar para ele, e Fei deu de ombros.
_ Tá. Não precisa falar comigo se não quiser, mas não ia te matar se me agradecesse por curar seus ferimentos.
Desta vez ela reagiu, erguendo a cabeça e parecendo meio sem graça.
_ O-obrigada... mas você não devia ter me ajudado. Nem pense que isso vai salvar sua vida. Na verdade, isso não muda nada.
Chegou a fazer Fei sorrir. A teimosia dela nisso era engraçada.
_ Por quê está com tanto medo?
_ Eu não estou com medo! - retrucou ela na mesma hora - ... só estou sendo cuidadosa. É natural pra mim ser tão cuidadosa considerando que encontrei um cordeiro da superfície tão suspeito.
_ Hm... não precisa se preocupar. Eu não vou fazer nada. E, além disso, você é muito mais suspeita do que eu.
Ela ficou surpresa, da mesma forma que ele estranhamente sabia que ela ficaria, e então Fei perguntou:
_ E então, qual é o seu nome?
Com uma atitude inconformada, ela retrucou:
_ Eu não vou dar meu nome pra nenhum cordeiro da superfície!
Isso já estava ficando cansativo! Ela não parecia má pessoa, pensou Fei, mas essa coisa na atitude dela era aborrecida demais!
_ O que é que há com você e essa história de ‘cordeiro’? Estamos os dois perdidos na floresta, cercados por monstros perigosos... não devíamos pelo menos cooperar um com o outro até sairmos daqui?
Ela tornou a baixar a cabeça sem dizer nada, e ao perceber que ela concordava, Fei sorriu.
_ Bom. Então, qual é o seu nome? Vai ser difícil pra nós cooperarmos um com o outro sem sabermos nem os nomes um do outro. Quanto a mim, meu nome é Fei Fong Wong. Pode me chamar de Fei.
Ela ergueu a cabeça e tornou a olhar para ele, respondendo de forma ainda indecisa.
_ Eu sou... Elhaym. Mas meus pais me chamam de Elly.
_ ‘Elly’, hein? – foi quando ele se lembrou de ter dito o nome dela antes – De alguma forma, eu já sabia disso.
Elly não pareceu entender e, como nem o próprio Fei saberia explicar, ele mostrou a floresta e disse:
_ Seja como for, é perigoso demais viajar por aqui a esta hora da noite. É melhor esperarmos até o dia clarear antes de seguirmos procurando por uma forma de sair daqui... se estiver tudo bem com você.
Elly deu um suspiro resignado antes de responder:
_ Acho que não temos mesmo escolha, temos?
_ Tá certo, Elly. Então, que tal comer alguma coisa?
Mais tarde, um garotinho chorava, sentado no deserto. Olhando para o lado ele viu, entre as dunas, uma fila de pessoas que seguia sempre em frente. Pareciam espíritos.
_ Ei! Esperem! Esperem por mim!
Ficar de pé e correr tanto quanto podia na direção deles não quis dizer nada, pois o grupo se afastava depressa. O menino correu até cair sentado na areia, chorando. Estava sozinho de novo. Parecia-lhe que estaria sozinho para sempre.
Uma outra sombra apareceu à sua direita e ele voltou os olhos. Era a silhueta de uma moça com um crucifixo reluzente no pescoço. Mesmo sem poder ver seu rosto claramente, ele sentia a bondade e a gentileza emanarem dela como perfume. Embora não visse o rosto, ele teve certeza de que ela sorria quando estendeu-lhe a mão, dizendo:
_ Deve ser muito solitário ficar aqui, sem ninguém.
As lágrimas pararam e o menino sorriu quando ela estendeu a mão gentil para ele e o menino ia aceitar a ajuda daquela presença tão familiar que parecia saber seu nome...
_ Fei... Fei. Fei!
Alguém o estava chamando, realmente, mas não era mais a dama gentil do sonho. Alguém parecia chamar de fora.
_ Fei?
Ele levantou-se, olhando ao redor. Estava de volta à floresta e Elly olhava para ele, finalmente parecendo satisfeita.
_ Bom. Já está pronto para irmos?
Ele acenou que sim, perturbado. Por um instante, Elly parecera tornar-se a dama que lhe estendera a mão no sonho. O dia já raiara, e ambos começaram a procurar uma forma de sair da floresta.
Mesmo estando em dois, o caminho não foi mais simples nem mais complicado do que deveria. Haviam vários monstros à solta, mas quando o conhecimento de Fei não bastava, as técnicas Ether de Elly complementavam as lutas. Em dado momento, quando alcançariam uma clareira aberta mais adiante, Elly chamou a atenção dele.
_ Fei... Ontem, você disse que sua vida não tinha valor. O quê quis dizer com aquilo?
Ele ficou um pouco aborrecido. A companhia dela e o esforço em abrirem caminho pela floresta haviam feito com que deixasse para trás os acontecimentos em Lahan, mas agora...
_ Por quê está perguntando?
_ Por quê? Ontem, parecia que você tinha um desejo de morte. Acha que isso não ia me fazer ficar pensando? Diga, como é que acabou se perdendo nesta floresta, em primeiro lugar?
_ Eu podia perguntar a mesma coisa.
Ela não esperava pela pergunta e ficou um tanto insegura, de repente.
_ Hã? Bem, eu... hã...
Mas Fei já não prestava atenção, lembrando-se de tudo o que fizera e imaginando o que havia feito para causar tal destruição em sua vila.
_ Eu... fugi... da minha vila. Ou do que resta dela...
_ Vila? Você não está falando...?
_ Lahan... Era uma pequena vila entre esta floresta e a cordilheira. Eu fugi de lá.
_ Aquela vila...?
Elly parecia saber do que Fei estava falando e, num estado normal, ele provavelmente perceberia. No entanto, estava concentrado nas lembranças enquanto explicava a ela.
_ Era uma vila boa e pacífica. Todos lá me tratavam como se fosse família. Então, ontem à noite, um grupo de Gears apareceu de repente e começou a lutar bem no meio do lugar. A vila foi engolida pelas chamas... Eu não podia ficar lá, parado, e assistindo Lahan ser destruída... – as lembranças ficavam mais fortes e ele baixou a cabeça – Então, pra defender o pessoal da vila, eu entrei num Gear vazio... sem ao menos saber como operá-lo. Eu só achei que, talvez, pudesse fazer aquilo. Não... era mais como... se alguém estivesse cochichando pra mim... Alguém sussurrando... me dizendo pra fazer... Mas foi um desastre! A vila...
_ Foi destruída pelo exército de Kislev?
Fei não dissera que os Gears eram de Kislev e teria percebido o deslize dela normalmente. Ao invés disso ele ficou em silêncio e ela teve que insistir.
_ Fei...?
Depois de uma pausa longa, ele respondeu enfim:
_ Não... A vila foi destruída... por mim.
Ela obviamente ficou sem entender e ele continuou:
_ Sim, fui eu. Eu destruí Lahan. Estou certo disso...
_ O que quer dizer com isso? Pensei que estava tentando ajudar a salvar o povo?
_ Eu tentei ajudar. Na verdade, cheguei a derrubar alguns Gears. Mas então... fiquei sob fogo pesado de um novo grupo de Gears e o meu amigo... Timothy... foi atingido por uma rajada de balas...
Elly sentia-se pior a cada palavra e isso era visível em seu rosto, mas Fei nem percebeu.
_ Então, eu me perdi... tudo ficou escuro... não me lembro de nada depois disso. O Gear em que eu estava ficou fora de controle... Bem, foi o que o Doc disse. Quando dei por mim, a vila... todos que viviam nela... – ele apertou os punhos de frustração – Alice, ela era tão... ela e o Timothy... Deus do céu, todos eles! Gente tão boa, e...
_ O Gear... saiu de controle? – ele não respondeu novamente, ficando de frente para uma árvore e de costas para ela.
_ Fei?
_ ... É, o Gear!
Ela não entendeu nada, mas lembrou-se de uma noite recente, quando voava numa missão. Pelo comunicador, podia ouvir o líder de seu grupo praguejando.
_ Malditos, ainda estão em perseguição! E já entramos em território de Aveh! Mas não vamos desistir agora. Este Gear é importante demais!
Uma explosão à sua esquerda e Elly viu um Gear dos seus companheiros cair. E a voz tornou a falar:
_ É isso, estou em desvantagem, agora!
Foi quando Elly sentiu um tranco violento no seu próprio Gear. Enquanto o monitor de dano mostrava a avaria, a voz perguntou:
_ Van Houten, o que há de errado? Responda!
_ E-estilhaço... na minha retaguarda. A saída dos meus propulsores está diminuindo. Não consigo manter a altitude.
_ Maldição! Todo mundo, pousar agora! Reagrupar no solo! Vamos ter que enfrenta-los!
Em meio às sombras da noite, o Gear avariado de Elhaym Van Houten aterrissou bem na praça de uma pequena vila desconhecida e, mal a piloto deixou a cabina, um grupo de Gears inimigos pousou depois e abriu fogo. Elly ainda ouvia os tiros quando a voz de Fei a trouxe de volta, e ele parecia irado.
_ Se eles nunca tivessem vindo à vila, nunca tivessem começado a lutar lá... eu nunca teria tentado pilotar aquele Gear. A culpa é toda deles... não minha! Se eles não tivessem lutado em Lahan... não teria acontecido nada. A culpa é deles! – e começou a esmurrar o tronco da árvore diante de si, repetindo sem parar:
_ Deles! Deles!! Deles!!!
_ Já chega!
O grito de Elly foi inesperado e, ao se voltar, Fei viu que ela parecia irritada.
_ Você é um covarde!
_ Um covarde...? Eu?
_ Sim, você é um covarde! Tudo o que fica dizendo é ‘eles, eles, eles’! Não fale como se não tivesse parte da culpa, também!
_ Eu tenho parte da...?
Fei estava cada vez mais confuso e angustiado, mas Elly não poupou-se de continuar:
_ Isso mesmo! É claro que a causa direta da batalha foi um Gear que fez um pouso de emergência na sua vila, mas tudo o que Kislev queria era o Gear, certo? Não estavam invadindo ou tentando destruir Lahan. O verdadeiro dano aconteceu porque você subiu num Gear e tentou revidar!
Fei não havia pensado assim antes e baixou a cabeça, enquanto ela continuava:
_ O que fez você subir no Gear? Não é qualquer um que pode pilota-los! Isso requer treinamento! Não há como um civil poder esperar pilotar um! Ao invés disso... você devia ter ajudado as pessoas a fugirem para a segurança! Como pode pôr a culpa num Gear quando foi sua a decisão de lutar nele, em primeiro lugar?
Fei apertava os punhos de nervosismo, não conseguia fugir do peso daquilo. E ela apenas continuava a fazer parecer ainda pior do que já seria, dizendo:
_ Por quê não aceita alguma responsabilidade? Por quê fica colocando toda a culpa nos outros? Está apenas fugindo! É isso o que faz de você um covarde!
_ Se você coloca as coisas desse jeito... sim, eu sou um covarde! Não percebi a minha própria força e tenho culpado os outros pelo que aconteceu. Sou uma desculpa lamentável de ser humano.
A falta de energia na voz dele, sua atitude derrotada, tudo isso fez Elly imaginar se não teria ido longe demais. Fei estava novamente de cabeça baixa e sua voz parecia a de alguém que chorava.
_ Eu... só senti meu sangue fervendo e não pude evitar. Não pude me conter... nem ajudar os outros!
Ele agora estava realmente chorando e se deixou cair sentado no chão repleto de folhas, mãos cobrindo o rosto e Elly percebeu que não estava sendo justa. Além do mais, Fei lhe salvara a vida.
_ Fei, eu... eu só...
_ Fica quieta! O que é que você sabe, afinal?! – os olhos marejados dele ficavam fixos nos próprios punhos fechados, incapazes de encarar a moça – Quando eu voltei a mim, estava cercado por pilhas de escombros! Eu não sabia o que tinha acontecido ou o que tinha feito! Não lembrava de absolutamente nada! Tudo o que eu sabia era que minhas mãos ainda podiam sentir o que tinham feito. – sua cabeça caiu e ele escondeu o rosto novamente, desconsolado – As únicas coisas que penetravam a barreira do Gear eram gritos! Gritos acompanhados pelo banho de sangue, pelo som de ossos se quebrando e as minhas próprias maldições. – ficou de pé de repente e estendeu as mãos na direção dela, parecendo ainda mais desesperado – Olha! Olha pra as minhas mãos! Consegue ouvir as vozes deles? Consegue entender esse sentimento? O sentimento de ter destruído sua vila com as próprias mãos? De não ser capaz de fazer nada pelas crianças que ficaram pra trás? Agora eles não têm nada.... Eu não tenho nada... Não tenho lugar... Não tenho ninguém...
Elly sentiu a consciência doer. O rapaz parecia uma criança desamparada, sentado novamente e soluçando enquanto murmurava:
_ Eu não queria subir nele... Não tive escolha! Não tinha outro jeito...!
Elly começou a se aproximar de Fei, querendo dar algum consolo, mas algo dentro de si lhe disse que já fizera mais do que o suficiente. Além disso, havia algo que não dissera a Fei e, naquela hora, talvez ela deixasse escapar. Sentindo-se mal consigo mesma pelo que fizera, ela recuou e acabou se afastando rumo a outra clareira, ainda parando por um instante para olhar para o rapaz.
Agora, ela também sentia uma culpa similar á dele. Por quê reagira daquela forma? Ele estava certo; se não tivesse pousado na praça central de Lahan, nada daquilo teria acontecido. E, quanto ao sentimento de haver perdido o controle, ela própria tinha sua história para contar.
_ Por quê eu falei daquele jeito com ele...?
“Por quê fica colocando a culpa de tudo nos outros?”
Ela lembrou-se de outra ocasião. Um corredor em sua academia, com as paredes manchadas de sangue. Três colegas mortos de forma violenta, enquanto ela apertava a cabeça entre as mãos.
_ Não... não fui eu quem fez isso, não entende?
“Não é qualquer um que consegue pilotar um Gear! Foi a sua decisão de pilota-lo que começou tudo!”
_ Eu não tenho esse tipo de força. Foi... outra pessoa.
As expressões de dor no rosto dos três mortos pareciam marcadas a fogo em sua memória e o sangue de seus ferimentos parecia correr como um rio em sua direção.
“Por quê não aceita a responsabilidade? Por quê coloca a culpa toda nos outros? Você é um covarde!”
“Sim, isso mesmo! Eu sou um covarde!”
Elhaym Van Houten entendia bem o sentimento do descontrole, de não saber o que havia acontecido num certo período de tempo e despertar cercada por pessoas mortas. Suas próprias mãos tinham sangue. E a isso seguia-se agora o remorso por ter sido tão dura com Fei.
_ Sim... é isso mesmo... Eu sou uma covarde...
De cabeça baixa ela afastou-se, sentindo a dor do rapaz e a responsabilidade que lhe cabia ficarem pesadas demais. Apenas um som estrondoso semelhante a passos que se aproximavam tornou a atrair sua atenção e ela olhou para o outro lado da clareira. Um enorme lagarto verde, com chifres na cabeça e esporas em suas costas emergiu do meio da mata e parou ao vê-la, voltando-se em sua direção e rugindo.
Fei ainda estava com a cabeça baixa e chorando quando ouviu o grito de Elly vindo dali de perto.
_ Ah, não!
Sem pensar mais no que acontecera, movido pela urgência de salvar a moça, ele correu para a clareira próxima e encontrou Elly nas garras de um Dragão Rankar.
_ Elly!
A moça não reagiu ao chamado, mas o monstro voltou-se em sua direção e a deixou no chão. Fei colocou-se em guarda, mesmo sabendo que não tinha chances de enfrentar aquele monstro de mãos nuas e esperou que Elly se levantasse e fugisse enquanto ele ganhava tempo. Suas esperanças morreram, no entanto, quando tornou a chamá-la e ela não respondeu.
_ Maldição, ela está inconsciente.
O Rankar estava entre Fei e Elly. Durante sua primeira investida, Fei esquivou-se para a direita e aproveitou para atingir o monstro com sua melhor técnica de então, o Raijin, que concentrava toda a força de seu espírito no punho para descarrega-lo explosivamente. Foi força suficiente para derrubar até mesmo o dragão, mas não para vence-lo, e o rapaz percebeu que precisaria de muito tempo para derrotar o Rankar com aquilo. Um tempo que não teria.
_ Feei!
A voz conhecida de Citan Uzuki veio acompanhada do som de hélices. Logo em seguida, o Caranguejo de Areia que Fei vira em reparos na casa do doutor passou voando, carregando algo que o rapaz não esperara ver de novo.
_ Fei, estive te procurando! Aqui, pode usar isso!
O veículo do doutor soltou o Gear negro e este caiu á frente de Fei, em posição de prontidão e abrindo a escotilha do piloto, indiferente à expressão no rosto do rapaz.
_ Ei, espere um minuto! Me dizer que eu posso usar isso é...
O Rankar, tendo perdido de vista sua presa depois da queda do Gear, voltou sua atenção para a moça inconsciente caída ao seu lado e Fei se viu sem opções. Apressou-se na direção da cabina e pediu:
_ Doc, eu tenho que pedir um favor: eu vou derrotar este monstro! Mas, se parecer que eu vou ficar fora de controle como da última vez, atire em mim!
_ Fei... Vamos rezar para que não aconteça!
O veículo do doutor se afastou enquanto o Gear negro ficou em pé e confrontou o monstro. Diante de um inimigo à altura, o Rankar lançou sua baforada aderente, capaz de reduzir a velocidade de reação do adversário. Agindo novamente com naturalidade como se fizesse aquilo a muito tempo, Fei ativou o turbo do Gear e os propulsores se ativaram, compensando a perda de velocidade e ficando mais veloz que o Rankar. O dragão usava sua cauda, mas já não conseguia alcança-lo. Tentou novamente o sopro aderente, mas Fei não ficava parado diante dele. Girando ao redor do monstro enquanto concentrava energia, o Gear negro dirigiu seu pulsos para o dragão e liberou novamente o poder da máquina amplificadora de Ether, lançando um Tiro Guiado contra o monstro. Diferente da noite anterior, o monstro não foi vencido apenas com isso, mas ficou sem visão por tempo suficiente para que Fei encontrasse no painel de instrumentos algo chamado ‘nível de ataque’, que não vira antes, e ao selecionar aquilo, o Gear entrou num modo de ataque automático denominado ‘Raigeki’, iniciando uma seqüência de golpes rápidos e fortes dos punhos que terminou por tombar o Rankar. Ao fim da luta, Citan pousou e perguntou:
_ Você está bem, Fei?
_ Sim... acho que sim. – ele murmurou ao descer do Gear.
_ Essa luta com o Rankar foi memorável. Um Gear ordinário não poderia derrotar aquele monstro. E você, com certeza, se manteve em boa forma...
_ Por quê trouxe isso pra cá, Doc?
E voltou seus olhos desconfiados para a máquina que Citan encarou despreocupadamente.
_ Isso...? Está falando do Weltall?
_ Weltall? – Fei não podia acreditar- Este é o Gear que destruiu nossa vila! Por quê se incomodou em traze-lo aqui? Eu nunca mais quero ver outro Gear...
_ Eu entendo como se sente... mas, a fim de se proteger, é preciso um certo nível de força. Especialmente se estamos sendo perseguidos.
_ Bem... eu concordo que um certo grau de força é necessário para a autodefesa e... se não fosse por este Gear, Elly e eu estaríamos no estômago daquele Rankar a esta altura... mas o poder dele vai além do necessário. Será que alguém precisa do poder para destruir tudo?
Para isso, Citan não teve resposta. E Fei continuou:
_ Não quero esse tipo de poder. Eu simplesmente odeio Gears.
_ Usar ou ser usado pelo poder, Fei... Isso não é um problema de coração? Se os humanos não usam seu poder de forma errada, ele pode ser uma coisa boa. Eu acredito que tal poder é capaz de nos salvar. Quanto a isso, eu sei que você vai estar bem. Com certeza, ajudou você desta vez. Estou certo?
_ Eu... quero acreditar nisso. – Fei baixou a cabeça – Mas tem algo me impedindo. Este Gear...
Ainda olhou novamente para a máquina parada, que parecia alheia aos rumos que lhe eram dados. Por fim, Fei deu de ombros.
_ Bem, que seja. Ao menos, Elly está salva.
_ Sim, e parece que ela já vai acordar.
Os dois foram até a moça exatamente no momento em que ela se levantava, olhando confusa para o rosto desconhecido do doutor, que tratou de se apresentar.
_ Eu sou Citan, um amigo de Fei. – olhou para o Rankar caído com ar pensativo – Você quase não conseguiu. Se Fei não tivesse salvo você, eu odeio pensar no que poderia ter acontecido. Mas também não fiquei muito à vontade com a pressa dele em tentar derrubar aquele Rankar com as mãos nuas.
_ Mãos nuas? – e olhou para Fei, achando difícil acreditar. Fei pareceu ficar sem jeito e Citan deu de ombros.
_ De qualquer modo, estou feliz que tenha podido dar um uso para o que eu lhe trouxe, Fei.
Foi quando Elly percebeu o Gear negro parado próximo ao Rankar e Citan comentou, com ar distraído:
_ Digamos apenas que estamos pegando emprestado algo que o exército de Kislev deixou pra trás.
_ Ah... – e, voltando-se para Fei – Obrigada, Fei. Com essa, já são duas vezes.
_ Sem problema. Eu coloco na sua conta.
O sorriso de um para o outro desmentia o que acontecera pouco antes e Citan, olhando para os céus, observou:
_ Está ficando escuro. Vamos acampar agora e começamos amanhã de manhã. Vocês dois parecem cansados e eu preciso fazer uns reparos no nosso amigo aqui.
Mais tarde, Elly olhava pensativa para Fei, para a fogueira acesa e para Fei novamente. O rapaz estava dormindo e ela não conseguia se livrar de uma sensação de estranheza perto dele, ao mesmo tempo em que parecia conhece-lo de algum lugar. Mesmo um tanto distraída com seus pensamentos, no entanto, ela ficou alerta ao ouvir alguém se aproximar, mas era apenas Citan, comentando em voz alta:
_ Não adianta. O atuador do joelho e o circuito de compasso estão arruinados. Posso consertar o atuador, mas o circuito tem que ser trocado... – foi quando ele percebeu que ela ainda não dormia e sorriu – Ah, está tendo problemas para dormir?
_ É... um pouco.
_ Eu imaginei que teria. Você teve um dia e tanto.
O cientista voltou-se para o Gear e disse, num tom casual:
_ Essa é a máquina que Fei usou quando a vila foi atacada. E havia outra máquina deixada nos limites da vila... Nil Bayer dars legus?
Elly voltou-se para ele, sobressaltada. Citan acabara de perguntar-lhe se a máquina era dela em sua língua! Diante de sua reação, ele acenou afirmativamente com a cabeça.
_ Como eu pensava... O piloto desaparecido do Gear que fez um pouso de emergência em Lahan e a garota misteriosa encontrada perdida na floresta são na verdade a mesma pessoa. E, a julgar pelo seu uniforme, eu também diria que você está com os militares. Estou certo?
Elly nem tentou disfarçar sua surpresa. Aquilo não seria de esperar de alguém que vivesse numa vila como Lahan.
_ Como...? Quem é você?
_ Eu verifiquei as plaquetas de identificação dos soldados que morreram no ataque a Lahan. O desenho das plaquetas e o do seu uniforme são os mesmos.
Ela pareceu abalada com a informação da morte do seu grupo, mas Citan a tranqüilizou:
_ Não se preocupe, eles tiveram funerais apropriados. Mas podem não ter ficado muito felizes por morrer numa terra estranha.
_ ... Talvez. –murmurou Elly, pensando no sentimento natural de repulsa entre seus companheiros e os ‘cordeiros’.
_ Fei já sabe de você?
_ Eu acho que... ele não percebeu ainda.
_ Provavelmente não. Fei não conhece nada do mundo fora de Lahan.
_ Entendo... A propósito, como você...
_ De qualquer modo, é melhor que nós não bisbilhotemos mais no passado um do outro.
_ Mas...
_ Vamos dizer apenas que eu sei um pouco mais sobre o mundo do que a maioria.
Elly não ficou muito satisfeita com isso, mas resignou-se. Citan dava um estranho ar de confiança ao tomar essa decisão e ela soube, por si mesma, que não conseguiria mais nada dele. E o doutor não terminara.
_ De qualquer modo, Elly... eu tenho que pedir um favor.
_... Favor?
_ Seguindo em frente, você vai alcançar uma estrada. Então, basta continuar em frente. Por favor, você poderia ir embora enquanto Fei ainda está dormindo?
Elly pareceu ainda mais surpresa, e Citan explicou:
_ Coisas infelizes ficam acontecendo em torno de Fei. Eu gostaria de protege-lo se possível... não quero que ele seja pego em nenhuma disputa inútil. E, também, digo isso em seu benefício, Elly. Você não pertence a este lugar. Volte para a sua família.
Tudo o que ele dissera era verdade, mas Elly relutou um pouco e Citan assegurou-lhe:
_ Não se preocupe. Não vou contar ao Fei sua verdadeira identidade. Vou dizer apenas que... você foi se encontrar com sua família.
_ Não, não é isso. É que... eu fiz algo terrível a ele... e queria me desculpar...
_ Algo terrível?
Elly baixou seus olhos, fixando o olhar nas mãos sobre suas pernas enquanto falava:
_ Fei me disse que era nossa culpa que sua vila tivesse sido destruída. Ele dizia, ‘se ao menos eles não tivessem vindo..’. Então, eu o chamei de covarde, porque ele estava tentando fugir da culpa. – e olhou diretamente para o doutor – Se eu não tivesse feito um pouso de emergência lá, eles ainda estariam vivendo em paz, agora. Todos aqueles inocentes não teriam sido pegos pela tragédia. Mas eu acusei Fei...
_ Você é uma raridade.
Elly percebeu que Citan sorria para ela com ar pensativo.
_ Eu não esperaria que o seu povo pudesse pensar assim. Para o seu povo, habitantes da superfície não são nada mais do que animais domésticos. Não é isso?
_ ‘Os pastores, “Abel” – citou ela – tomaram o controle sobre os “Cordeiros” da superfície, possuindo o direito de dar vida e morte a eles como lhes couber...’
_ Exatamente. Ainda assim, você parece se sentir responsável por Fei e pelo povo da vila. Por quê isso?
_ Eu mesma também não entendo... Em Jugend, me ensinaram que gente da superfície era estúpida e básica, e que é por isso que temos que controla-los. Mas...
_ Mas depois de conhecer Fei, algo nele fez você se sentir diferente?
_ Isso mesmo! – ela olhou para o adormecido Fei com admiração nos olhos – Ele não é diferente de nós... na verdade, parece até mais poderoso. Ele possui alguma coisa... algo que nós não temos. Ele até arriscou sua vida pra me salvar... duas vezes!
_ Muitos do seu povo sentiriam vergonha em admitir algo assim. No entanto, você é grata ao Fei...?
_ Provavelmente, é por causa do meu pai. – ela sorriu e deu de ombros – Ele tem uma mente aberta aos habitantes da superfície. Como a minha babá. E, além disso, eu sou igual ao Fei... – ela comentou meio que para si mesma.
_ Igual?
_ Não... nada. – ela percebeu que estivera pensando em voz alta – Esqueça.
_ Hmm, acho que entendo. Me desculpe. Afinal, acabei de dizer que não devíamos bisbilhotar. – deu um sorriso meio sem jeito – É a minha natureza, sabe? Minha esposa diz que eu sou muito persistente e que falo demais, mas pessoalmente, eu não acho que fale tanto.
Elly sorriu. Era mesmo estranho ver Citan sem jeito, como se não combinasse com alguém que sempre tinha respostas. Olhando de novo para o céu, ele concluiu:
_ Provavelmente, é melhor que você volte para a sua terra. Não devia mesmo estar aqui.
_ Sim, eu vou voltar para o quartel general. – disse ela, de pé. Mas ainda parecia preocupada – Mas, e então...
_ Você ainda está preocupada.
_ É.
_ A preocupação é natural. ‘Eu também costumo me preocupar, sabia?’ – ele citou de forma solene, deixando-a meio sem jeito. Por fim ele disse:
_ Bem, deixe que eu pense no que dizer ao Fei. É melhor você ir.
Elly acenou que sim e seguiu no rumo indicado por Citan. Ainda voltou-se uma vez, olhando para o doutor, para o Gear e para Fei antes de ir embora. Na manhã seguinte, Citan estava terminando de esconder Weltall quando Fei lhe perguntou;
_ Elly já foi?
_ Ah, então estava acordado?
_ É. Acordei no meio da conversa e ouvi parte do que vocês estavam falando. Então, é isso o que Elly é?
_ Bem Fei, ela é...
_ Eu sei. Não é culpa da Elly. O que houve na vila foi culpa minha. Eu descarreguei meus sentimentos em cima dela. Era eu quem devia pedir desculpas.
_ Não se culpe, Fei. Também não foi culpa sua. Só estava tentando proteger a vila.
_ Obrigado doc. Aliás, como o pessoal da vila está indo?
_ Não se preocupe, Yui está cuidando deles. Eu pedi a ela que partisse em breve e os levasse todos a um certo lugar. Por enquanto deverão estar em segurança. Basta que se preocupe com você agora. No momento, precisamos pensar no que fazer em seguida. Na minha opinião, seria melhor seguir para a cidade do deserto, Dazil. Podemos descobrir o que Aveh e Kislev estão armando, além de conseguir peças para o Weltall. O líder de Aveh não vai ficar sentado e deixar o fiasco da noite passada ficar impune.
Fei concordou e os dois tomaram o rumo da floresta que seguia para o deserto. Após uma certa caminhada e já nos limites da mata, um som de motores fez com que olhassem para o céu e vissem uma nave de guerra enorme aparecer entre as folhagens.
_ O que é aquilo...? – perguntou Fei.
_ Posso presumir que seja uma nave de batalha aérea de Aveh.
_ Nave aérea? Eu nunca ouvi falar de que Aveh tivesse nada como aquilo.
_ É claro que não é originalmente de Aveh. Provavelmente é pertencente às forças da Gebler posicionadas em Aveh.
_ Gebler?
_ Forças Especiais do Sagrado Império de Solaris, conhecidas como Gebler. Tenho certeza de que já ouviu falar sobre eles. São uma organização que providencia apoio militar de larga escala ao Reino de Aveh. Eles surgiram em Ignas há vários meses atrás. Até então, Aveh estava sofrendo a derrota frente a Kislev. Com o apoio da Gebler, no entanto, eles já recuperaram metade das suas perdas. Agora, estão expandindo o seu território e reunindo os recursos descobertos nas ruínas.
_ Sim... eu ouvi os mais velhos na vila falando a respeito. Elly é parte deles?
_ Possivelmente sim. O grupo deles tem poder e tecnologia superiores. Diz-se que estão aqui apenas para conseguir os recursos das ruínas. Na verdade, estou surpreso que estejam usando algo tão poderoso quanto aquela nave... Talvez seja para conter os recentes conflitos nas fronteiras.
_ Então, eles lutam contra o Império de Kislev?
_ Sim. Parece que descobriram novas ruínas no extremo norte de Aveh. E essas ruínas estão sob um templo de quinhentos anos de idade. Três semanas atrás, Kislev dominou as ruínas. Provavelmente estão lutando por isso.
Fei olhou para o alto, onde a nave da Gebler havia desaparecido, e a estranha e absurda idéia de ser obrigado a lutar com Elly no futuro cruzou sua mente. Sacudindo a cabeça para se livrar do pensamento, ele deixou a floresta.
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Xenogears *-* Empty
MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeQua Mar 10, 2010 12:28 am

Capítulo 4: Dazil

Fei ficou maravilhado diante do tamanho e da animação na Cidade do Deserto de Dazil. Citan explicou-lhe que aquele era o centro das escavações de todo o continente e que pessoas de toda a terra de Ignas iam até ali para conseguir as novidades que os serviços do “Ethos” descobriam na região. Ali, ele esperava que pudessem conseguir peças para substituir os danos em Weltall. Ao verificar na instalação do “Ethos”, no entanto, o doutor soube que apenas os mais avançados modelos militares usavam aquele tipo de circuito de compasso e que, sendo aquela uma oficina de Gears domésticos apenas, não teriam como consegui-lo. A despeito de serem más notícias, Fei sentiu-se aliviado e pediu a Citan para que conversassem em partícula. Sobre um dos arcos de pedra da cidade, ele perguntou:
_ Já que não pudemos encontrar as peças que precisamos pro Weltall, Doc, será que não podíamos apenas deixa-lo como está?
_ Não consertar Weltall? Qual o problema, Fei?
_ Bem, nós pudemos chegar até aqui por nós mesmos; logo, não precisamos tanto assim do Weltall. Pra falar a verdade, depois que as coisas esfriarem um pouco, eu estava pensando em voltar pra Lahan e ajudar na reconstrução. É... tudo o que eu sinto que posso fazer, agora.
_ Bem, se é isso o que quer Fei, então está ótimo – respondeu Citan com uma expressão pensativa voltada para a cidade – Mesmo assim, acho que devíamos tentar levar Weltall para tão longe quanto possível.
_ Leva-lo pra longe...? Mas por quê, Doc?
_ Eu estou apenas presumindo, mas suspeito que o incidente daquela noite aconteceu porque uma força especial da Gebler roubou um Gear militar de Kislev.
_ Força especial? Está falando do grupo da Elly?
_ Exatamente. Quando examinei o Gear avariado na vila, eu percebi que o piloto da Gebler estava pilotando um Gear de Kislev. Devia haver alguma nova tecnologia envolvida nisso para o exército de Kislev enviar forças de perseguição atrás dele.
_ Nova tecnologia...?
_ Eu suspeito – Citan ainda meditava de cabeça baixa, e concluiu o raciocínio olhando para Fei – que a força Gebler estava tentando roubar um novo Gear experimental. Tenho certeza de que notícias do fracasso já chegaram à capital. Eles vão investigar a área de Lahan para reclamar qualquer peça do novo Gear que possam achar.
_ Espere aí, Doc! O exército de Kislev não vai estar em Lahan, também?
_ Muito provavelmente. E, neste caso, haverá conflito entre o grupo de inspeção de Aveh e as tropas de perseguição de Kislev. Se descobrirem onde escondemos Weltall...
_ Os exércitos vão lutar pra ver quem fica com Weltall – percebeu Fei – e tudo isso próximo a Lahan.
Citan acenou afirmativamente com a cabeça e concluiu:
_ E, para evitar qualquer problema, devemos levar Weltall para outro lugar o quanto antes.
_ Mas... não teremos como conserta-lo para levá-lo embora.
_ Sim... mas ficar aqui, parados, não vai nos ajudar em nada. Felizmente, este é o centro de toda a escavação deste país. Deve haver informações de onde podemos conseguir peças por aqui. Basta procurarmos.
Após uma busca pouco frutífera pela cidade, eles voltaram aos portões e Citan viu um veículo de quatro rodas que Fei não conhecia, e pareceu ficar animado.
_ Aquilo é um buggy de areia! Hmm, isso me dá uma idéia!
_ ‘Buggy de areia’?
_ É um carro com pneus que não afundam, ideal para travessias no deserto. É perfeito!
_ Como assim, perfeito? O que quer dizer, Doc?
_ Apenas deixe comigo, Fei. Vou alugar o buggy. Espere aqui.
Fei realmente não estava entendendo nada. Citan obviamente sairia rumo ao deserto, mas o motivo não estava bem claro. Quando o estudioso apareceu, subindo no buggy, o rapaz perguntou:
_ O que vai fazer afinal, Doc? Uma escavação, ou coisa parecida?
_ Não Fei, nada disso. Lembre-se que esta é uma área disputada, onde Gears militares de Aveh e Kislev estão sempre em combate. Se procurar pelo deserto, posso encontrar peças remanescentes destas batalhas ao redor da cidade, até posso encontrar as peças que precisamos para Weltall.
_ Mas Doc, encontrar peças de reposição caídas no meio do deserto...!
_ Não seja tão pessimista, Fei! Temos que tentar alguma coisa! Por quê não mata algum tempo do bar, enquanto eu procuro? Não devo demorar.
E saiu no buggy, deixando o indeciso Fei para trás. Mal o buggy deixara a cidade e desaparecera deixando atrás de si uma nuvem de pó, o dono da locadora saiu esfregando as mãos e disse-lhe:
_ Ei rapaz, aquele homem é seu amigo? Como é que pôde deixa-lo sair sozinho para o deserto? As coisas estão feias lá fora, com Aveh e Kislev lutando de um lado e os Piratas da Areia aparecendo de repente e pegando os vencedores das lutas. Devia ir atrás dele. O deserto anda mais perigoso do que nunca.
Fei já estava inquieto o bastante sem ouvir aquilo. Sem mais, mesmo sem saber ao certo o rumo que Citan tomara, ele deixou a cidade e se embrenhou no deserto.
A sorte, se é que podia se chamar assim, parecia estar com Fei. Seguindo rumo a noroeste e embrenhando-se mais ainda no deserto, ele não tardou a ver dois Gears cobrindo as distâncias com saltos longos. Preocupado com Citan e com o rumo dos Gears, ele decidiu segui-los como pudesse. Com a distância no deserto parecendo maior, no entanto, e com a facilidade dos Gears em moverem-se, ele não tardou a perde-los de vista. Ainda seguia em linha reta, presumindo que eles manteriam o curso, quando tudo à volta pareceu tremer. Uma sombra enorme pareceu cobrir o deserto e ele viu, admirado, uma forma circular muitas vezes maior do que a nave de batalha da Gebler cruzando o céu. Ela parecia cercada por luzes brilhantes e deixou uma sensação de vulnerabilidade no rapaz. Que mundo era aquele em que vivia, onde Gears eram o que havia de menos impressionante para se ver?
Pensando em Gears, ele notou logo uma segunda unidade do mesmo tipo que estivera seguindo rumando na mesma direção que o disco voador gigante. Apesar do cansaço, Fei procurou segui-los de forma a não perder seu rastro e imaginou consigo mesmo até onde o Dr. Uzuki fora. Seguiu por uma boa parte do deserto a pé, a ponto de começar a escurecer e ele se perguntar:
_ Esse deserto não termina nunca? É melhor eu me apressar, ou vai escurecer e...
Mais motores, menores que os dos Gears ou que o estrondo do disco voador, e Fei viu um grupo de soldados de Aveh cortar o deserto em motocicletas, o que o deixou se perguntando se Citan estaria bem numa tarde tão agitada em meio ao deserto. Quando uma das motos inadvertidamente veio em sua direção ele resolveu agir. Saindo de trás da duna e assustando o piloto, Fei conseguiu derruba-lo e à sua máquina, subindo nela e desculpando-se:
_ Hã, desculpe por isso. Me deixa emprestar isso aqui por um tempinho!
A travessia ficou mais simples com a moto, apesar de ainda haver uma longa extensão a ser percorrida. A noite já estava presente quando Fei ouviu um som em meio à areia e parou, imaginando que podia ser Citan. Ao invés disso, um dos Gears de Aveh pousou bem ao seu lado e o viu. Ao tentar fugir, ele terminou sendo cercado por um segundo Gear e viu que suas opções eram poucas.
_ Ora, o que é que há com vocês, caras? Não vão exagerar só por causa de uma motocicleta...
Um dos Gears ergueu o punho e talvez tivesse encerrado a história aqui, não fosse um ataque súbito que derrubou um dos Gears e afastou o outro, pressagiando o retorno de Weltall e com um aliviado Dr. Citan nos controles.
_ Fei! Eu o estive procurando por toda a parte!
_ Doc! Você está bem?
_ É claro que sim... – olhou para o lado e viu os Gears inimigos se reerguendo – Parece que não temos tempo para bater papo. Depressa, Fei!
_ Depressa o quê?
_ Eu não posso usar Weltall muito bem! Só você pode usa-lo a plena força... Se apresse e suba a bordo!
E não deu margem para discussões, saltando da mão aberta do Gear e deixando espaço para que Fei, ainda relutante, embarcasse. Apesar da incerteza do rapaz, no entanto, a luta foi realmente simples, limitando-se a uma rajada do Tiro Guiado em um dos inimigos e a opção automática do Raigeki no segundo. O próprio Fei surpreendeu-se com o desfecho rápido da luta.
_ Eu não sei como... mas venci!
Foi quando um riso rude e alto se fez ouvir à sua frente e o rapaz instintivamente ficou alerta, como se sua vida estivesse por um fio. Os monitores de Weltall encontraram sobre uma escarpa saliente no deserto um imponente Gear de bronze que ele achava já ter visto antes delineado ante a lua. E, no ombro dele, um estranho homem vestido de preto e com uma máscara estranha a esconder-lhe o rosto. Um homem estranhamente familiar que lhe falou com uma voz abafada:
_ O desejo de seu sangue quente pela batalha não foi domesticado, pelo que vejo.
_ Quem é vo...
Foi quando um lampejo de memória pareceu acontecer. O homem não lhe era estranho.
“Espere... eu sei! Eu conheço você! – pensou Fei – Foi você quem a matou!”
Então ele percebeu que falava de alguém, mas não conseguia lembrar-se de quem. E o crucifixo tornou a agitar-se em sua mente, quase retinindo ao brilhar com a luz. Fei era novamente um menino, com uma expressão perplexa e manchada de sangue e uma sensação inequívoca de culpa, de que algo grave acontecera por sua causa.
“Não... não fui eu. Foi culpa sua. Foi você, não eu, quem...”
“Covarde.”
Uma segunda voz estranhamente familiar falou em sua mente e o menino Fei levantou seus olhos. Havia uma silhueta escura à sua frente, parada, parecida demais consigo mesmo. Abrindo os olhos, Fei lembrou-se:
_ Você... é o mesmo de... Lahan!!
Citan procurou ganhar alguma distância, pensando ‘Aqui vamos nós de novo!’, e o homem no ombro do Gear revelou-se:
_ Meu nome é Grahf... Aquele que busca o poder. Você com certeza mostrou quanto poder tinha naquele episódio em Lahan, não foi Fei?
_ Quanto poder eu tinha? Do que está falando?
_ Um poder maior... é do que eu preciso para cumprir minha missão. Enviei aqueles Gears para a sua terra como um catalisador para despertar o poder em você... para fazer contato.
_ Como catalisador?! Quer dizer que fez aquilo de propósito?!
_ Isso mesmo – concordou Grahf calmamente – A morte das pessoas a quem amava, e a sua incapacidade contra o acontecido... A angústia, os gritos do seu coração, nascidos da tragédia... Estes foram os catalisadores para disparar seu poder.
Fei nem percebera, mas Weltall estava em posição de guarda. O rapaz não se conformava com o que estava ouvindo.
_ Quer dizer que atacou a minha vila só pra me fazer subir neste Gear?! Por quê? Por quê o povo da vila teve que morrer?!
_ Quem liga para o porquê! – retrucou Grahf com desprezo – Não faz diferença quantos deles morreram... Eram apenas vermes, apenas vivendo um dia depois do outro sem sequer cumprir seus destinos apropriadamente! E, por acaso esqueceu? Foi você quem destruiu a vila. Eu não ergui um dedo.
_ Não!! Eu só estava tentando salvar a vila e seu povo! Eu nunca quis destruí-la!
_ É mesmo? Com certeza você já ouviu? É a sua própria essência... a voz de seu desejo interior que clama pela destruição.
_ Cale-se! Mesmo que fosse verdade, não foi você pra começar quem a provocou?! Se você não tivesse vindo, a vila não sofreria da forma como sofreu!
_ Ah, então agora você recorre à acusação? Entendo... Parece algo que ‘você’ diria. Isso é bom. Sua natureza básica permanece inalterada.
_ Desgraçado...
Fei estava furioso. Então, ocorreu-lhe algo que o estranho dissera antes:
_ Você disse que precisa do meu poder? O que pretendia fazer com ele?!
_ Você sabe muito bem... É destruir... a deusa mãe...
_ D-destruir Deus?
_ Sim, vamos destruir Deus. É o nosso propósito... o nosso destino!
_ Não seja ridículo! Eu não vou me envolver numa coisa dessas! Se quer destruir seu deus, ou seja lá o que for... faça isso sozinho!!
_ Há, há há... você se parece com o seu pai.
_ Meu pai...? – aquilo pareceu jogar um balde de água gelada sobre Fei. De onde Grahf conhecia... – Meu pai? Você conhece o meu pai?!
_ Aquele foi... um grito muito agradável. Eu fiquei enlevado por ele. Nada é mais belo do que um grito de morte.
_ O que é que você fez com o meu pai?! O que houve entre vocês dois?!
_ Hmpf, quer mesmo saber? Não há utilidade em deixa-lo saber agora.
_ O quê?!
_ Seu poder ainda está abaixo do necessário para os meus propósitos. Qualquer coisa imprestável deve ser testada até que se torne útil.
Diante da incerteza de Fei com aquilo e do recuo de Citan, as areias agitaram-se com um comando de Grahf e não demorou para que um enorme Verme da Areia se erguesse entre Weltall e a rocha onde Grahf e seu Gear estavam.
_ O que, diabos, é isso?
_ O que vai fazer, Fei? Se vai morrer aqui, que seja – disse Grahf – Você obviamente pode conseguir alguma felicidade em não saber. Mas, certamente, não é isso o que quer...? Se quiser saber a verdade... e é isso o que quer, não Fei... então, é isso o que tem de fazer: deve me mostrar que alcançou o nível de força de que necessito. Para fazer isso, você deve destruir aos outros usando sua própria força! E então, vai conseguir tudo o que se perdeu em troca daquele grito de morte! Há, há há há há!
Dito isso, Grahf e seu Gear de bronze decolaram. Fei queria que ele falasse mais, mas o Verme da Areia atacou Weltall com suas presas, sólidas e nascidas para abrir trilhas nas dunas de areia. Mesmo um Gear bem construído como Weltall podia ser danificado por aquilo e Fei não tardou a ver-se em maus lençóis e perdendo Grahf de vista.
O verme enrolou as pernas de Weltall e derrubou-o, como uma enorme serpente. Fei procurou golpeá-lo, mas a pele do Verme da Areia era resistente demais para os ataques de Weltall naquela situação. Pior ainda, o verme subitamente agarrou-se às mãos de Weltall e cravou suas mandíbulas nas costas do Gear, e Fei percebeu que o monstro estava bebendo o combustível de sua máquina. Já ouvira antes falar de criaturas que retiravam o combustível de Gears que atacavam, mas nunca pensara que eles o bebessem. Pior ainda; se aquilo continuasse, Weltall em breve ficaria imóvel, sem que seu piloto pudesse se defender. Por mais que insistisse nos comandos, no entanto, não havia como mover os braços ou as pernas do Gear e o verme continuava a beber. Maldito fosse aquele Grahf! E, no entanto, talvez o melhor realmente fosse terminar ali, da forma que estava. Não tornaria a causar calamidades como a de Lahan, e acabaria a necessidade de esconder Weltall...
Mas havia mais nele, algo que não aceitaria morrer daquela forma. Ainda que o Gear estivesse preso e com cada vez menos combustível, a Máquina Amplificadora de Ether de Weltall continuava a funcionar, independente do combustível. Apenas a energia de seu Chi bastava para que aquilo funcionasse, e o verme não podia priva-lo dela. As mãos de Weltall estavam presas, mas Fei ainda pôde agarrar o pescoço do verme com elas e concentrou-se. No ato, o Gear começou a reunir energia diante de seus dedos.
_ Tiro Guiado!
Ao comando de Fei, Weltall libertou a energia acumulada num jorro de Chi que superaqueceu o pescoço do Verme da Areia e o combustível que fluía por ele, para dentro. Seguindo o rumo da sucção, o combustível inflamado seguiu até o estômago do monstro e explodiu lá dentro, encerrando a batalha.
_ Fei! Fei, você está bem?
A voz de Citan foi a primeira coisa de que Fei se deu conta depois de ter posto Weltall de pé. Respondendo meio que mecanicamente, ele abriu a cabine e desceu aborrecido.
_ Estou ótimo... mas o Gear parece quebrado...
_ O Gear sofreu apenas reparos temporários. Não foram feitos para sobreviver a uma batalha como aquela... mas estou muito feliz que você esteja ileso!
Fei não respondeu, permanecendo pensativo e de cabeça baixa, o que não passou despercebido a Uzuki. Antes que ele perguntasse, no entanto, dois Gears apareceram e os cercaram.
_ Essa não! O exército de Aveh! Logo agora...!
Citan estava bem a par da situação delicada em que estavam e disse devagar:
_ Em primeiro lugar, Fei, temos que manter a calma... Hã?
Fei continuava na mesma situação que antes, como se não tivesse visto os recém chegados. As chamadas de Citan também não pareceram desperta-lo e tanto ele quanto o Dr. Citan e Weltall foram embarcados num Transporte de Areia de Aveh.
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeQui Mar 11, 2010 12:55 am

Capítulo 05: Ataque no Deserto

Era uma noite de tempestade violenta, que parecia terrivelmente familiar a Fei. Estava em alguma mata desconhecida e tudo o que estava claro à sua volta era o mato sendo agitado pelo vento e os relâmpagos furiosos no céu.
De repente, ele sentiu três presenças poderosas. Virando-se na direção delas, o rapaz viu duas auras vermelhas agressivas familiares e uma terceira aura, azul e nobre, no meio das duas. Apesar de não conhecer seu dono, ele parecia ainda mais familiar do que os outros dois. O primeiro homem então falou e Fei reconheceu nele a voz velada e a aparência assustadora de Grahf.
_ Vamos nos unir, agora.
O segundo homem, da aura azul, era obviamente um rival de Grahf e do rapaz que o acompanhava. Sua postura de defesa era semelhante às de Fei ou Weltall e ele respondeu com voz firme:
_ Eu nunca imaginei que estaríamos juntos novamente, desta maneira. Que irônico.
Um trovão soou à distância e Fei pensou ver um relance do rosto do homem: severo, com o cabelo da mesma cor e preso à mesma maneira que o seu e um bigode. O homem parecia cansado espiritualmente, com a cabeça baixa. Mas seus olhos eram firmes quando ele tornou a ergue-los, fitando o rapaz à direita de Grahf.
_ Mas eu nunca deixarei que você fique com ele... mesmo que eu tenha de morrer por isso!
O rapaz que acompanhava Grahf tinha seu rosto meio encoberto pelos longos cabelos ruivos desalinhados, como se o caos fosse parte de seu ser, e ele sorriu diante das palavras do homem severo. Houve mais um trovão, e tudo desapareceu.
A próxima coisa de que Fei teve consciência era de que a cama onde estava não lhe era familiar, e que não estava sozinho. Citan o fitava com ar preocupado.
_ Como está, Fei? Você dormiu bem?
_ Hã...? Ah, bem... ou algo assim...
_ Me desculpe ter confundido tudo, Fei. Fui muito descuidado, aquele Gear é um modelo experimental altamente secreto de Kislev... era natural que Aveh também estivesse procurando de forma tão afobada por ele.
Fei ainda não reagiu e Citan notou nele a mesma atitude posterior à morte do Verme da Areia, e isso não o agradou.
_ Está ferido, Fei? Você não parece muito bem.
_ Bem... acho que você poderia dizer que eu fui ferido...
Citan lembrou-se de tudo o que acontecera e tudo o que ouvira e indagou:
_ Aquele homem de preto falou do destino do seu pai... É isso o que está errado?
Fei concordou com a cabeça.
_ É isso também, mas... também tem a outra coisa que ele disse...
Citan obviamente não entendeu e Fei explicou:
_ O que houve em Lahan... Tudo foi planejado pra me fazer pilotar aquele Gear... ou foi o que ele disse. Isso me deixou preocupado.
_ Fazê-lo pilotar o Gear?
_ Antes da vila ser destruída, Doc, eu vivia sem duvidar de mim mesmo. Mas agora, tudo está diferente. Eu... não sei quem sou. Nunca me senti assim antes...
Citan percebeu o estado de seu jovem amigo e pensou consigo mesmo, mas procurou contornar a situação:
_ Bem, não podemos fazer nada enquanto formos prisioneiros, mesmo que quiséssemos fazer. Vamos descansar um pouco. Talvez isso tranqüilize um pouco seus sentimentos.
Fei balançou a cabeça em negativa. Ainda havia mais, Citan percebeu, e perguntou:
_ Está preocupado com seu pai?
_ Tudo o que eu sei é o que as senhoras na minha casa em Lahan me contaram... Uma noite, um estranho mascarado me carregou até Lahan. Eu estava seriamente ferido naquele dia. No meu delírio, eu chamei pelo meu pai... É tudo o que elas puderam dizer sobre o meu passado. Não lembro de nada sobre o meu pai ou o meu passado. Então, acho que não sou assim tão solitário ou triste... – então ergueu o rosto e perguntou diretamente a Citan – Doc, por que eu não tinha percebido que não tinha lembranças até agora?
Citan não teve como responder a isso e Fei deitou-se, olhando para o teto enquanto pensava. Isso deu a Citan espaço para colocar seus próprios pensamentos em ordem:
“Era ele! Sem engano nenhum... Isso não foi coincidência... Será que estamos nos aproximando... da ‘Hora do Gospel’...?”
Em sua mente, Citan Uzuki recordou-se de uma outra ocasião em um outro lugar. Ele estava diante de um trono que não parecia estar sobre qualquer tipo de piso, assim como a plataforma onde o doutor estava. Uma figura ancestral de expressão cadavérica, como uma caveira, confirmou:
_ Sim, ‘O Gospel’. Nós somos o povo expulso do paraíso e forçado a viver na superfície cruel da terra. Nós, que povoamos esta terra, retornaremos mais uma vez à presença de Deus no paraíso e viveremos lá eternamente. Esta é a ‘Hora do Gospel’. Esta hora está ao alcance da mão. Nós, os Gazel, devemos encontrar o lugar de descanso de Deus para então ressuscitá-lo. Esta é nossa prece final...
_ Nossa prece final? – perguntou Citan.
_ Nossa prece final para fugir do ‘Destino’ que foi determinado em nossa gênese. – Respondeu o Imperador Cain.
Ainda pensando profundamente, apesar de ser um homem da ciência, Citan Uzuki olhou para o seu amigo, que olhava pela escotilha, e não pôde deixar de sentir um calafrio.
“Majestade... isso é o fim...?”

Em outra parte, um som de motores fortes também estava presente, embora modernos e potentes abafadores de som estivessem em uso. Mas o rapaz gostava daquele murmúrio. Era como se tudo à sua volta estivesse vivo na presença do som. Olhando pelo periscópio, ele localizou o que procurava.
_ Bingo! Como dizia o relatório... um transporte de Aveh. E olhe o que nós temos em cima...!
Um toque rápido num botão e o periscópio aproximou a imagem. O transporte de areia ficou bem mais visível, bem como o Gear negro sobre ele.
_ Sem enganos! – comentou o rapaz, satisfeito – É um novo modelo de Kislev! Tem que ser o Gear roubado de que todo mundo está atrás!!
O rapaz era loiro, seu único olho fora do tapa-olho de pirata era azul e seus cabelos longos estavam presos. Com ar de satisfação, ele tirou o rosto do periscópio e comentou, para ninguém em especial na cabine de comando:
_ Seja qual for o caso... Não podemos deixar aquele sujeito, Shakhan, ficar com ele... – recolheu o periscópio e sua voz se tornou mais alta, assumindo um tom de comando:
_ Artilheiro!
Pelo intercomunicador na ponte, veio a resposta:
_ Torre A ‘Anton’ e torre B ‘Belta’ podem iniciar seus ectropômetros vinte segundos depois de abrir suas escotilhas.
_ Franz! – o rapaz voltou-se.
_ Não ouço nada além do som da areia correndo... nenhuma atividade de radar suspeita detectada!
_ Marseilles! – chamou o rapaz, tomando posição junto ao leme.
_ As unidades de Maitreya estão a postos nas catapultas. Serão capazes de lançar um minuto depois de re-emergirmos!
_ Bom. Vamos lá, então. – ele estava muito satisfeito. Como de costume, sua tripulação funcionava como um relógio. Agarrando o timão, ele declarou:
_ Estação de Batalha 1!
As lâmpadas comuns se apagaram, substituídas pelas vermelhas do estado de alerta. Pelo comunicador vinham as vozes de seus comandados:
_ Combate de superfície, pronto!
_ Sala de torpedos, pronto!
_ Armas Anti-Gear, pronto!
_ Navegação e Engenharia, prontos também!
Ele também estava pronto. Atrás de si, a porta de acesso à ponte abriu-se e um velho com modos e roupas de mordomo entrou afobado, perguntando:
_ J-jovem mestre, o que está havendo? Para quê todo este alarde...
Logo atrás dele entrou um rapaz pouca coisa mais velho que o ‘jovem mestre’ e, inclusive, com uma espantosa semelhança física em relação a ele. Tinha a mesma cor no único olho e um tapa-olho a cobrir o outro,embora seu olho cego fosse o direito e o do rapaz fosse o esquerdo. Seus cabelos eram brancos, bem como o resto de suas roupas, e ele pareceu desanimado ao perceber o que estava havendo:
_ Ah, de novo não...? Jovem mestre, espere um segundo!
O rapaz loiro pareceu nem ouvir, com as mãos firmes no timão e ainda comandando:
_ Todos, estações de batalha! Navegação de superfície, comecem a operar a bomba de areia! Preparar para disparar canhões de estibordo assim que emergirmos!
_ Jovem mestre!! – chamaram os dois recém-chegados às costas dele, sem sucesso, pois ele continuou:
_ Direto para a direita! O vento está forte lá em cima e podemos perder o equilíbrio com ele! ... Jerico! Entregue-me o leme!
O comando da navegação foi passado para o timão principal, e o ‘jovem mestre’ assumiu o comando. No transporte de Aveh, Citan e Fei viram algo pela escotilha de sua cela: como uma grande baleia da areia, um veículo enorme de metal prateado apontou para fora das dunas, desenterrando seu nariz para depois saltar imponente para a superfície, e Citan admirou-se:
_ Um cruzador de areia... Devem ser aqueles piratas do deserto!
O cruzador corria paralelo ao transporte agora, seus canhões voltando-se na direção dele. Uma salva de tiros começou então, enquanto uma voz soava na ponte de comando:
_ Alternando fogo entre ‘Anton’ e ‘Belta’! Calculando ajustes!
O rapaz deu um brado de satisfação, tudo estava indo perfeitamente.
_ Alternar modos entre as salvas depois dos tiros iniciais! Vamos atrasa-los. Preparem-se para dar neles uma surra que eles jamais esquecerão!
_ Jovem mestre, por favor, espere! – interveio o mordomo – Pode ser apenas um navio de requisição, não uma fragata de guerra...
_ Deixe que eu cuide disso – retrucou ele – Seja ou não um navio de guerra, está levando um Gear novo! Artilheiro! Peguem eles!
E mais uma salva de tiros começou. Em sua cela, Fei e Citan sentiram o tremendo abalo e também viram sua cela inclinar-se para a esquerda depois do segundo abalo.
_ A julgar pelo ângulo... – comentou Citan, preocupado – me parece que um disparo explosivo fez um buraco no casco. Provavelmente vamos afundar em minutos.
_ Em minutos...? Doc!
Citan correu para a porta, mas ela não abria.
_ Está trancada... alguém nos liberte!
Como que para responder aos gritos do catedrático, mais um disparo fez o transporte estremecer e a porta abriu-se para dentro, deixando muita areia entrar consigo. Tomando a frente e esforçando-se para ultrapassar o fluxo da areia, Fei disse:
_ Vamos cair fora daqui, Doc!
Citan indicou o fim do corredor, desaparecendo depressa sob a areia, onde uma escada conduzia para o nível superior. Mais do que depressa ele e Fei rumaram para lá, com dificuldade devido à areia, mas esforçando-se para se mover. Por fim, conseguiram agarrar-se aos degraus e escalaram a parede até o piso seguinte.
A situação dos motores era irreversível. Havia fogo e areia por toda a parte e Citan disse:
_ Precisamos chegar ao convés de qualquer maneira! O incêndio vai causar explosões menores que vão abrir mais buracos no casco e aumentar a entrada de areia até que tudo isso desapareça! Precisamos encontrar Weltall e sair daqui antes disso!
E eles subiram tão depressa quanto foi possível, com as explosões à sua volta apenas aumentando o calor e diminuindo o ar respirável enquanto a areia continuava a entrar e o piso de metal ficava mais e mais aquecido e já começava a ruir em alguns pontos. Por fim, em meio à subida difícil e aos soldados e recrutas de Aveh que os dois encontraram em meio à subida, confusos demais com tudo e ainda tentando recapturar os dois, Fei e Citan conseguiram alcançar o convés do transporte. Ao sair para o ar exterior, no entanto, Fei percebeu que estava sozinho.
_ Doc? Onde é que você está doc?!
_ Acalme-se, Fei. Eu estou no controle do guindaste – soou a voz de Citan por um fone do convés – Eu vou move-lo até o cockpit de Weltall. Aproveite e escale o guincho para alcançar a cabine, depressa! Estamos afundando muito rápido!
_ Entendido, Doc! Mas, quando tiver terminado aí, procure se apressar, tá?
O guincho moveu-se até onde o Gear estava e Fei procurou escalar como podia. Com esforço, ele conseguiu chegar até o cabo de aço que descia até a entrada da cabine de Weltall e não conseguiu reprimir um comentário pensativo ao olhar para o Gear que afundava lentamente:
_ Aí vamos nós de novo... parece que você e eu estamos destinados a ter um relacionamento!
Citan esperava no alto do convés quando Weltall aproximou-se, já sob o comando de Fei. Sem tempo para abrir a cabine, o rapaz estendeu a mão do Gear e, assim que Citan subiu, ativou os jatos e saltou para longe do transporte que afundava. Pousando nas proximidades, ele deixou que Citan descesse antes de perguntar:
_ Você está bem, Doc?
_ Bem, Dr. Citan Uzuki! – riu o outro, inclinando-se para a direita e a esquerda – Parece que você sacudiu suas saculas e apertou seus utrículos o suficiente para uma vida! Uau!
_ Desculpe por isso, Doc – lamentou Fei – Eu não tive tempo de abrir o cockpit...
_ Fei, eu só estava brincando. Andar na mão não foi tão ruim. Posso dizer isso ao ver como você maneja bem uma máquina experimental altamente secreta.
_ É, por falar nisso, quando eu o liguei, começou a fazer todo o tipo de coisas sozinho... O sistema de resposta ambiental e a navegação de redução de peso dispararam... automaticamente! – comentou Fei, olhando surpreso para o painel diante de si.
_ É mesmo...? Isso é fantástico...!
Foi quando ambos ouviram uma voz desconhecida vindo de trás deles, dizendo:
_ Salvam a si mesmos, mas deixam seus amigos afundarem num mar de areia... Vocês não acreditam em camaradagem?
Citan e Fei se voltaram para ver quem falava e depararam com um Gear vermelho e alto rodeado por outros dois Gears menores. O cruzador de areia pirata aparecia ao fundo e o que mais chamou a atenção de Fei foi o fato do Gear vermelho ter um tapa-olho sobre seu visor esquerdo. Fora dele que viera a voz que ouviram, e que tornou a falar:
_ Não é muito humano de vocês dois deixarem seu pelotão morrer enquanto fogem num Gear, sabiam?
Os outros dois Gears se afastaram a um gesto do Gear alto e Fei percebeu que ele estava se preparando para lutar. Apesar de se colocar prontamente em guarda a bordo de Weltall, ele ainda tentou explicar:
_ Espere um momento! Nós não somos soldados de Aveh!
_ Hm. – fez o pirata – Não pode fazer um apelo melhor pela sua vida? Vocês saem de uma nave de Aveh e dizem que não soldados de Aveh! Sem essa de tentar me enganar!
_ Eu estou dizendo, é verdade!
_ Tsk. Como pode ser tão patético? – perguntou o entediado pirata – Mesmo que seja o mais fracote dos soldados, que tal mostrar um pouquinho de audácia e me dar uma luta decente?
_ Pare com isso! - Fei se lembrava de Grahf e do que acontecera em Lahan, e temia que o Gear ou ele próprio tornassem a sair do controle - Eu estou dizendo que não sou um soldado! Eu não quero lutar!
_ Que nauseante! Por quê não pára de resmungar, sai do Gear e foge de uma vez?
Para enfatizar a idéia, o pirata investiu com o Gear vermelho e atacou com os chicotes embutidos em seus braços. Apesar da surpresa e de realmente não ter amores por Weltall ou coisa do tipo, Fei não pretendia simplesmente sair como o outro sugeria. Quando o primeiro chicote caiu, Weltall moveu-se para a esquerda e evitou o golpe com a mão. O segundo golpe foi devidamente bloqueado pelo antebraço de Weltall, que recuou e tornou a parar em postura de defesa. Fei e seu Gear não haviam sofrido um único arranhão, o que não deixou de surpreender o pirata.
_ Pra alguém que não quer lutar, você é bem poderoso... – deu uma avaliação visual no Gear negro à sua frente e comentou – Já entendi... um modelo pra qualquer terreno, hein? Agora é que eu o quero mesmo!
Cobrindo seu rosto com os punhos, o Gear vermelho revelou o único visor livre de repente e um clarão atingiu Weltall. Fei reconheceu nisso um ataque de Ether como o seu Tiro Guiado, e percebeu espantado que a câmera de Weltall estava defeituosa. Diante da surpresa, ele não teve como impedir que o ataque seguinte do chicote do Gear vermelho o derrubasse. E a voz metálica soou pela cabine:
_ Aviso: ataque de Ether do inimigo comprometeu visores e movimentação desta unidade. Sistemas de auto-reparo trabalhando, tempo estimado de recuperação: quarenta e três segundos.
_ É tempo demais pra esperar. Muito bem – e procurou ficar de pé, movendo a alavanca de combustível para o modo ‘turbo’ – vamos agüentar até lá!
Com a aceleração, Weltall superou a lentidão causada pelo ‘Sorriso Selvagem’ do pirata e reagiu instintivamente, ouvindo com atenção o movimento do Gear vermelho. Golpeou uma vez à esquerda às cegas, encontrando o vazio, um segundo golpe à direita também não encontrou nada e Weltall foi atingido por trás pelos chicotes do outro. Mais do que depressa, Weltall voltou-se e agarrou os cabos dos chicotes, puxando o Gear vermelho para si e atingindo-o com o pé, derrubando-o.
O pirata ficou surpreso. Depois do ataque de Ether, o outro deveria ficar cego por algum tempo; deveria estar cego até então, mas conseguira agarra-lo e derruba-lo, e sem dúvida o golpe certeiro acrescentara um ‘Nível de Ataque’ em sua máquina.
_ Até que esse cara não é ruim... – sorriu ele, movendo seu Brigandier para deixa-lo de pé – mas vamos ver se ele gosta disso!
Todo o Gear de combate acumulava energia para golpes mais potentes em modo automático, o que era chamado ‘Nível de Ataque’. Era como o golpe Raigeki que Fei descobrira durante a luta com o Rankar, mas o Brigandier do pirata também tinha seus recursos. Enquanto os monitores de Fei estavam quase normalizados, Weltall foi atacado pelo Nível 1 do pirata.
_ Chicote em Cadeia!
Ainda avançando, o Gear vermelho girou sobre si mesmo e seus dois chicotes atingiram Weltall num único movimento, para caírem novamente sobre ele depois. A perda do equilíbrio fez o Gear de Fei cair sobre um dos joelhos, mas sua visibilidade voltara e novamente ele e o Gear agiram como uma coisa só. Diante da surpresa do pirata que já julgava a batalha vencida, Weltall ficou de pé, evitou um contragolpe dele abaixando-se e subiu de repente, pegando sua cabeça desprotegida com um soco por baixo em gancho, o que jogou o Gear vermelho para trás e no chão de forma pesada. Só depois do movimento Fei se deu conta do que fizera, movendo Weltall de forma eficiente e fluida como se fosse o seu próprio corpo, e a voz metálica do painel tornou a dizer;
_ Nova seqüência de ataque automático registrada e transferida para o banco de dados. Denominação ‘Reppu’.
O quê? Fei não se lembrava de dar qualquer nome que fosse... de ter adicionado nada. Mas tudo isso teria que esperar, pois com a queda pesada do Gear vermelho, as areias por toda a parte começaram a tremer mediante a surpresa de Fei e o aborrecimento evidente na voz do pirata.
_ Essa não! Isso não é nada bom! – tanto Weltall quanto Brigandier começaram a afundar depressa na areia e o pirata praguejou – No calor da batalha, fiquei preso na areia movediça! Logo eu, entre todas as pessoas...! Isso é tudo culpa sua!
_ O quê?
_ Cara, você vai levar mais tarde. Então, se prepara!
Mas, com ou sem reclamações, nenhum deles teve como evitar que a areia tragasse a ambos e os dois Gears desapareceram nas areias.

Fei não podia acreditar que ainda estava vivo. Depois de afundar, Weltall acabara ressurgindo em um amplo salão natural por onde areia entrava em filetes vindos do teto, e não era completamente escuro.
_ Ei, desce aqui um pouco! Eu não vou te matar!
Ele procurou pela voz e viu, pelos monitores do Gear, que o Gear vermelho estava logo ao seu lado e o piloto descera. Estava chamando-o lá de baixo e Fei resolveu descer também. Queria mesmo ver o tipo de pessoa que o fizera parar ali.
_ Escuta, tudo o que eu quero – o outro estava falando lá embaixo, enquanto Fei abriu seu cockpit e desceu – é que você deixe este Gear...
O pirata silenciou subitamente ao ver o rapaz civil diante de si e recuou, visivelmente surpreso.
_ Ei... você não é um soldado de Aveh!
_ Eu disse isso antes, durante a minha transmissão pelo intercomunicador – disse Fei com uma voz de poucos amigos – Foi você quem se recusou a me ouvir, certo?
_ Há, há, há! Desculpe por isso! – o pirata concordou, levando a mão à cabeça e rindo sem jeito – É, acho que eu me lembro de você dizendo algo assim. Eu saí todo disposto e achei que você era o inimigo!
Fei continuava aborrecido. Aquele sujeito parecia um garoto! Ainda sem jeito, o pirata estendeu a mão e apresentou-se:
_ Hã, aham... O meu nome é Bart. Eu sou o pirata que age neste território.
_ Meu nome é Fei. – respondeu ele, apertando a mão do outro – Eu fui preso sem razão aparente, empurrado pra dentro daquele transportador de Aveh e estava prestes a ser mandado pra um campo de concentração até você aparecer e explodir a coisa toda em pedaços. Seja como for... estou feliz de ter conseguido sobreviver.
_ Sei... – Bart olhou para cima, curioso, para Weltall – Bem, estou grato por ter podido ajudar pelo menos um pouco. Mas eu não esperava que um civil como você pudesse estar pilotando um Gear militar. Além disso, esse Gear deve ser um modelo zero quilômetro. Eu nunca vi este tipo antes.
_ Vamos apenas dizer – respondeu Fei, baixando a cabeça – que um bocado de coisas aconteceu. Não é como se eu quisesse pilotar ou coisa assim.
Bart continuou olhando admirado para Weltall e Fei resolveu dar vazão à sua curiosidade:
_ E, afinal, onde é que nós estamos? Parece que caímos num lugar bem estranho. Eu nunca ouvi falar que existisse uma caverna de estalactites tão grande quanto esta sob o deserto.
_ O quê? Você não sabe de nada, não é? – perguntou Bart com ar convencido – De onde é que você é? O deserto só cobre cerca de 1000 sharls da superfície do planeta. O estrato subterrâneo consiste de rocha ígnea.
_ De um mar de árvores para um mar de areia – comentou Fei, desanimado – e agora, uma caverna de estalactites... O que vem depois?
_ Do que está falando?
_ Ah, nada. Deixa pra lá.
Que seja. Nós estamos em apuros. Veja. – e apontou para o alto – O buraco por onde caímos desapareceu. É melhor encontrarmos outra saída. Então, que tal uma trégua por enquanto? Pelo menos, até acharmos uma saída e escaparmos daqui.
E novamente estendeu a mão, que Fei tornou a apertar.
_ Tá... Eu concordo. E é melhor irmos andando.

No deserto acima deles, os últimos sobreviventes do transportador de Aveh estavam sendo recolhidos a bordo do cruzador de areia. Apesar de alguma hostilidade para com os piratas que os recolhiam, todos achavam melhor a prisão do que ficar à deriva no deserto. Não havia nenhum ferido grave, pois a despeito de odiarem Shakhan, Bart e sua tripulação evitavam tanto quanto possível ferir gente inocente. Junto ao timão externo, Citan acompanhava os procedimentos de resgate ao lado do jovem imediato de Bart.
_ Entendo... Significa que o seu ‘jovem’ não sai apenas atirando em tudo e em todos, Sigurd.
_ Isso mesmo – concordou o outro – na verdade, ele calculou este ataque... ou é o que ele diz! De qualquer forma, como pode ver, ninguém morreu desta vez.
Um dos Gears menores que acompanhavam o Brigandier de Bart veio ao cruzador e relatou então:
_ Sigurd, senhor! A coleta de artigos e soldados do transporte de Aveh está quase completa. Ainda não conseguimos localizar o jovem mestre... O pelotão do General Maitreya vai procurar mais uma vez.
_ Certo. Estou contando com vocês.
_ Sim, senhor. Já que sou parte da unidade, também devo pedir licença e ir.
E decolou novamente rumo ao deserto. Curioso, Citan perguntou:
_ Então, o que houve com este ‘jovem’ que você chama de mestre?
_ Ele caiu numa caverna subterrânea juntamente com aquele outro sujeito no Gear. Foi perto de uma velha área de escavação, então ele provavelmente vai conseguir sair de alguma forma... Nós tentaremos achá-lo e, se não der certo, vamos esperar por ele no nosso ponto de encontro.
_ Parece que você confia muito nele... – observou Citan.
_ Confiar nele... – retrucou Sigurd, com ar de dúvida – Sim, eu confio em que ele vai nos colocar em apuros.
Deixando isso de lado, Sigurd voltou-se para o velho amigo e comentou:
_ Mas eu nunca imaginei que encontraria você aqui, ‘Hyu’...
_ Isso não é coincidência... É uma conseqüência inevitável, eu presumo.
A voz de Citan deixava algo subentendido e Sigurd perguntou com ar preocupado:
_ Hyuga... está dizendo que algo está para acontecer?
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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeQui Mar 11, 2010 10:40 pm

Capítulo 06: A Caverna de Estalactites

A caverna sob o deserto era muito maior do que Fei imaginava. O primeiro salão era enorme, o chão era coberto com restos de metal do que deveria ter sido uma antiga área de escavação, e do teto caíam filetes de areia por toda a parte. À primeira vista e na escuridão incompleta que as luminárias de emergência ainda enfrentavam, Bart subitamente avisou:
_ Meus sensores estão detectando o que parece ser uma caverna enorme do outro lado, Fei. Vamos dar uma olhada?
Verificando de perto a direção indicada por Bart, ambos repararam que havia uma rocha enorme bloqueando a antiga saída do pavilhão. Tocando o rochedo com a mão de Brigandier e olhando para a sua altura, Bart comentou:
_ Se ao menos pudéssemos fazer algo quanto a esta pedra...! Mas eu duvido que possamos simplesmente esmagá-la em mil pedaços!
_ Pois eu acho... que podíamos tentar empurrá-la. - e Fei passou da palavra à ação, movendo Weltall para empurrar o rochedo enquanto Bart protestava:
_ Ei, espera aí, não importa o quanto você pareça... - e calou-se atônito, ao ver que o Gear de Fei estava mesmo tirando a rocha do caminho. Em aparência e tamanho, Brigandier era mais forte; como é que aquele ‘Weltall’...?
_ O que pensa que está fazendo? - indagou Fei ainda empurrando - Se apresse e me dê uma força aqui!
Com o auxílio de Bart, Fei conseguiu remover o rochedo do lugar e, enquanto o pirata suspirava como se tivesse feito o esforço com seus próprios braços e pernas, saltou para adiante e olhou em volta para descobrir que o novo pavilhão era bem menor do que o primeiro.
_ Nós podemos conseguir se ajudarmos um ao outro - disse Fei - Basta continuar assim e vamos sair daqui.
Aborrecia Bart a forma como Weltall saltava da plataforma para o topo do rochedo caído e dele para o piso inferior e ele procurou segui-lo, reclamando:
_ O cano hidromecânico da junta do meu joelho está à beira de quebrar. E tudo por causa daquela queda do teto... seguida por empurrar esse rochedo mega-colossal. Não vai ter graça se o meu Gear enguiçar numa caverna grande como essa.
_ Seus amigos não vão vir nos resgatar? - perguntou Fei, ainda admirando as paredes esverdeadas da caverna.
_ Seria perda de tempo esperar. Provavelmente eles não vêm.
_ Mas eles não são seus amigos? - perguntou Fei, agora olhando para Bart.
_ Nós acreditamos em iniciativa própria - ele deu de ombros, falando com simplicidade - Eles vão pensar que podemos fugir por nós mesmos.
_ Me perguntou se o Doc está bem. - comentou Fei pensativo.
_ Não se preocupe com o cara que estava com você. Tenho certeza que o meu pessoal já o resgatou a essa altura.
Fei não respondeu, parecendo pensativo. Isso chamou a atenção de Bart, que perguntou:
_ O que foi agora?
Após mais um instante em silêncio, Fei queixou-se:
_ Nós não teríamos caído aqui se ao menos você tivesse me ouvido.
_ Não venha pôr a culpa em mim! Você devia ter se rendido ao invés de me desafiar. Eu só queria o seu Gear.
_ Não seja ridículo! Foi você quem veio me atacando às cegas. O que mais eu deveria fazer? Achei que ia morrer se não lutasse.
_ Eu estava pegando leve com você - retrucou Bart com uma voz imponente - Não percebeu? Então, você é meio devagar.
_ Não minta pra mim. Eu sei que você estava levando a sério.
_ O quê! Você quer mais, é?! - e Brigandier ficou em posição de combate - Vamos lá, então! Pode vir!
Fei nem respondeu. Após um instante, ele simplesmente saltou mais para baixo e recomeçou a procurar pela saída. Mas Bart não deixaria por isso mesmo.
_ Espera aí! Acertar isso vem em primeiro lugar! Eu não vou conseguir fazer nada direito até decidirmos isso de uma vez por todas!
_ Eu achei que você queria uma trégua por enquanto. Sair daqui tem que vir em primeiro lugar! - Fei falava como quem tenta convencer uma criança pequena teimosa. Na verdade, quase pareceu a ele que estava discutindo com Dan e ele teria achado graça na comparação se não se lembrasse de Lahan e sua partida ao pensar no menino. Numa negativa silenciosa, ele continuou - Uma vez que nós saíamos daqui, eu luto com você o quanto quiser. Vamos nos apressar e sair logo daqui.
Bart foi obrigado a desistir da idéia e reconhecer que Fei estava certo, mas continuava resmungando.
_ Eu não gosto muito de você. Saco! Eu vou te pegar quando sairmos daqui!
É claro que havia criaturas na caverna. Monstros Meduzóides gigantes que atacavam com choques elétricos, moscas gigantes que atacavam ‘montadas’ em restos de Gears, movendo-os como se fossem próteses biônicas de seus corpos, Gears de modelo Sucateiro, usados pelos nômades do deserto e outras coisas mais, cujos encontros e batalhas com Fei e Bart não precisam ser descritos. Ao atravessar um longo corredor e sair num salão de plataformas, ambos puderam ver à distância uma luz e fumaça saindo de uma caverna no outro lado do salão e Bart comentou:
_ Quem iria imaginar que haveria alguém vivendo num lugar como esse! Vamos dar uma olhada!
Weltall e Brigandier chegaram à caverna sem quaisquer problemas, apesar das lutas ao longo da caverna de estalactites não terem melhorado em nada a situação do joelho do Brigandier. Os dois pilotos desceram e entraram na caverna menor, admirando-se ao encontrar ali sinais claros de habitação ainda em uso. Bart, que ia à frente, foi o primeiro a notar que alguém vinha dar as boas vindas.
_ Ei, Fei, que surpresa! Tem alguém morando nesse lugar!
O morador era um velho alto e magro, de cabelos já cinzentos de idade, sombrancelhas grossas e um nariz aquilino que andava apoiando-se num cajado. Ele não parecia surpreso com a súbita invasão e comentou, com voz grave:
_ Hmm, já faz algum tempo, mas achei que tinha ouvido o som de Gears. Eu presumo que sejam seus?
Ambos confirmaram com um aceno de cabeça e o velho acenou para que entrassem.
_ Que seja. Venham até aqui, e sintam-se em casa.
Ele avançou para o interior da caverna e os dois rapazes o seguiram. Servindo-se de algo que estava no fogo e distribuindo o conteúdo em canecos para seus convidados, ele continuou:
_ Já faz muito tempo desde a minha última visita. O que houve? Vocês caíram da superfície?
_ É, acho que é isso. - confirmou Bart.
_ Entendo. Isso é uma pena. - lamentou o velho - Eu posso dizer pelo som que vocês dois estão pilotando bons Gears. Mas as pernas parecem estar fazendo um pouco de jogo.
_ Você quer dizer - perguntou Fei, incrédulo - que consegue saber o que há de errado só de ouvir o som dos passos deles?
O velho riu divertido e confirmou com a cabeça.
_ É fácil saber o que há de errado com Gears pelo som que fazem. O meu palpite é que um deles precisa de um novo cano hidromecânico em sua junta. Está fazendo um barulho terrível. Deve ser difícil andar assim.
Fei e Bart se entreolharam. Bart comentara que estava ficando difícil andar com Brigandier pouco antes de entrarem na caverna onde estava a casa do velho. Ainda sorrindo diante da surpresa deles, ele apresentou-se:
_ Ah, e a propósito, o meu nome é Balthazar, mas vocês podem me chamar de Velho Bal.
_ Ah, é? - perguntou Bart, dando um tapinha admirado no ombro de Bal - Então quer dizer que temos um verdadeiro fanático aqui, hein? Mas o que é que um velho como você está fazendo num lugar desses?
_ Eu acho que vocês podem me chamar de ‘louco por fósseis’, ou um ‘colecionador de coisas’. Há muito para ser descoberto aqui, nesta caverna de estalactites.
_ Colecionador, hein? - e Bart deu uma longa olhada nas estantes de Bal ao longo das paredes - Parece interessante. E essas coisas nas estantes são algumas das que você descobriu?
_ Está falando dos fósseis? Eles são apenas uma das coisas que coleciono. Fiquem a vontade para vê-los.
Bart não esperou por um novo convite para ir até uma estante mais ao fundo que estivera chamando sua atenção. Apesar de mais discreto, Fei seguiu logo depois com Bal vindo por último, explicando:
_ Nesta área, podem-se cavar máquinas antigas juntamente com fósseis humanos e animais. Está notando algo particular nesta estante? - e indicou com o cajado a estante à frente deles - As amostras seguem da mais antiga, à esquerda, para a mais recente, á direita.
Os dois puderam ver três prateleiras naquela estante. A primeira tinha crânios semelhantes aos de algum animal bovino, a segunda tinha crânios semelhantes aos humanos e a terceira tinha caixas de metal com etiquetas, de aparência muito antiga. Fei reparou que a fileira humana começava praticamente na metade da sua prateleira, enquanto as outras duas vinham de um extremo a outro da estante. Depois de uma boa olhada, Bart perguntou:
_ Você é um arqueólogo ou coisa do tipo, velho? Eu não vejo muito por aí esse tipo de coisa de que você tá falando. Parece só um monte de ossos velhos pra mim. Fei, o que você acha?
Aproximando-se mais da estante e olhando-a longamente, ele respondeu: _ Me deixa ver... No início, não tem ossos humanos ali. Então, daqui para a direita, algo está visivelmente diferente... eu acho.
_ Sim, é isso mesmo. - confirmou o Velho Bal, indicando o início da fileira humana com o cajado - De um certo ponto do tempo, os fósseis humanos subitamente não aparecem mais. Este ponto é em cerca de 10.000 anos atrás.
_ O que isso quer dizer? - perguntou Bart.
_ Não me pergunte. - respondeu Bal - Eu não sei com certeza. Mas o meu palpite é que não havia humanos neste planeta antes disso. Pelo menos, é o que parece.
_ Como é que pode? - Bart parecia inconformado - E quanto àquela história toda de evolução?
_ Está falando da teoria da evolução como foi ensinada pelo ‘Ethos’, correto? - Bal fez um gesto de desprezo - Você não pode confiar numa coisa dessas! No meu caso, eu prefiro acreditar nas velhas lendas e mitos.
_ Lendas? Mitos? - perguntou Fei, confuso.
_ Você nunca ouviu essa história...? - e Bal foi para os fundos da caverna, enquanto dizia com uma voz um pouco mais solene - Dizem que os humanos e Deus viviam juntos num paraíso no céu. Com a proteção de Deus, não havia o medo da morte e os desastres naturais eram inteiramente desconhecidos.
Os dois seguiram Balthazar até o fundo da caverna e o encontraram olhando para uma parede ao fundo, e ele continuou:
_ Então, um dia, os humanos comeram uma fruta proibida que lhes deu uma incrível sabedoria. Mas Deus afastou a humanidade de seu paraíso pelo seu pecado. Amargurados por terem sido retirados do paraíso, os humanos usaram a sabedoria que tinham conseguido para criarem gigantes. Com estes gigantes, eles planejavam desafiar Deus em pessoa. Mas Deus derramou sua ira sobre eles. Todos os que desafiaram Deus foram destruídos. Mas mesmo Deus não escapou ileso. Levando o paraíso consigo, o deus ferido enterrou-se sob o oceano para dormir por eons. Antes de dormir, Deus usou seu poder restante para criar humanos de coração correto para viverem neste planeta. Diz-se que estas pessoas foram... nossos ancestrais.
Neste ponto, ele deu de ombros e forçou um sorriso, dizendo:
_ Mas, de qualquer forma, eu vou parar de divagar agora - e voltou-se então para eles, e parecia ainda mais sábio aos olhos de Fei e Bart. Podiam ser apenas lendas, mas eram impressionantes. Meio que despertando depois do relato, Fei perguntou:
_ A propósito, por acaso essa caverna tem...
_ ... uma saída? - perguntou Bal - Há uma saída na área de escavação além da barreira de areia. Vocês podem chegar ao exterior por lá.
_ ‘Barreira de areia’? - indagou Bart - Está falando daquela parede enorme que dá pra ver da sua porta?
_ Sim, isso mesmo. Do outro lado há uma velha área de escavação de Aveh. Eles construíram a muralha quando Aveh estava escavando aqui, para impedir a areia de cair. Mas agora, não estão mais trabalhando lá.
_ Bem, - perguntou Fei - e como nós abrimos uma coisa daquele tamanho?
_ Se é uma parede, provavelmente dá pra quebrar - opinou Bart.
_ Devagar aí, jovens. - interrompeu Bal - Não importa quão bom seja o Gear que têm, vocês nunca vão conseguir derrubar aquela parede. É forte demais. Então... façamos um trato.
_ Trato? - perguntou Bart, naturalmente desconfiado.
_ A muralha se fechou pela reação dos ‘Sensores de Areia’ - explicou o velho - Com isso, eu agora não tenho como sair também. Talvez tenha acontecido quando vocês dois caíram aqui. Por acaso vocês estavam lutando lá em cima, ou coisa parecida?
Bart coçou a cabeça e desviou o rosto, meio sem jeito, enquanto Fei concordou.
_ Parece que você consegue dizer qualquer coisa! De qualquer modo, o que podemos fazer?
_ Muito simples. Vocês só precisam desligar os sensores. Isso vai impedir a barreira de fechar novamente. Enquanto vocês fazem isso, eu a abro.
_ Certo, entendido! - concordou Fei, batendo uma das mãos na outra.
Os dois partiram nas direções indicadas por Balthazar e não tiveram maiores problemas, além de certas lutas com Meduzóides e mais nômades do deserto que vagavam por lá. Por fim desativaram os dois sensores de areia e voltaram à caverna de Bal, onde foram saudados com surpresa pelo velho.
_ Ah, boa atuação a de vocês! Chegaram bem na hora em que eu vou abrir a barreira de areia.
Balthazar moveu uma alavanca numa estante e a imensa parede desceu pesadamente, liberando o caminho para fora.
_ Muito bem, velho! - comentou Bart - Isso conclui o nosso trato. Agora, tem uma coisa que eu quero te perguntar, ouvi em algum lugar que há um Gear perdido que é muito superior a todos os outros. Segundo eu ouvi, era chamado de ‘Deus Gear’ e foi feito em tempos antigos, mas foi escondido em algum lugar. Sabe algo a respeito disso?
_ Um deus feito pelo homem, criado com a sabedoria de Deus! - exclamou Bal - Tal Gear teria o poder de mil Gears. Com um movimento de seu braço, poderia destruir cidades inteiras! Seu brado de batalha seria o trovão nos céus! Você deve estar falando do ‘Omnigear’.
_ Você sabe sobre ele? - perguntou Bart - Então talvez fosse dele que você estava falando naquela história que nos contou sobre a luta com Deus...
_ Deuses graciosos, você também, rapaz? - perguntou Bal, com tom de riso - Essas histórias foram feitas para inspirar a alma do homem, mas são apenas lendas. Eles não existem de verdade! Mas, que seja. - ficou de pé e foi para fora, dizendo que iria dar uma olhada nos Gears dos dois e pediu que esperassem um pouco, pois não ia demorar. Bart pediu que ele esperasse, mas não adiantou, e Fei percebeu que algo estava subentendido na conversa.
_ Ei Bart, você acha que o Gear da história está enterrado em algum lugar?
_ É , acho que sim. Pelo menos, foi o que eu ouvi.
_ Será que um dos Gears que estamos usando poderia ser ele?
_ Ah, claro! - Bart fez um gesto com as mãos que afastava totalmente a idéia - Quais as chances disso acontecer?
Fei não pareceu achar isso tão impossível, mas Bart explicou:
_ Os Gears que tem sido descobertos ultimamente têm apenas algumas centenas de anos de idade. Não há nada nem perto de ter uma idade como a do Gear da lenda.
_ Então, por quê todos eles estão enterrados?
_ Não sei. Não há registros, exceto... - e ele pareceu ficar pensativo.
_ Exceto o quê? - perguntou Fei ao perceber que o outro parecia supor algo.
_ Deve haver alguma verdade nos contos de que eles foram enterrados depois de uma grande guerra... As marcas de bala que cobriam a maior parte da armadura dos Gears poderiam confirmar isso.
_ Está querendo dizer que não há registros dos últimos séculos? E antes disso?
Bart meneou a cabeça negativamente:
_ Nada desse período, também. O ‘Ethos’ controla todos os registros dessa época. Talvez eles tenham alguns registros bem antigos, também... Tudo o que sabemos da nossa história vem de pedacinhos que encontramos por nós mesmos. Aliás, Fei - e saltou de onde estivera sentado - o que você acha do velho?
_ Como assim?
_ Por quê alguém tão velho viveria sozinho nessa caverna abandonada?
_ Eu... não sei. - deu de ombros - Talvez esteja escavando atrás de Gears antigos, ou coisa assim?
_ Isso! Então, você também acha isso?
_ Ei, isso foi uma piada. Não leve tudo tão a sério. São apenas lendas, você sabe.
_ Não - Bart balançava a cabeça negativamente de novo, com ar pensativo - esse velho tá armando alguma!
Então, o som de ferramentas lá fora parou e pareceu que algo metálico caía ao chão, acompanhado pela voz de Balthazar.
_ Não pode ser...!
Os dois correram para fora imediatamente, imaginando o que teria acontecido. Não havia monstro ou inimigo algum quando chegaram ao lado de fora, mas Fei e Bart logo viram que Balthazar estava olhando perturbado para Weltall. Sem se voltar, ele perguntou:
_ Este é o seu Gear?
_ Bem, mais ou menos... - tentou contornar Fei.
_ Onde foi que o conseguiu?
_ Eu... só o estou emprestando.
Mas Bal mal parecia ter ouvido Fei, murmurando surpreso e um tanto aterrorizado:
_ Este é... o hospedeiro para o espírito do... assassino de Deus...
_ Espere aí! O que foi que disse?
Fei subitamente sentiu que havia algo ainda mais terrível em Weltall do que ele suspeitara, mas Balthazar perdera a vontade de conversar.
_ Nada. Eu não disse nada!!
_ Não, eu ouvi! Você disse, assassino de Deus... não foi isso, velho!!
_ Seus Gears estão consertados - disse Bal, tornando a entrar em sua caverna - Vocês não têm mais o que fazer aqui. É uma hora ruim pra mim. Sigam seu caminho!
_ Seguir nosso caminho...? - mas Fei ainda não tinha terminado - Espera aí, velho...!
Mas Balthazar fechou a porta atrás de si e não puderam ouvir mais nada dele. Fei olhou para Bart que, depois de um instante em silêncio e de braços cruzados, meramente fez que não com a cabeça e deu de ombros. Confuso e ainda mais preocupado, Fei silenciosamente subiu em Weltall e encaminhou-se para a passagem aberta.
Weltall e Brigandier continuaram através da passagem e descendo cada vez mais na caverna, rumo à saída que deveria estar num dos níveis mais baixos. Nenhum dos pilotos falava muito, pensando nas últimas palavras do velho. Bart estava intrigado, e Fei preocupado. Os modos de Balthazar haviam se alterado completamente depois que o velho vira Weltall.
“O hospedeiro para o assassino de Deus? O que isso quer dizer?”
Ele lembrava-se também do que Grahf dissera. Precisava de seu poder para matar Deus. Não gostava da idéia, mas o que os dois haviam dito combinava. O que estava havendo, afinal?
Seus pensamentos foram interrompidos pelo som estrondoso de jatos enormes num ambiente fechado como aquelas cavernas. Tanto ele quanto Bart voltaram-se para o alto para ver um Gear enorme, de aparência forte e desconhecida, que circulou próximo ao teto daquele salão da caverna e dirigiu-se para a escuridão mais adiante, onde desapareceu. Havia restos semidestruídos de uma ponte asfaltada naquele trecho da caverna, e uma vez que desceram por ali, Bart disse:
_ Ali, finalmente a saída, Fei! - indicou alegremente um caminho aberto - Vamos sair dessa caverna de uma vez!
Quando Brigandier encaminhou-se para a saída, no entanto, o som de jatos tornou a se aproximar e o Gear desconhecido pousou diante deles, bloqueando claramente a saída. No instante seguinte, ele atacou.
O Gear branco era enorme e pesado, logo no primeiro ataque ele atingiu e derrubou os dois Gears de uma só vez, lançando seus punhos como mísseis na direção de Brigandier e Weltall. Sem ter como evitar o ataque de surpresa, ambos foram atingidos e derrubados pesadamente. Refazendo-se depressa, Bart procurou colocar Brigandier em condição de combate e iniciou com seu ataque de Ether.
_ Sorriso Selvagem!
A máquina amplificadora de Brigandier lançou o ataque de Bart e o Gear branco pareceu vacilar, como se perdesse a visão. Fei ainda estava se refazendo quando Bart chamou sua atenção:
_ Anda, Fei, ataca logo! Ele não vai conseguir ver a gente! Acerta ele!
Pressionado, Fei agiu por reflexo e usou a força do seu Chi. Weltall projetou as mãos para frente e a energia amplificada de Fei concentrou-se diante delas, liberando-se com o comando:
_ Tiro Guiado!
A rajada avassaladora de energia espiritual desabou sobre o Gear branco parado diante de Weltall e Brigandier. Desta vez, no entanto, não houve nenhum efeito.
_ O quê? Ele nem se mexeu...
_ Deve ter uma proteção Anti-Ether muito boa! - exclamou Bart - Peguei ele de surpresa, ou a proteção não impede mudanças de estado ou danos, mas...
Guiado pelo ataque falho de Fei, o Gear branco alçou vôo e arremeteu na direção dos dois. Bart conseguiu afastar-se e evitar o golpe, mas Fei não reagiu depressa o bastante e Weltall tombou com um segundo golpe dos punhos pesados do Gear branco.
_ Catzo, esse cara é uma calamidade! - Bart recuara o bastante e estava novamente em posição de atacar - Agüente aí, Fei! Lá vai a cavalaria!
Brigandier investiu com seus chicotes desta vez, prendendo a cabeça do ‘Calamidade’ com seu chicote esquerdo e atingindo pesadamente com o direito. Apesar de não poder enxergar bem, no entanto, Calamidade tinha seu agressor próximo o bastante para atingi-lo com um movimento brusco, e a força do golpe às cegas foi suficiente para jogar Brigandier à distância, indo parar do outro lado do salão.
Weltall reagiu com um Raigeki. Conseguira ficar de pé graças ao ataque de Brigandier, e o Calamidade ainda estava desequilibrado e voltado depois de atacar o Gear de Bart. A este golpe mais forte, o agressor pareceu sentir... mas isso apenas chamou sua atenção e ele golpeou Weltall de cima a baixo com os punhos como um martelo, causando um dano pesado e quase desmaiando Fei em sua cabine. Os efeitos do Sorriso Selvagem estavam se dispersando depressa, e Calamidade não precisava de muita visão para atingir um alvo que estivesse próximo.
_ Feeeeeii!!
Bart também estivera perto de perder os sentidos devido ao último ataque e apenas o som do metal sendo duramente castigado o manteve desperto. Calamidade estava chutando Weltall e Fei não reagia. Ativando os Turbos de Brigandier, ele investiu com o ataque mais pesado de que podia dispor:
_ Chicote em Cadeia!
O primeiro golpe desabou sobre Calamidade e ele tentou revidar às cegas, mas os propulsores davam mais velocidade a Brigandier. Saindo agilmente do golpe, o Gear pirata despejou mais dois golpes de cima a baixo e terminou girando o corpo, atingindo Calamidade de frente e com força o bastante para fazer mesmo o enorme Gear cambalear e recuar alguns passos. Ficando diante do amigo caído, Bart gritou:
_ Fei! Acorda e liga os propulsores, cara! Ou você o vence na velocidade ou estamos mortos! Eu não posso com esse monstro sozinho!
Já livre dos efeitos do Sorriso Selvagem, Calamidade tornou a lançar seu punho direito contra o Brigandier. A velocidade extra permitiu que Bart enviasse o impacto direto, mas mesmo o golpe enfraquecido o jogou para trás, abrindo caminho para que Calamidade tornasse a atacar Weltall.
“Engraçado - pensou Bart, procurando ficar de pé - dá até a impressão que ele só quer pegar o Fei; fica me afastando o tempo todo e ataca o Weltall...” - e, em voz alta: _ Fei! Sai logo daí!
Calamidade erguera vôo de novo e estava caindo sobre Weltall. Alertado pelo grito de Bart, Fei ativou os jatos de seu Gear e saiu do alcance por pouco, conseguindo atacar com velocidade e pegando Calamidade desprevenido com a opção Reppu. O golpe do punho de Weltall por baixo de sua cabeça fez Calamidade cair para trás, mas seus jatos tornaram a sustentá-lo e ele alçou vôo antes de se chocar com o chão.
_ Que sujeito difícil! Você está bem, Bart?
_ É... Podia estar melhor, eu acho. Mas cuidado! Lá vem ele de novo!
Apesar do seu tamanho e peso, Calamidade voava pelo salão da caverna com facilidade e tornou a cair sobre Weltall. Fei fez o que pode para evitar o choque, mas os dois punhos de Calamidade o alcançaram em meio à fuga e ele caiu pesadamente para trás. Brigandier tornou a atacar, mas Calamidade nem sequer se voltou, abrindo escotilhas na parte superior de seus jatos e liberando vários mísseis vermelhos que choveram sobre Brigandier, causando dano pesado e derrubando Bart e seu Gear para trás.
_ Bart! - Fei colocou Weltall de pé e novamente em posição, enquanto Calamidade decolou e arremeteu sobre ele - Você está bem?
_ Ai... Claro que não. - a voz vinha dolorosa, mas a resposta ao menos era um sinal de vida - Eu tô de péssimo humor. Vamos pegar esse cara, Fei!
Calamidade atingira Fei como um míssil e o peso de seu corpo e do golpe de seus punhos abalou Weltall, enquanto os sensores de danos acusavam risco em toda a estrutura. O problema era que, mesmo em modo turbo, nem Weltall nem Brigandier estavam conseguindo abalar demais o Gear inimigo. Sendo arrastado para trás, Weltall foi atingido ainda por uma nova salva dos mísseis de Calamidade e Fei gritou. Foi então que um dos chicotes de Brigandier agarrou os pés de Calamidade e puxou-o, fazendo com que atingisse a parede pesadamente.
_ Fei, eu vou manter esse cara preso como uma pipa! - gritou Bart - Acerte agora, enquanto ele não pode bloquear!
O Reppu ainda parecia o melhor ataque disponível, mas Fei não achou que era o bastante. Os monstros mais fortes da caverna tinham caído diante daquele golpe, mas era hora de tentar algo novo. Na velocidade Turbo, ele atacou o Gear branco paralisado por Bart e lembrou-se de uma vez em que Citan lhe dissera que equipamentos novos aumentavam as capacidades de um Gear. Haviam conseguido motores novos com Balthazar, e teoricamente a capacidade de Weltall aumentara. O Gear saltou e atingiu Calamidade com ambos os pés, caiu ao chão e tornou a subir, com um impulso poderoso de seus jatos, atingindo Calamidade de baixo para cima com uma seqüência rápida e forte de seus pés antes de cair sobre si mesmo num salto mortal, com o grito de Fei:
_ Hazan!
Os ataques anteriores haviam enfraquecido o suficiente o Gear branco ao que parecia, porque o novo golpe de Fei fez com que este caísse pesadamente para trás e não tornasse a se erguer. Soltando seu chicote e parando ao lado do amigo, Bart comentou:
_ Hah, que idiota! - a voz confiante dele fez Fei voltar-se, visivelmente surpreso - Tenta assustar a gente com esse showzinho e não mostra nenhum poder de verdade, hein Fei?
Ele não tinha mesmo jeito, pensou Fei. Weltall e Brigandier precisariam de reparos pesados depois daquilo. Ao menos, Calamidade estava no chão.
_ Que seja. - disse Bart, voltando-se - Parece que isso é a saída. Em breve vai ser ‘adios’ a esta velha caverna!
Foi quando Fei ouviu alguma coisa. Calamidade ficou de pé novamente e investiu sobre Bart, que estava mais próximo, enquanto o pirata apenas tomava consciência de algo atrás de si.
_ O que...!?
Um som de pulsação ficou alto demais aos ouvidos de Fei, enquanto Weltall colocou-se em guarda e arremeteu e ele gritou:
_ Saia do caminho, Bart!!
Weltall entrou na trilha reta entre Calamidade e Brigandier e ficou equilibrado sobre a perna esquerda, enquanto uma onda negra pareceu concentrar-se em suas mãos. Ante os olhos surpresos de Bart, a postura do Gear era a de um mestre marcial, e a voz de Fei soou no comunicador:
_ Kishin!!
E uma seqüência de golpes rápidos demais para serem acompanhados atingiu o ventre de Calamidade com a energia negra, rasgando a blindagem resistente como se fosse papel e fazendo o Gear branco tombar derrotado para trás.
_ Uuuoooouuuu!! - fez Bart, surpreso e animado - Como diabos foi que você fez isso?!
Weltall continuou imóvel, em guarda, e a voz de Fei não respondeu. Isso levou Bart a insistir:
_ Ô, Fei, eu tô falando!
_ ... Hã?
_ Como assim, ‘hã’? Como catzo você fez aquilo?! Você não sabe?
_ ... Não, eu... errr,... não sei.
_ Aquilo foi incrível! Você simplesmente transformou aquela montanha em pedacinhos! Por quê não usou essa técnica um pouquinho antes?
_ ... Eu não conheço essa técnica... Eu... nem sequer tenho idéia de como é que eu fiz isso...!
Era inegável que ele derrotara Calamidade. O Gear branco estava destruído e além de qualquer recuperação... mas ele não se lembrava de ter feito nada. Percebendo a confusão do outro, Bart deu de ombros.
_ Hmm. Ah, bem, acho que não importa. Que seja... Valeu por me ajudar!
Fei não respondeu, ainda aturdido, e Brigandier deu um tapinha nas costas de Weltall para acabar com a confusão.
_ Bom, já que nos livramos daquele incômodo, vamos cair fora daqui, hein, Fei!
Meio que conduzido por Bart, Fei dirigiu Weltall rumo até a saída da caverna, agora iluminada pelo sol lá de fora. Ainda voltou-se uma última vez, encontrando os restos de Calamidade e perguntando-se como aquilo acontecera.
O vento do deserto estava forte lá fora com o fim de tarde, jogando areia nos Gears. Respirando profundamente como se não estivesse fechado em sua cabine, Bart exclamou:
_ Uau... Eu nunca pensei que terminaríamos aqui...
_ Onde estamos?
_ Tá vendo aquelas montanhas gêmeas logo ali? - e Brigandier indicou o horizonte à frente deles, onde duas sombras levantavam-se do deserto - É onde Bledavik, a Capital Real de Aveh, e o Castelo de Fátima estão localizados. Atualmente, não tem rei nenhum morando lá. Mas, que seja, é a minha velha cidade natal.
_ Cidade natal...
Fei estava aborrecido consigo mesmo por não lembrar nada de seu passado antes da chegada a Lahan, e pensar outra vez em sua cidade natal o fez lembrar de que desastres podiam acontecer à sua volta. Alheio ao estado do amigo, ou percebendo e tentando disfarçar, Bart pigarreou e disse com voz grave:
_ Eu gostaria de ir em frente e acertar a nossa disputa, mas considerando o quanto estamos próximos da capital de Aveh, provavelmente seríamos presos.
Fei não respondeu à provocação e outra vez Brigandier deu um tapinha nas costas de Weltall.
_ Ei pare de parecer tão de bode, chapa! Acho que é melhor eu te devolver depressa ao seu amigo ou cê vai morrer de angústia ou algo parecido. Que seja, o ponto de encontro com a Yggdrasil é logo ali. Não esquenta, você vai encontrar seu amigo sem perda de tempo.
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 13, 2010 4:46 am

Capítulo 07: O Covil do Pirata

Eles não tardaram a encontrar a enorme nave que Fei reconheceu como o cruzador de areia que atacara o transporte onde estivera. Seguindo Bart, Fei conduziu Weltall para o hangar de Gears e desembarcou, onde o Doutor Citan o esperava.
_ Fei! Eu estava preocupado com você!
_ Doc.
A saudação de Fei foi sem energia e o que incomodava Citan era que isso estava ficando muito freqüente. Por trás deles veio um senhor de cabelos grisalhos e de modos elegantes, como um mordomo, que também o saudou.
_ Bem vindo ao cruzador de areia ‘Yggdrasil’. Nós nos desculpamos pelo incidente anterior.
Bart veio logo em seguida, com o andar confiante por estar de volta à sua nave e à sua tripulação. O mordomo, Maison, fez as honras.
_ Eu tenho certeza de que todos já devem ter se apresentado adequadamente, mas permita-me apresentar o líder dos piratas da areia, Mestre Bartholomew. Aliás - e voltou-se para Bart com a autoridade de um tutor - posso perguntar, jovem mestre, se já se desculpou com Mestre Fei?
_ O quê? Hããã... é... eu disse a ele que “eu estava errado”. - e voltou-se para Fei pedindo ajuda - Certo?
Fei continuava cabisbaixo pelos últimos acontecimentos ou teria achado aquilo engraçado. Bart parecia um garoto teimoso tentando evitar a bronca dos pais ou professores. Meio sem jeito, Fei fez um gesto de mais ou menos e o homem de tapa olho e cabelos brancos adiantou-se dizendo:
_ Apenas dizer a alguém que você ‘estava errado’ depois do evento não vai resolver nada, jovem mestre. - E voltando-se de forma cortês para Fei - Sinto muito não ter me apresentado antes. Meu nome é Sigurd. Sou o Primeiro Imediato deste cruzador da areia.
_ Bem então - disse Maison, inclinando a cabeça - por favor, me avisem de precisarem de algo.
Emburrado por ter levado uma bronca diante de estranhos, Bart finalmente perdeu as estribeiras e berrou:
_ Tá, essa é a situação... então, vê se me desculpa, tá bom?!
_ Jovem mestre! - retrucou Sigurd, puxando Bart pela orelha - Já chega de diabruras!
_ Ai! Ai! Ai! Não puxa a minha orelha!
E Sigurd e Maison levaram Bart como se fosse criança, pelas orelhas. Não havia como não rir daquilo, embora Fei continuasse aborrecido mesmo assim, ou pensaria consigo mesmo que Sigurd parecia-se com um irmão mais velho repreendendo o menor. De fato, isso não era apenas por causa da atitude: apesar da cor diferente, os cabelos de Sigurd e os de Bart eram de tipo parecido, ambos tinham olhos azuis e o mesmo porte físico, além de ambos usarem tapa olhos. Disfarçando o riso, Citan disse:
_ Vamos esperar em nossa cabine até chegarmos...
Fei concordou em silêncio, meramente fazendo um sinal com a cabeça, o que também chamou a atenção do doutor.
_ O que há de errado? Você parece deprimido.
_ Não... - e voltou-se para Weltall, parado atrás de si - Bem...
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Não... nada.
Citan podia ver que havia algo de errado, mas não teria como obrigar Fei a falar se não quisesse. Ambos subiram em silêncio até os alojamentos enquanto Weltall e Brigandier recebiam tratamento e melhorias na impressionante Yggdrasil. Citan mencionou algo sobre o acidente em que tanto Bart quanto Sigurd haviam perdido um de seus olhos: numa certa pane nos motores do cruzador de areia, Bart saltou à frente para fazer os reparos e Sigurd foi atrás dele. Houve uma explosão e os dois saíram feridos. Pelo que Citan dizia e pelos comentários que podia ouvir paralelamente dos próprios piratas, Bart costumava assumir a responsabilidade por tudo o que acontecia, ficando às vezes com um fardo pesado demais para si só. Por isso mesmo, todos os piratas admiravam muito o seu ‘jovem mestre’, embora também fossem unânimes em confirmar que ele por vezes era impulsivo e descuidado demais. Como Citan estava curioso quanto à cabine de comando, Fei e ele foram até lá onde Sigurd estava conduzindo o cruzador de areia até o esconderijo dos piratas em meio ao deserto para reabastecimento.
A Yggdrasil viajou depressa e, mesmo assim, levou cerca de duas horas até chegar a um túnel em meio ao deserto, oculto por uma cordilheira a oeste do grande deserto. Lá, um porto oculto recebeu o cruzador de areia, onde soldados e pessoas com jeito de mecânicos os aguardavam. E também crianças. Citan ficou estupefato com a grandiosidade do lugar, olhando em volta sem conter a admiração enquanto as crianças saudavam Bart e davam-lhe abraços quando o líder dos piratas veio ao convés. Em meio à saudação, uma garotinha perguntou o que ele trouxera. Ainda agachado em meio a eles, Bart respondeu:
_ Bem... Eu encontrei um novo modelo de Gear e duas pessoas que nós salvamos.
_ Só isso?
_ Que chato!
_ Eu achei que vocês iam dizer isso. Então, que tal isso?
E tirou do bolso um tipo de rocha amarelada, dando-a ao menino à sua frente.
_ Isso é um pedaço de âmbar que encontrei numa caverna de estalactites no deserto. É muito raro encontrar um em tão bom estado, ainda mais com um inseto conservado dentro.
_ Uau! Obrigado Bart! Demais! Temos um âmbar!
_ O que é isso? - perguntou o menor deles.
_ Vamos lá! Vamos mostrar pra todo mundo!
As crianças saíram correndo e Citan notou, com satisfação, que o fato de viverem num esconderijo no deserto não parecia incomodá-las em nada. Voltando-se para os convidados, Bart disse:
_ Bem então... Vou dar uns ajustes no meu Gear. Por quê não tomam um pouco de chá com o Velho Maison? Vejo vocês depois.
E voltou para a Yggdrasil enquanto o mordomo fazia uma mesura e pedia:
_ Por favor, me acompanhem.
Fei e Citan seguiram Maison pelos túneis e elevadores do esconderijo de Bart até a seção residencial. Uma vez lá, Maison os conduziu até o salão de jantar e pediu desculpas pela má aparência dela, embora Citan achasse que tudo era muito sofisticado e elegante para um esconderijo rudimentar. Ele e Fei sentaram-se e o mordomo aproveitou para servi-los.
_ Talvez vocês queiram um pouco do meu famoso chá? Mestre Fei? Bom doutor?
E encheu as xícaras de Fei e Citan, que apreciou a bebida. E Maison também parecia satisfeito.
_ Jovens visitantes são obviamente raros. O jovem mestre deve estar muito feliz. Se a situação fosse normal, não estaríamos vivendo no deserto, mas sim no palácio real...
_ Palácio real...? - perguntou Citan, interrompendo o chá - Você quer dizer que o jovem está ligado à antiga Dinastia Fatima?
_ Perdão?
Maison de repente ficou atrapalhado, como alguém que percebesse tardiamente ter falado demais e tentou corrigir seu engano.
_ N-não... Eu sou apenas um velho tolo senil que fala demais... não dê atenção ao que eu disse... há há há...
_ Mas... - Citan tornou a beber do seu chá, parecendo não ter notado a confusão do velho mordomo - aquele rapaz de um olho só tem um certo porte de nobreza.
A isca deu certo. Maison imediatamente se voltou e cumprimentou o doutor com um olhar admirado.
_ Oh, oh, oh! Muito bem dito, Sir! Terrivelmente perspicaz da sua parte perceber isso! Se eu puder... - e sua voz pareceu grave e incerta, mas disposta a contar a respeito - eu gostaria de contar-lhes. O jovem cavalheiro é o último remanescente esquecido da um dia orgulhosa Dinastia Fatima... isso é, antes que ela fosse destruída pelos servos de Shakhan. - e voltou-se para Citan com um ar grave ao dizer o nome - Príncipe Bartholomew Fatima.
_ Bartholomew? - perguntou Citan, intrigado - O sucessor de Edbart IV... Mas eu estou certo de que foi anunciado que Bartholomew faleceu devido a uma doença há doze anos atrás...
_ Oficialmente sim - respondeu Maison - No entanto, na realidade, nós resgatamos o jovem príncipe das mãos malignas de Shakhan.
_ Então, por quê o príncipe, o herdeiro de direito, recorre à pirataria...?
Maison pareceu vacilar, como se também não apreciasse a necessidade daqueles meios e afastou-se um pouco antes de prosseguir:
_ Desde que viemos para cá, só tivemos um desejo... que o jovem mestre crescesse para ser um grande homem.
_ Não para... reclamar o trono?
_ Isto está correto. Naturalmente, dizer que não temos absolutamente nenhum desejo de restaurar seu governo seria uma mentira. Também temos planos para isso.
_ E parte destes planos incluiria a pirataria...?
_ Bem, sim... - Maison novamente parecia sem jeito - mas há uma razão para isso...
“Tanto Aveh quanto Kislev - explicou o mordomo - são devotados à escavação das ruínas. A força de cada país está crescendo diariamente. Mesmo que conseguíssemos a ajuda de todos os nossos camaradas para iniciar uma revolução, a força combinada de todos nós ainda não seria suficiente. Nós certamente seríamos suprimidos pelos guardas de Shakhan sem perda de tempo.”
“Nós precisávamos de poder. Tentamos escavar as ruínas usando a Yggdrasil, mas não funcionou tão bem quanto esperávamos.”
“Escavar requer tremendas quantias de tempo, esforço e capital. O melhor que podemos fazer com nosso cruzador de areia é descobrir pequenos itens na areia.”
_ E a pirataria...
_ Pouco importando quem consiga a tecnologia das ruínas, uma coisa é certa: tanto Kislev quanto Aveh simplesmente usarão este poder para oprimir um ao outro. Eu concordo com a idéia do jovem mestre de criar um novo poder para equilibrar um pouco as coisas.
_ Entendo... - disse Citan, pensativo - É muito mais eficiente saquear nas sombras do que escavar sozinho a tecnologia.
_Naturalmente, a pilhagem é um ato imperdoável - retorquiu Maison - No entanto, para Aveh... para Ignas, continuar como está... - Ele voltou-se para Citan então, parecendo um tanto aborrecido - Eu peço desculpas se isso parece um tanto cheio demais de direitos.
_ É algo sobre o que forasteiros como nós não podem comentar - respondeu Citan - Pelo que me contou, eu sinto que o resultado do que estão fazendo será bom. Ver suas crianças aqui me diz isso.
_ Eu estou muito aliviado com suas palavras. - Maison realmente parecia ter tirado um peso da consciência. Ofereceu outra xícara de chá, que Citan aceitou prontamente, e depois do primeiro gole o doutor perguntou:
_ Você mencionou que tinham planos. Por quê não os colocam em ação?
_ Com a Senhorita Margie aprisionada - respondeu o mordomo, voltando a parecer preocupado - não ousamos fazer coisa alguma.
_ Por acaso ela não seria a Madre...?
_ Você está muito bem informado, meu caro doutor. - concordou Maison com um sorriso - Ela é a Grande Madre Marguerite de Nisan... e a prima do jovem mestre, também.
_ Por quê Shakhan a manteria cativa?
Maison voltou seu rosto novamente antes de responder:
_ Pelo ‘Jasper de Fatima’!
_ O Jasper de Fatima que, dizem, mostra onde está o grande tesouro?
_ Meu Deus, bom doutor! - o assombro de Maison não parava de aumentar - Você sabe realmente um bocado! Eu estou muito impressionado.
Ele então pegou o bule para servir mais chá a Fei e então percebeu que a xícara do rapaz permanecia intacta.
_ não gosta do meu chá, Mestre Fei?
_ Não... - respondeu Fei, parecendo distante - Eu só não estou com sede agora.
Citan percebeu que isso ainda era efeito de algo que acontecera com Fei antes de chegar ao cruzador de areia, e Maison continuou:
_ Bem, não temos qualquer idéia do que na verdade é o grande tesouro... mas diz-se que seria forte o suficiente para salvar nosso reino se ele estiver em qualquer dificuldade!
_ E Marguerite tem o Jasper que diz a localização?
_ Apenas metade dele, para ser preciso. O jovem mestre e a Senhorita Marguerite, cada um tem uma metade. Apenas com a combinação das duas metades alguém poderia saber onde está o tesouro.
_ O quê, exatamente, é o Jasper de Fatima? Quando diz ‘a metade do Jasper’, eu imagino algum tipo de pingente...
_ Apenas os herdeiros de Aveh e Nisan sabem o que realmente ele parece.
_ Entendo. Então é por isso que eles a mantêm trancada. - e pareceu meditar consigo mesmo - O meu palpite é que, uma vez que eles descubram, as chances dela de viver são...
Só então Citan percebeu que Maison ficara perturbado e se afastara novamente, desviando seu rosto, e ficou sem jeito.
_ Ah, eu peço desculpas. Eu simplesmente, quero dizer... Eu apenas estava supondo na pior hipótese. Então, por favor, não considere isso...
_ Não - respondeu Maison de cabeça baixa - é um cenário terrivelmente realista.
Citan ficou em silêncio, sem saber bem o que dizer para dispersar a má impressão. Por fim, pigarreando, ele perguntou:
_ Aham... O que, exatamente, você quer dizer com grande tesouro...?
_ Bem - começou Maison - eu não tenho a menor...
_ O Gear...! - gritou uma voz por trás deles - Ele quis dizer o Gear! Tem que ser!
Bart acabara de entrar no refeitório e veio até eles, enquanto Maison pareceu embaraçado por estar falando de algo tão delicado com pessoas que haviam acabado de conhecer.
_ Jovem mestre... os Gears estão bem?
_ É... Mesmo sendo selados, a areia se mete nas juntas. É um pé no saco consertar, então eu tô deixando a tripulação tomar conta agora. Que seja, o meu trabalho é só pilotar mesmo... Além disso, eu sou ruim com máquinas, então só ficaria no caminho.
_ Jovem mestre...
Maison serviu uma xícara de chá a Bart, que bebeu profundamente o primeiro gole e então perguntou.
_ Que seja... do quê estávamos falando?
_ Que o grande tesouro poderia ser um... Gear? - perguntou Citan.
_ Ah, é. Sabe tem algo assim descrito em um dos pergaminhos antigos de Aveh.
_ Pergaminhos?
Bart pareceu refletir um pouco e terminou seu chá, deixando a xícara e dizendo.
_ Bem, se está interessado, então vamos à sala de planejamento. Vou mostrar o que eu quis dizer... já que vocês são meus convidados especiais.
_ Isso parece interessante. - concordou Citan com um sorriso. Sempre apreciava uma possibilidade de aprender mais. Ele e Fei seguiram Bart até uma sala próxima, onde terminais de computador e pessoas estavam próximos a uma grande tela instalada no piso. Citan ficou maravilhado com a visão de tal tecnologia.
_ Este lugar é incrível! Provavelmente, não se tem equipamento como este nem mesmo na capital!
_ He, he, he. Surpreso? - Bart parecia satisfeito, como um garoto que mostra a alguém o seu melhor brinquedo - Toda essa tecnologia é graças ao Sig.
Os três desceram até o piso onde estava a tela e cada um tomou uma posição ao lado dela, enquanto Bart deu a bronca:
_ Ei, Fei! Não fique em cima da tela! Não vamos ver nada assim!
Fei afastou-se sem responder e Bart gritou para os operadores - Tá certo, homens! Mostre o meu arquivo especial na tela principal.
Um projetor baixou e a tela sob eles ficou iluminada com uma imagem antiga curiosa, onde vultos humanos de pequena estatura aguardavam enquanto um deles parecia tocar a mão de um vulto gigante humanóide. Não se parecia com nada que Citan pudesse reconhecer.
_ O que é isso?
_ Um pergaminho de figuras, com cerca de 500 anos de idade. - respondeu Bart, indicando a figura que tocava a mão do gigante. Era pequena e vermelha, em comparação aos vultos azuis atrás de si - Este é o Rei Fatima I... “corpo vestido em chamas fazendo um pacto de sangue com gigantes.” Dizem que ele usou a força dos gigantes para fundar Aveh.
_ É fantástico que um pergaminho tão antigo exista - comentou Citan, ainda maravilhado - e em tão bom estado, também! Eu pensei que o ‘Ethos’ controlasse todas as coisas como esta...
_ Normalmente, sim. - concordou Bart - Mas essa era uma das posses favoritas do meu pai. A próxima, gente!
Os operadores trocaram a imagem e o que aparecia agora era um vulto vermelho gigante sentado num trono e envolto numa forma ovalada, com vários vultos menores e o vulto vermelho do rei diante de si. Bart explicou o pergaminho:
_ Depois de fundar o país, Fatima forçou os gigantes a dormir, para proteger o povo de seu reino se fosse necessário no futuro. Mas nós não sabemos onde eles estão escondidos. Em outro registro, um dos gigantes é chamado de “O Grande Tesouro de Fatima”.
_ E quanto ao Jasper?
_ Ei... - Bart pareceu desconfiado - Com certeza você sabe um bocado. Talvez seja um dos espiões de Shakhan?
_ É claro que não - respondeu Citan apressadamente - É apenas um interesse intelectual...
_ Eu só estava brincando - interrompeu Bart com um sorriso - Parece que o Jasper é a chave para achar nosso tesouro.
_ Uma chave... Seria isso o que Shakhan está procurando?
_ Não só ele - e Bart fechou o rosto, preocupado - A Gebler também está procurando por ele.
_ Mesmo? Então, devemos resgatar Marguerite o mais depressa possível.
_ E vai dizer pra mim?
Bart pareceu estranhamente sério então, andando sobre a tela e ficando de costas para eles antes de dizer:
_ Já que salvamos vocês... eu estava pensando se poderia, em troca, pedir um favor.
_ Seria... para que nós o ajudemos a salvá-la...?
_ Rapaz brilhante! - Bart se voltou sorrindo, mas era um sorriso de alívio - É exatamente isso! Pelo que ouvi do Sigurd... parece que tanto Aveh quanto Kislev estão atrás de vocês. Então, nós podemos ajudar vocês e vocês podem nos ajudar. Que tal? Não é pedir demais.
_ Bem, se isso paga pelo meu quarto e minha hospedagem - respondeu Citan, rindo um pouco - eu vou ajudar de qualquer forma que puder. O que acha, Fei? Você não diz nada já faz algum tempo...
_ É - Bart parecia animado - Você foi demais naquela caverna de estalactites. Só a sua força é maior do que a de dez ou vinte guardas de Shakhan.
Fei deu as costas a eles sem responder e Bart tornou a falar, num tom mais calmo: - Eu gostaria muito de ter a sua força do meu lado!
_ Por quê todo mundo quer me fazer lutar?
A resposta brusca não foi o que ninguém estava esperando e Bart foi o mais surpreso:
_ Hã...? O que é que há com você, tão de repente?
_ Fei...?
Fei subiu até a porta e então se voltou, ainda parecendo perturbado.
_ Eu simplesmente não tenho a menor vontade! “Gostaria de ter a minha força”? Eu não tenho nenhuma! O que é que há com você, Doc, com todo mundo... Estão me pondo na parede. E tem aquele Gear... Grahf e meu pai... não tenho tempo de ajudar você com os seus problemas quando já tenho o suficiente dos meus!!
E saiu sem olhar para trás, deixando Bart, Citan e os operadores sem entender coisa alguma.
_ O que é que há com ele? - perguntou Bart a Citan - Ele é sempre assim, de pavio curto?
_ Não, não é isso... eu sinto muito. As coisas têm acontecido tão depressa que ele não teve tempo de lidar com tudo ainda. Tente entender.
Fei saiu da sala profundamente aborrecido, sem saber o que fazer ou pensar. De uma sala paralela, duas crianças saíram e diziam uma à outra que iam ajudar no serviço dos Gears, e desceram de elevador. Ele foi até o refeitório e uma garotinha o parou, dizendo alegremente:
_ Eu estou esperando o meu pai. Ele está demorando, mas eu não vou chorar. Isso é bom, não é?
_ É... É mesmo bom.
O pai da menina entrou logo depois e ela se atirou nos seus braços e deu as boas vindas. Pelas roupas, ele devia ser um dos piratas que viajavam com Bart na Yggdrasil. Afagando os cabelos da menina, ele perguntou:
_ E então, você foi uma boa menina e obedeceu à boa senhora?
_ Obedeci, papai. Eu fui boazinha. E então... cadê os meus presentes?
_ Presentes?! - ele mostrou uma caixa que estivera escondendo - Que tal, aqui tem um kit de vestir de pirata!
O homem de repente percebeu Fei ali, observando a cena e sorrindo com a alegria da menina e a caixa na mão, e pareceu ficar acanhado:
_ Oooops! ... É, não tem jeito. Eu sou assim mesmo com as crianças. - e, para a filha - Já faz um bom tempo que não nos divertimos. Vamos brincar na areia!
Fei ficou observando o pai e a filha saírem para o deserto e resolveu ir até o hangar mais abaixo para pensar. Estava passando pela escotilha da Yggdrasil quando Bart saiu e perguntou com ar sério;
_ Ei, posso falar por um segundo com você?
_ ... Claro.
_ Citan me falou tudo sobre a sua história. Quer falar sobre isso? - Fei pareceu aborrecido de novo, e Bart perguntou - Por quê você não me contou? Parece que foi dureza.
Fei não respondeu nada e Bart subiu até o timão externo da Yggdrasil, dizendo sem olhar para o outro:
_ Escuta... Desculpa por ter sido um idiota... agora há pouco. Me perdoe, tá?
Fei não respondeu nada, apenas olhando para o outro lado. Bart pulou lá de cima e veio até perto dele, voltando a falar:
_ Que seja... Desculpe por ter que repetir, mas...
_ Não!
_ O quê?
_ Eu não gosto de lutar como você. Só entrei naquele Gear porque tive que entrar. Eu preferiria não pilotar. Se quer tanto assim aquele Gear, pode ficar com ele! Eu não o quero!
_ Você acha que eu gosto de lutar?... É isso?
_ Não gosta? - e voltou-se surpreso para Bart - Com certeza, é isso o que parece. Dá a impressão de que a única coisa de que você gosta é lutar.
_ Eu não posso ser tão idiota. - Bart continuava sério, e isso era realmente uma surpresa para Fei - Quem é que gosta de lutar? Fala sério! Goste ou não, eu luto porque eu tenho que lutar. Eu tenho minhas razões, mas você não ia entender.
_ Bem, eu não tenho uma razão pra lutar! Eu não quero lutar. Eu só quero viver quieto e em paz. Mas vocês ficam o tempo todo me fazendo entrar num Gear? Por quê não me deixam em paz?!
_ É porque eu vi a sua habilidade - e Bart colocou a mão no ombro de Fei - e pensei...
_ Bom, eu odeio isso! - e afastou a mão de Bart bruscamente - Sempre que eu entro num Gear, pessoas saem feridas! Se eu luto, pessoas morrem! Eu não quero ferir as pessoas! Não quero que ninguém morra! Eu odeio isso... - e subitamente pareceu muito cansado - Não conseguem ver isso?
_ É - Bart baixou a cabeça - Eu conheço o sentimento de só querer fugir da realidade. Mas você acha que os guris que ficaram pra trás na sua vila iam entender?
Fei não soube o que dizer e Bart ficou diante dele, olhando em seus olhos.
_ Citan me contou o que aconteceu em Lahan. Ia ser melhor se você não tivesse feito nada? Tá, aquilo aconteceu porque você tava no Gear, mas mesmo que não estivesse, pessoas teriam morrido... certo? Você não foi a razão. A guerra... não, as pessoas que começaram a guerra são a razão. E, a menos que você dê cabo da razão, nada vai mudar. Eu luto pra dar cabo da razão. Nesse momento não tem outro jeito, então eu tenho que lutar... mas isso não quer dizer que eu goste.
Bart então se afastou, parando ainda por um instante e dizendo sem se voltar para Fei:
_ Eu entendo porquê você se sente culpado pelos garotos na sua vila. E sei porque você não quer ferir os outros. Mas, se quer acertar com aquelas crianças, você não tem que lutar? Você tem uma razão pra lutar. - e voltou-se para Fei - Uma razão pela qual precisa lutar. Mas enquanto ignorar isso e continuar fugindo, aquelas crianças nunca vão te perdoar. Só se lembre disso. E, outra coisa... não estou dizendo que não me ajudar é fugir. Você não tem que ajudar. Isso é um problema meu. Eu não quero que se meta nisso contra a sua vontade. Mas, se eu tivesse a sua habilidade, faria de tudo para isso chegar ao fim... e acertaria isso por aquelas crianças. Pelo menos, é o que eu acho... Que seja. Desculpe por ter te segurado aqui. - e afastou-se, dizendo ainda que o mecânico queria falar com Fei sobre seu Gear. Fei voltou-se e viu que Bart já se fora, e aquilo deu no que pensar. Era estranho ouvir uma conversa tão adulta vinda de Bart, mas ele ainda não se sentia motivado a lutar.
Fei desceu até o hangar de Gears do esconderijo e o mecânico estava muito impressionado com as capacidades bem equilibradas de Weltall, mas não havia como desmontar certas peças desconhecidas para saber o que elas faziam, e nem Fei sabia o que dizer. Ele apenas olhava para o Gear diante de si, pensando consigo mesmo que Weltall era um mistério tão grande quanto ele próprio, até que alguém o chamou e ele viu que eram Citan e Sigurd.
_ Sigurd, Doc... o que foi?
_ Gostaríamos de ter uma palavra com você... - Fei concordou e os três subiram pelo elevador até o atracadouro da Yggdrasil, e Sigurd mostrou o convés superior do cruzador.
_ Olhe ali, Fei.
Fei surpreendeu-se ao ver Bart ali, sentado sozinho e parecendo aborrecido. Ele era sempre tão falador e cheio de energia que imaginá-lo quieto era impossível. Ele estava pensando consigo mesmo, falando com o pai em pensamento:
“Ei, papai... consegue me ouvir? Desde a primeira vez em que olhei nos olhos do Fei eu soube... ele é igual a mim. Ele ia me entender... ou foi o que pensei. Será que eu só imaginei isso?”
“Eu não tenho confiança. Se eu seguisse os seus passos, pai... seria como se eu fosse apenas algum tipo de decoração. No momento, eu não consigo nem dar conta do seu desejo de ir apenas resgatar a Margie... eu disse a ele que ele só estava fugindo, mas sou eu na verdade quem quer correr.”
Aquela cena parecia carregada de um vazio muito grande que incomodava Fei. E Sigurd lhe disse:
_ O jovem mestre me pediu para que lhe pedisse desculpas. Muito estranho, não? Ele sabe que é melhor se desculpar em pessoa... mas o jovem mestre não é muito bom nesse tipo de coisa. - e voltou-se para onde Bart estava - Pode não parecer, mas na verdade ele é muito solitário. Ele está sempre procurando por um amigo. Nós, seus mentores, não podemos nos tornar seus amigos. Mesmo que queiramos, ele não nos veria dessa forma. Ele sabe disso. Por quê, você pergunta? - e tornou a olhar para Fei - É por causa do fardo que ele carrega. Deve ser difícil para alguém tão jovem carregar uma responsabilidade tão pesada. Mas ele faz o seu melhor, sabe? É por isso que continuamos com ele... Não tem nada a ver com ele ser o príncipe.
Fei não sabia o que dizer. Assim como Citan, Sigurd parecia ter uma longa sabedoria adquirida com a experiência, e o imediato pôs a mão em seu ombro.
_ Fei, eu sinto que você também está carregando um fardo pesado. Isso pode ser um pedido egoísta, mas... seria possível para você ajudar o jovem mestre? Eu não estou pedindo que se carregue com os problemas ou responsabilidades dele. Mas vocês dois... será que poderiam ajudar um ao outro? Por favor...
Fei sentiu a importância daquilo e a frustração de Sigurd por não poder fazer mais por Bart, e respondeu apenas:
_ Me desculpe... Eu preciso de tempo para pensar.
_ É claro... tenha o tempo que quiser. Isso cabe completamente a você. Decida o que decidir, nós partiremos amanhã de manhã.
Citan recomendou, pouco depois, que ele fosse descansar. Ainda iria conversar com Sigurd por mais algum tempo. Fei se recolheu então, indo para o alojamento dos soldados, perguntando-se o que deveria fazer quando acordasse.
Em meio à madrugada, depois do som de bombas hidráulicas, sensores sondaram a escuridão em meio ao esconderijo de Bart. Depois de uma procura básica, o espião pareceu satisfeito.
_ Confirmado. - relatou Broyer, um oficial que só tinha cabelos no alto de sua cabeça. Era um sujeito alto e forte, de cabelos e olhos azuis - É mesmo a base deles.
_ Foi fácil demais atravessar aquela rocha. - comentou outro oficial, Helmholz, de cabelos púrpuros presos num rabo de cavalo e um par de óculos que lhe dava o aspecto frio de um cientista - Eu achei que seria um pouco mais difícil...
_ Esses cordeiros da superfície vivem com certeza num lugar muito bom... - observou Stratski, um oficial de cabelos verdes longos.
_ Olhem ali...! - indicou Renk, uma espécie de líder daquele esquadrão, outro grandalhão forte de cabelos e barba ruiva - Esse lugar foi mais bem construído do que as faculdades de Bledavik. Provavelmente, é uma fortaleza oculta construída quando o velho rei ainda estava no poder...
_ Quem liga? - perguntou o mais jovem deles, Vance, um rapaz impetuoso de cabelos castanhos curtos que saltou diretamente da fenda aberta até lá embaixo com seu Gear - Vamos logo terminar com isso!
Juntando-se a ele, Stratski deu uma olhada em volta, procurando pelos Gears dos piratas. Foi Helmholz quem encontrou o hangar e avaliou as descobertas:
_ São ‘Deurmods’, Gears piratas padrão.
_ Hah, ignore essas coisas! - replicou Vance com ar superior - Podemos arrasá-los bem depressa!
_ Por quê não levar alguns? - perguntou Stratski - Mesmo que só levemos esses, vai ter valido a pena invadir isso aqui.
_ Tudo bem. - concordou Renk - Schpariel já está posicionado na retaguarda. Preparem-se para enfrentar qualquer coisa que se meta em nosso caminho!
_ Preparativos completos! - Helmholz.
_ OK por aqui! - Stratski.
_ Qualquer hora que quiserem! - Broyer.
_ VÃO! - comandou Renk, e os cincos investiram.
Fei despertou de repente com um som forte de impacto.
_ Que batida foi aquela?
Os piratas saíam às pressas do alojamento, correndo de um lado para o outro. Logo em seguida, um sinal de alerta se fez ouvir, acompanhado por uma voz no intercomunicador central.
_ Gears penetraram a doca da Yggdrasil! Cinco Gears da força especial de Gebler e um Gear de tamanho grande não identificado. Todos os pilotos apresentem-se ao Hangar de Gears!
Para piorar, quase todos os Gears disponíveis estavam sob reparos. Meio que por reflexo, Fei dirigiu-se ao elevador e desceu até o cruzador de areia Yggdrasil enquanto a voz voltava a se pronunciar:
_ Todos os não-combatentes, dirijam-se imediatamente à Yggdrasil!!
Fei viu crianças e mulheres passando por si, e feridos, e as crianças gritavam de medo enquanto as mães procuravam acalmar seus temores, mal podendo dar conta dos próprios. Em meio ao caos e ao som de detonações, o rapaz ficou parado, confuso próximo ao timão externo do cruzador, até que uma voz o chamou. Era o Doutor Uzuki, que corria para os hangares inferiores.
_ Fei, depressa! Vá agora para o Weltall!
Fei não respondeu, desviando o rosto. Sentindo uma impaciência e a sensação de urgência aumentarem, Citan disse:
_ Bart e os outros já estão lutando! Você não vai fazer nada? Ainda acha que não tem nada a ver com você?
Fei não respondia e Citan resolveu desceu para ajudar como pudesse. Enquanto o doutor descia, Fei apertou seus punhos e baixou a cabeça.
_ Eu... O que eu sou?
A situação o impelia a agir, mas ainda havia dúvidas em sua mente, lembrando os últimos acontecimentos na caverna de estalactites que faziam com que temesse mais a idéia de ajudar do que simplesmente deixar tudo como estava.
_ Aquele velho... Ele me chamou de... ‘o assassino de Deus’...
Explosões soavam por toda a parte e o vermelho das luzes de alerta tomava tudo, e Fei olhou para os próprios punhos cerrados, negando o que acontecera com um aceno de cabeça.
_ Eu não quero esse tipo de poder...
Mas ele também se lembrava do que Bart dissera, e os gritos das mulheres e crianças pareciam ficar mais altos na medida em que ele se recusava a agir.
“Minha... força... Meu lar...”
Lá embaixo, dois Gears piratas preparavam-se para travar batalha com os intrusos quando Bart e seu Brigandier apareceram para alívio geral.
_ Quantos Gears são?! - ele perguntou - Acho que peguei a maioria da fritada pequena, mas...!
_ Tem pelo menos quatro, talvez cinco deles restando! - respondeu o oficial - O desempenho e a técnica deles é muito maior do que as dos que já enfrentamos antes!
_ Que saco...!
_ Jovem mestre! - o outro oficial indicou a dianteira, onde um Gear branco com espadas maleáveis instaladas nos ombros se aproximava - Eles estão vindo!!
Bart ganhou tempo, atacando com o Sorriso Selvagem antes mesmo da batalha se iniciar. Com os movimentos e a visibilidade perturbados, o Espadachim não teve como evitar o ataque combinado dos dois Gears piratas, e seu contragolpe foi facilmente evitado.
Diferente dos outros, o Brigandier de Bart podia usar o Turbo e o fez, aumentando mais sua vantagem e atacando pela lateral, aproveitando os golpes às cegas do oponente para laçar seus pés com o chicote esquerdo e puxá-lo.
Antes que o outro pudesse se recuperar, a velocidade extra de Brigandier permitiu outro ataque e Bart emendou com seu Chicote em Cadeia, atingindo o Espadachim com uma saraivada de golpes e terminando com um golpe conjunto dos dois chicotes. Mais danificado do que poderia para prosseguir, o Espadachim recuou.
Citan acabara de chegar ao hangar. Precisava de um Gear para ajudar na batalha e encontrou Maison próximo a um grande Gear verde.
_ Maison, este Gear funciona?
_ Perdão? - Maison olhou para o Gear que Citan indicava e respondeu - Sim, ele funciona, mas...
_ Muito bem!
E Citan correu para a cabine de comando do Gear, enquanto Maison se opunha:
_ Fora de questão! Ele ainda está sob manutenção! Não está nem sequer perto de operar...
_ Está tudo bem, Maison.
O velho mordomo voltou-se surpreso, reconhecendo a voz de Sigurd.
_ Mas Mestre Sigurd, para um cavalheiro como o bom doutor...?
_ Está tudo bem, ele vai conseguir - respondeu Sigurd, olhando para o Gear que o velho amigo escolhera - Pode até ser que isso ainda não seja suficiente pra ele.
_ Mestre Sigurd...?
As travas foram erguidas para liberar o Gear, enquanto Citan deparava-se com o painel de comando:
_ Bem... Já faz cinco anos desde a última vez em que lutei... Espero que eu ainda me lembre.
O Gear começou a sacudir e dar trancos, mas Citan firmou-se na poltrona e agarrou firme os controles.
_ Ah, um garanhão selvagem, hein? Muito bem, já é mais do que hora de alguém domar você...
O modelo de Gear oponente era um Aegis, que Citan já conhecia. Era o Gear de Broyer, que investiu contra ele logo depois da retirada do Espadachim.
_ Reforços?
O Aegis tinha o equivalente a dois escudos gigantes em seus braços, mas o primeiro golpe de Citan foi uma varredura por baixo, derrubando o outro de frente para o chão, e depois mandando-o para trás com os punhos antes mesmo que completasse a queda, o que abalou Broyer em sua cabine.
_ E-ei, isso dói!
_ Comparada à dor que os meus amigos estão enfrentando, a sua não é nada...! Não posso permitir que gente como você persista em atormentar aqueles que não podem reagir. Eu vou lutar com você no lugar deles! Venha!
_ Hã? Do quê está falando!?
Citan ativou os Turbos de seu ‘Heimdall’, atacando em seguida. Aegis o atingiu no meio da investida com um ‘Pilão’, um ataque que reduzia as defesas normais ao causar dano na defesa do Gear.
Citan viu seus monitores acusarem perda de armadura, e achou que era um bom momento de fazer funcionar a Máquina de Ether de seu Gear, ativando sua técnica ‘Sazanami’, que funcionava como um restaurador de armadura dentro do Gear.
O Aegis investiu novamente e os golpes dele e de Heimdall colidiram, com a diferença de que o golpe do primeiro quase não causou dano sem o reforço do ‘Pilão’. Com a velocidade Turbo, Heimdall aproveitou seu Nível de Ataque adicionado e Citan liberou sua técnica:
_ Kentsui!
Era semelhante ao ‘Raigeki’ de Weltall, atingindo o tórax de Aegis com seqüências rápidas e leves de golpes até achar o ponto central e golpeá-lo com toda a força, abalando o suficiente para obrigar seu adversário a fugir, finalmente.
_ Eu sei que estou meio enferrujado... - Citan comentou para si mesmo enquanto mantinha Heimdall em guarda - Há um limite para o que posso aprender, já que comecei tão tarde em minha vida. Mesmo assim, eu atingi aquele sujeito com firmeza e ele não caiu. Eles devem estar usando ‘aquela coisa’. - comentou para si mesmo num tom mais preocupado. Bart se aproximou então, e ele disse:
_ Jovem! Eles estão usando ‘Drive’! São drogas estimulantes para a batalha. Ataques normais não vão feri-los!
_ Tá falando sério? - perguntou Bart, às voltas com um Gear munido de garras - Então, é isso o que tá mantendo eles de pé, hein? Saco... Isso não vai acabar nunca!
_ Fei! - Citan chamou, mas não havia sinal de Weltall em parte alguma, enquanto dois Gears com rifles de feixes aproximaram-se pela retaguarda. Mantendo-se em guarda e ficando costa a costa com Citan, Bart replicou:
_ Tá tudo bem! Vamos conseguir sem ele!
Os Gears que chegavam exigiram a atenção de Brigandier e Heimdall enquanto o Gear de garras se afastava, e Bart iniciou como sempre com seu Sorriso Selvagem, esperando reduzir a velocidade e a precisão dos adversários, enquanto Citan ativou seu Turbo novamente e partiu para o ataque.
O primeiro tiro do Atirador mais próximo perdeu-se, graças ao Sorriso Selvagem, e Heimdall moveu-se para a esquerda e saltou, atingindo o outro com uma varredura e ficando em posição de defesa.
Seguindo um sinal de Citan, Bart posicionou Brigandier para desviar para a direita e ficar outra vez atrás de Heimdall, sendo que cada um enfrentava um Atirador. Heimdall atingiu seu oponente com um Kentsui enquanto Brigandier descarregou um golpe pesado de seus chicotes no seu Atirador, forçou a arma do oponente para o alto e despejou sobre ele um Chicote em Cadeia.
Os flutuantes Atiradores agora estavam no chão e, apesar dos efeitos do Sorriso Selvagem, podiam se guiar pelos golpes e apontaram seus rifles, como Citan esperava.
_ Agora!
Brigandier e Heimdall saíram do caminho enquanto os disparos dos rifles de cada Atirador atingiam o seu próprio parceiro, e os Gears já debilitados pelos golpes de Citan e Bart foram forçados a fugir. Mas ainda não acabara.
Duas crianças, um irmão e uma irmã, fugiam por uma das passarelas do hangar quando foram vistos por Vance, a bordo do Gear com garras, e ele sorriu.
_ Aonde acham que estão indo?
O menino estava assustado, mas tomou a frente da irmã e gritou com a voz mais alta que podia:
_ Vai embora daqui! Deixa a gente em paz!
_ Que admirável... - respondeu Vance com suavidade - Agora, que espécie de som você vai fazer quando eu fizer... isso?
A garra esquerda ergueu-se e os irmãos se abraçaram, esperando o golpe. Foi então que um Gear negro avançou e atingiu o Cavaleiro de Vance e o derrubou, tomando a defesa das crianças.
_ Quê?!
Weltall estava parado diante do Cavaleiro quando Vance se pôs de pé, e sua postura de defesa era um escudo para as crianças que fugiam.
_ Por quê está lutando? - perguntou Fei.
_ Seu... O que está fazendo?! - perguntou indignado o oficial da Gebler.
_ O que é que lutar faz por você? E se este fosse o seu lar?!
Fei havia decidido proteger o povo dali para que não acontecesse nada parecido com o episódio de Lahan por uma omissão sua, e a decisão chegara um segundo antes de ser tarde demais. Vance não acreditava na audácia daquele cordeiro de superfície de vir atacar o seu Cavaleiro, mas Fei pretendia fazer bem mais.
Seus Turbos estavam ligados e quando a pesada garra da esquerda caiu sobre Weltall, ele quase não sentiu a golpe graças a uma esquiva rápida. Tendo recuado, ele uniu as mãos abertas de Weltall diante de si, e a energia do Chi ampliada concentrou-se antes de liberar seu poder.
_ Tiro Guiado!
A onda de Chi atingiu em cheio o Cavaleiro de Vance e ele recuou. Sua proteção a este tipo de ataque era razoável, mas fora pego de surpresa. Weltall o atingiu com um golpe dos punhos, mas a distância amorteceu a maioria da força e permitiu o contragolpe do Cavaleiro com o braço direito, semelhante a um escudo redondo e Weltall rodopiou, caindo de joelhos.
O Cavaleiro investiu por cima com suas garras, mas a fraqueza de Weltall fora encenada, pondo-o em posição para liberar seu Nível de Ataque:
_ Reppu!
Weltall girou e atingiu o ventre o Cavaleiro para depois subir, jogando longe e para trás o Gear inimigo com um ‘uppercut’ perfeito. Este mesmo golpe quase não abalara Calamidade, mas deixara o Cavaleiro sem condições de lutar por mais tempo. Brigandier e Heimdall se aproximaram então e Fei recebeu as vozes de Citan e Bart pelo comunicador.
_ Fei! É bom vê-lo aqui!
_ Eu sabia que você viria!!
_ Vamos conversar depois! Temos um grande problema chegando!
O ‘Gear não identificado’ relatado antes era Schpariel, a arma secreta dos oficiais. Tendo sido derrotados, eles enviaram seu Gear automático que caiu entre os três defensores e os atacou. O Gear lembrava um disco voador redondo, com uma cabeça pequena e pés igualmente pequenos. Apenas seus braços eram compridos e sua forma curiosa ficou clara.
Tendo escolhido Weltall para seu primeiro ataque, Schpariel encolheu os braços e ficou semelhante a um pião gigantesco, investindo girando e saltando para atingir Weltall com sua ponta. Enquanto o amigo se reerguia, Bart usou o Sorriso Selvagem para piorar as condições do adversário e Citan iniciou com a varredura, derrubando o grande Gear.
Weltall então começou o trabalho de enfraquecer o outro com um Raigeki, fazendo Schpariel recuar mais, mas os longos braços ondularam e chicotearam com eletricidade, arrasando a investida de Brigandier e levantando o próprio piso com sua fúria. Mesmo caído, Bart resolveu tentar um truque novo e concentrou-se, formando um disco com sua capacidade Ether e lançando-o contra o inimigo.
_ Disco Celestial!
O ataque conseguido pela energia ampliada de Bart foi impressionante, formando um disco diante de si e fazendo-o cair como uma bomba no inimigo... mas Schpariel nem se moveu, protegido por uma defesa Ether tão boa quanto a de Calamidade. E Citan, que já conhecia o tipo de ataque usado por Schpariel, usou seu Sazanami para recuperar a capacidade de armadura perdida por Brigandier durante o ataque elétrico.
Weltall, enquanto isso, saltou sobre o Gear automático e o manteve ocupado com um Reppu, derrubando-o e conseguindo sua atenção; Schpariel usou novamente seu ataque pião, mas desta vez Weltall evitou o ataque com êxito, e Bart e Citan pensaram consigo mesmos que nem parecia coisa do mesmo Fei que se recusava a lutar. Aproveitando o erro do outro, Brigandier descarregou sobre ele seu Chicote em Cadeia e desviou a atenção do inimigo para si.
Agora posicionado atrás do oponente, Weltall subiu sobre seus jatos e ativou seu golpe mais poderoso, Hazan, atingindo Schpariel de alto a baixo com chutes pesados. Derrubado e jogado longe por mais este golpe, o Gear automático liberou seu ataque contra o solo, lançando estilhaços contra os três adversários. Em meio ao ataque, Weltall começou a concentrar energia para lançar o Tiro Guiado e Fei ouviu a bronca de Bart.
_ Você não viu agora a pouco, Fei? A defesa dessa coisa é incrível! Você não vai conseguir!
_ Não, mas o doutor vai. Comigo, Bart!
Foi então que Bart entendeu e, quando Weltall liberou seu Tiro Guiado, Brigandier fez o mesmo com o Disco Celestial. O inimigo nem se moveu, mas ficou parado escolhendo o alvo. Como Fei deduzira, o computador de combate de Schpariel só se concentrava em um alvo por vez. Tendo dois para escolher, o Gear automático ficou imóvel por tempo suficiente para que Heimdall o atingisse com um Kentsui onde já estava muito danificado, golpeando por fim o núcleo de força exposto, derrubando e explodindo Schpariel, enfim.
Depois da batalha, Fei, Citan, Bart e Sigurd se reuniram diante de Weltall e o líder dos piratas continuava olhando para o hangar avariado, sempre de costas para Fei.
_ Hã... O... Obrigado. - voltou-se então e sorriu ao repetir - Obrigado... Fei.
_ Bart...
Mas o líder dos piratas já se retirara sem olhar para trás, deixando para Sigurd o cumprimento completo.
_ Obrigado Fei. Não sei como teríamos nos saído sem você.
_ Eu... ainda não sei o que devo fazer. - replicou ele de cabeça baixa.
_ Fei...
_ O que Bart está fazendo não é para seu próprio ganho. - comentou Fei, olhando enquanto o amigo subia num elevador rumo à Yggdrasil - Ele anda no caminho em que acredita, um passo por vez... Tudo o que deseja é a felicidade daqueles que o cercam. Eu, por outro lado... Eu achei que não tivesse um caminho que poderia seguir diante de mim. Mas, como ele disse, isso é só ficar fugindo. Eu tenho que achar meu próprio caminho. - e olhou para Citan - Certo, doc?
Citan sorriu e confirmou com a cabeça. Voltando-se para Sigurd, Fei disse, com voz firme:
_ Se Bart quiser, eu vou cooperar com vocês, pessoal. É tudo o que eu posso fazer por enquanto. Mas acho que vou encontrar o caminho que deveria seguir enquanto ajudo pessoas como vocês. Mais ainda, não posso virar minhas costas e ignorar o que um grupo tão terrível de pessoas está fazendo aos outros.
_ Obrigado Fei.
Estava decidido. Diante da escotilha aberta da Yggdrasil, mais tarde, Fei, Citan e Bart conversavam com Maison, que disse:
_ Precisamos nos infiltrar em Aveh e resgatar Margie, agora! Gebler já descobriu esta base. Então, devemos deixar uma pequena guarnição e evacuar enquanto ainda podemos. Felizmente, a Yggdrasil não foi danificada, então seremos capazes de embarcar imediatamente. Os preparativos da tripulação estão completos. Queiram me acompanhar até a ponte. E, Mestre Fei e Doutor Uzuki, eu agradeço aos dois do fundo de meu coração. Eu realmente apreciaria se fossem tão gentis a ponto de ficar conosco e nos auxiliar em nossa missão de resgate.
_ Ô, já chega, já chega! - interrompeu Bart com impaciência - Deixe-me dizer adeus às mulheres antes de irmos!
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSeg Mar 15, 2010 2:32 am

Capítulo 08: Operação Aveh

Bledavik, a Capital Real de Aveh, era realmente um espetáculo à parte. Fei achara que Dazil era uma cidade grande e cheia de vida, mas a capital de Aveh era tão grande e estava tão movimentada que ele chegou a se assustar um pouco com o barulho no início. Aquilo não tinha a menor semelhança com a tranqüilidade e sossego de Lahan, e Citan estava particularmente satisfeito com isso. Ao menos por enquanto, Fei parecia estar de volta à sua disposição normal enquanto Bart descrevia um pouco de sua cidade para o amigo.
Enquanto eles entravam desapercebidos pelo portão principal da cidade, um enorme cruzador aéreo aproximou-se da cidade e desceu para um hangar subterrâneo próximo ao palácio. Suas asas de metal fecharam-se e ele atracou. Era uma nave branca e com um símbolo militar que estava se tornando muito familiar em Bledavik: o emblema da Gebler. Na ponte de comando, os oficiais de bordo relatavam:
_ Atracamento completo.
_ Convés, todas as seções em segurança.
_ Distribuição de gravidade normal. Desligando sistema de propulsão.
_ Cancelar o estado de alerta - falou o comandante - Iniciar reparos e reabastecimento imediatamente.
O comandante presente era um homem alto e de aspecto impressionante, com uma armadura mesclada em negro e cinza, de cabelos brancos e olhos cinzentos. Era a aparência tranqüila de um estudioso, mas qualquer um que conhecesse o mínimo de sua fama saberia tratar-se de um mestre espadachim temível mesmo entre altos membros da Gebler. Ao seu lado, uma bela jovem de cabelos e olhos de um tom azul muito escuro e com o uniforme branco de imediato falou:
_ O Primeiro Ministro e o General Vanderkaum estão aqui para vê-lo, Comandante.
_ Hmph, que boas-vindas mínimas.
_ O que esperava? - indagou ela com o mesmo ar de superioridade do outro - Estamos na ‘superfície’.
_ Vamos desembarcar, Miang. - respondeu ele, com um gesto de pouco caso para o lugar onde estavam, e ela o seguiu. Ambos foram recepcionados em pessoa por Shakhan e pelo general, e o Primeiro Ministro foi o primeiro a dar as boas vindas.
_ Bem, bem, Comandante. - disse Shakhan - Você acabou de chegar ao comando e já está alcançando esplêndidos resultados.
Shakhan era um homem alto, quase da mesma altura que o comandante da Gebler, mas era mais magro e calvo. Seus olhos repuxados e o bigode fino davam uma impressão de cinismo e mesmo aliados não ficavam à vontade próximos a ele. Shakhan passava a impressão de sempre estar planejando uma forma de levar a melhor sobre os demais e, depois do seu golpe de estado que levou à morte o antigo rei Edbart IV e o colocou no poder, essa impressão era ainda mais nítida. Ele ainda disse estar impressionado pela facilidade com que o novo comandante afastara os soldados de Kislev, mas o outro meramente passou por ele e dirigiu-se a Vanderkaum.
_ Eu não posso acreditar que vocês foram vencidos por uma força tão pequena... Acabei de conseguir o meu posto e já está me embaraçando!
O General Vanderkaum era um homem ainda mais alto do que o próprio Comandante, mas tinha maior experiência de combate do que o novato diante de si e uma aparência mais terrível. Além da altura, da força física evidente, a despeito de sua idade e do olhar frio, ele ainda trazia uma estranha cruz púrpura tatuada em seu rosto. Todos os seus subordinados o temiam e com certeza teriam ficado surpresos em vê-lo baixar a cabeça e aceitar a reprimenda sem retrucar:
_ Eu sinto muito, Comandante. Eles eram mais persistentes do que havíamos antecipado. Eles tinham um novo modelo de Gear que era muito móvel. Eu não pude coloca-lo no alvo do canhão principal. De outra forma, nós com certeza não teríamos sido vencidos por...
_ Idiota! - interrompeu o Comandante - Saiba quando usar a arma principal, e em quem! Você falhou porque tenta sempre resolver tudo à força. Tem músculos no lugar de cérebro!
_ Comandante!!
Vanderkaum estava indignado pela reprimenda pesada, e mais ainda por ter sido feito diante de outras pessoas, mas o Comandante meramente fez um gesto para que se fosse e disse:
_ Dispensado. Vá polir o seu amado canhão de 1200 sem.
E ele próprio afastou-se, deixando Miang para trás falando com Vanderkaum e obrigando Shakhan a apressar-se para acompanhar seus passos.
_ Amanhã é o 500o aniversário deste país. - disse o ministro - Por favor, venha à cerimônia de dedicação.
O Comandante não olhou para ele, nem disse qualquer coisa. Shakhan resolveu insistir:
_ Há um Torneio costumeiro depois da cerimônia de dedicação...
_ E quanto ao incidente daquele relatório? - perguntou o Comandante, ainda sem olhar para o outro. Miang os estava alcançando e ouviu Shakhan responder:
_ O quê? Ah, está falando da arma móvel de quinhentos anos de idade retirada das ruínas? Graças à ajuda do ‘Ethos’, os reparos estão completos. Eu achei que poderíamos anuncia-la no dia da cerimônia de dedicação...
Já haviam deixado o hangar e caminhavam agora pelos corredores que levariam para o interior do Castelo Fatima. Ainda sem olhar para o outro, o Comandante disse:
_ Brinquedos como aquele devem ser dados a Vanderkaum. Eu estou falando do ‘Jasper de Fatima’.
_ Eu já obtive uma metade do artefato - respondeu Shakhan enquanto passavam por outro corredor - Mas não fui capaz de faze-la me dizer onde a outra metade está. É uma garota de vontade muito forte...
Do corredor, passaram a um elevador que os conduziu para cima e o Comandante perguntou, agora olhando para Shakhan:
_ Você não está sendo duro com ela, está?
_ Claro que não. Eu sei como você despreza atos vulgares como esse.
Mas o Comandante não podia dizer nem pela voz nem pela expressão de Shakhan se ele estava dizendo a verdade, e tornou a olhar para a frente.
_ Você disse que a garota é a Madre Sagrada de Nisan... Ela está lá em cima?
_ Sim, na torre leste.
_ Miang - perguntou ele à sua imediato - será possível que fosse uma ‘Relíquia’?
_ Sim - confirmou a jovem - mas ainda não há resposta. Deve haver uma barreira, ou algo do tipo. No entanto, nós sabemos pelos registros de quinhentos anos atrás que uma delas certamente existe nesta vizinhança. E provavelmente está bem preservada.
O Comandante apenas concordou pensativamente com a cabeça por um instante, antes de dizer:
_ ... Vamos nos encontrar com ela. Quero falar diretamente com ela. Miang, você vem comigo.
_ Sim, senhor.
O casal seguiu Shakhan até uma porta vigiada na torre leste do castelo, e o ministro ordenou:
_ Abra a porta. O Comandante Ramsus está aqui para vê-la.Comandante Ramsus
A porta foi aberta e Ramsus e Miang entraram. Lá dentro, uma jovem com cerca de quatorze anos levantou-se surpresa com a visita e os olhou com curiosidade:
_ Quem são vocês?
_ Eu sou Ramsus, e ela é Miang. - a voz do Comandante agora era gentil e controlada, o que teria surpreendido Vanderkaum e qualquer outro que tivesse ouvido sua reprimenda ainda antes - Gostaríamos de fazer-lhe algumas perguntas.
_ Eu sou Margie. - respondeu a garota, parecendo estar à vontade - Bom, na verdade é Marguerite. O que vocês querem saber? A minha comida favorita? Eu gosto de bolos, o Chiffon de Nisan é o meu favorito. Já faz tanto tempo que eu não como nenhum...
Shakhan não entrara com eles. Uma câmera escondida no quarto estava ativa enquanto a entrevista acontecia, e puderam ouvir Ramsus dizendo:
_ Marguerite, nós queremos perguntar a você sobre o tesouro da família Fatima. Estou falando do ‘Jasper de Fatima’. Sabe, eu estou mantendo o pedaço que você tinha num lugar seguro. Mas não sei onde está o outro pedaço. Você sabe?
_ Não sei - disse a garota, dando de ombros com ar ingênuo - O que eu tinha vocês tiraram de mim. E nem me deram nada por ele! Ah! Da próxima vez que vier, pode trazer um pouco de Chiffon de Nisan? Eu costumava comer dele todo o dia em Nisan. Acho que não fazem aqui em Aveh. Aveh costumava ter confeiteiros muito bons, mas eu acho que todos devem ter morrido na guerra.
A garota era mesmo muito ingênua, pensou Ramsus. Falava dos mortos lamentando mais a perda da sua sobremesa favorita e tinha aceitado com naturalidade a perda de sua metade do Jasper, queixando-se apenas de não ter recebido nada em troca. Era como uma criança, e foi assim mesmo que ele a tratou.
_ Isso é mesmo uma pena. Bem, eu não entendo muito de bolos, mas vou ver se consigo encontrar algum para você da próxima vez.
_ Obrigada, Ramsus. Eu vou ficar esperando!
_ Precisa de mais alguma coisa? Se houver algo que você queira, eu trago da próxima vez.
_ Não, eu só quero voltar pra Nisan. - disse ela, juntando suas mãos e olhando para baixo - Eles devem estar muito preocupados comigo.
_ Eu sinto muito mas, por favor, espere só por mais algum tempo. Nós queremos que fique aqui até acharmos a outra metade do ‘Jasper de Fatima’.
Pela câmera, Shakhan estava a par de tudo o que fora falado e não fez questão de esconder sua admiração.
_ Estou espantado que ela tenha falado tanto. Ele consegue manobrar as mulheres tão bem quanto diz.
Levantou-se, então, e torceu a garrafa de vinho que nunca deixava sua cabeceira, baixando o quadro que disfarçava o monitor enquanto seu auxiliar perguntava:
_ Está tudo bem?
_ Eu não posso impedir que eles se encontrem com ela. Não quando é dele que estamos falando. Além disso, Marguerite não está falando mesmo. Então, não há necessidade de se preocupar. Mas por onde a informação sobre o Jasper vazou...? Pelo ‘Ethos’? - e fez um gesto brusco em seguida, dispersando a própria idéia - Ridículo!
Mas continuava a andar de um lado para o outro do aposento, inquieto, pensando na integridade dos seus planos. Por fim voltou-se para o auxiliar.
_ É melhor descobrirmos quem está deixando vazar informações imediatamente. Neste meio tempo, teremos que administrar um pouco de soro da verdade em nossa convidada, Senhorita Marguerite. Precisamos encontrar a outra parte do ‘Jasper de Fatima’ tão rápido quanto pudermos.
_ Mas...
_ Apesar dos feitos do último comandante, Vanderkaum, desta vez a Gebler enviou seu maior oficial comandante. Seu país está jogando todo o seu peso nesta questão. E não há nada que possamos fazer quanto a isso!

-o-

De volta a Aveh, Bart estava feliz por estar de volta à sua cidade, mas também estava olhando para todos os lados. Era preciso cuidar-se com guardas ou pessoas que pudessem reconhece-lo como o filho do falecido rei, pois isso podia ser perigoso. Citan sugeriu que fossem até a estalagem mais próxima e, uma vez lá, disse:
_ Vamos alugar um quarto aqui para podermos planejar com calma.
_ Ah... com licença, você não é o Príncipe Bartholomew?
Os três se voltaram para deparar com uma jovem freira. Cautelosamente, Bart perguntou:
_ E você é...?
_ Fui mandada para cá pela Seita de Nisan. Estou aqui para saber de Madre Marguerite. Eu sabia que viria mais cedo ou mais tarde, Príncipe Bartholomew...
_ Bem, não devemos conversar aqui. - interrompeu Citan - Há um quarto que possamos usar?
_ Sim, claro. Vocês devem estar exaustos. Por aqui.
Eles seguiram a freira até o seu quarto e só depois, com as portas já fechadas, ela perguntou a Bart:
_ Desculpe perguntar, mas quem são...?
_ Ah, estes são Fei e Citan. Vão me ajudar a salvar Margie.
_ Muito obrigada por virem até o calor deste deserto - ela inclinou a cabeça em agradecimento - Eu sou uma serva da Seita de Nisan. Desde que Shakhan levou a Madre Marguerite eu tenho procurado meios para salva-la. Tenho tentado descobrir onde ela está sendo mantida. Eu estive ocupada ouvindo os operários falando nas idas e vindas do castelo e dado comida aos guardas que estão preparando o Torneio para soltarem suas línguas, também. Finalmente, ontem eu consegui a informação. Margie está na cidadela. O problema é como penetrar no castelo. Eu pensei muito a respeito mas a situação parece muito má. Sinto muito.
_ Tudo bem. - tranqüilizou Bart - Ao menos sabemos onde ela está agora. Pode relaxar, nós vamos achar um meio de penetrar no castelo.
_ Minhas desculpas. Se houver mais alguma coisa que eu possa fazer para ajudar, é só pedir. Você tem alguma boa idéia?
_ Ainda não. - respondeu Bart - Mas vamos dar uma volta pela cidade e ver o que podemos descobrir. Sossegue! Nós vamos achar um jeito de trazer Margie com a gente!
_ Muito obrigada a todos. Me avisem, então, quando tiverem um plano. Poderão me encontrar aqui.
Os três voltaram para a feira animada que acontecia no mercado. A cidade fervilhava de vida com a cerimônia de dedicação tão próxima, e Bart achou que poderia encontrar velhos conhecidos na cidade para falarem sobre um meio de entrar no castelo. Fei e Citan, por sua vez, seguiram rumo à feira mais próxima do castelo e foi lá que um sujeito afobado perguntou:
_ Ei, chapa! - disse, dirigindo-se a Fei - Vai entrar no Torneio também e tentar se tornar o campeão?
_ Campeão de quê? - perguntou Citan.
_ Como? Não estão sabendo do Torneio?
_ Vai nos perdoar, mas acabamos de chegar e não sabemos nada sobre o Torneio.
_ Ah, turistas, hein? Bem, deixem eu falar do Torneio. Todo ano eles promovem um grande torneio de artes marciais aqui, em Aveh. Lutadores de todo o mundo se reúnem para ver quem é o mais forte. É como uma grande briga. Todos ficam loucos apostando em quem vai ganhar. Então, que tal tentar a chance?
_ Apostar no Torneio... - meditou Citan - Permitem isso num evento tão grandioso?
_ Pode apostar. Os soldados são loucos por isso. Se Kislev nos atacasse amanhã, Aveh seria história. - Citan gostou muito de ouvir aquilo, embora o rapaz animado não tenha percebido nada - E aí o que vão fazer? Ainda dá pra se registrar, mas os mais fortes já estão registrados. Os restantes vão ser só prêmios de consolação, mesmo...
_ Vamos esperar para ver. - respondeu Citan - Pode ser que alguns lutadores fortes ainda não tenham se registrado.
O rapaz se afastou e Citan disse:
_ Fei, podemos tirar vantagem disso! Se você criar uma distração no Torneio, os guardas prestarão mais atenção em você do que em seus postos. Isso tornará mais simples para nós penetrarmos no castelo e resgatar Margie. E então, vai entrar no Torneio?
_ Quem... Eu?
_ Enquanto você atrai a atenção dos guardas, o jovem pode invadir o castelo. Com certeza você percebe que este é o único meio de podermos entrar. - Fei ainda pareceu indeciso e Citan tomou a frente, indo fazer o registro dele. Fei disfarçou seu nome e assinou como o “Jovem Viajante” e ambos foram dizer as novidades para Bart.
_ Haverá um Torneio amanhã, e com certeza, as mentes dos soldados estarão mais no Torneio do que em seu trabalho. Podemos usar isso a nosso favor.
_ Como assim?
_ Fei vai participar. Faremos com que ele de um dê um grande show. Agora, como fará para entrar no castelo?
_ Ah, isso? Bem, um conhecido falou de uma história sobre um garotinho que ficou preso no sistema de dutos d’água do castelo durante uma brincadeira. Desde então, as grades que dão acesso ao duto têm estado trancadas. Só que o meu conhecido tinha a chave.
E mostrou uma chave pequena e antiga com ar de satisfação. Mas Citan ainda não parecia muito certo disso.
_ Você acha que consegue nadar contra a corrente, jovem? Lembre-se que, no sentido do castelo, é preciso nadar rio acima.
_ Eu sei, Citan, mas as correntes não são sempre intensas. Pode dar algum trabalho, mas acho que consigo chegar até lá.
_ Então está bem. Fei vai atrair a atenção deles enquanto participa do Torneio, enquanto Bart entra no castelo através das trilhas d’água, a partir do poço da cidade. Depois disso, ele resgatará Marguerite da cidadela. Eu irei com Fei ao Torneio e vou ajudar com a multidão, e garantir nossa fuga. Vamos por este plano em prática amanhã. Por isso, é melhor descansarmos um pouco.
Os dois concordaram, mas nem Bart nem Fei puderam dormir muito bem, pensando no que aconteceria no dia seguinte. Para Bart, se tudo corresse bem, deveria ver novamente o velho Castelo Fatima e salvar sua querida prima Margie. Para Fei, quem saberia?
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSex Mar 19, 2010 4:50 pm

Capítulo 09: O Torneio

O dia começou cedo para os conspiradores e Citan já estava pronto quando Fei e Bart despertaram.
_ Bom dia. A operação ‘Resgate de Margie’ agora está em andamento! Primeiro, Fei e eu iremos nos preparar para o Torneio na arena. Quando o Torneio começar, Bart entrará na trilha d’água pelo poço e rumará até o castelo. Tenho certeza de que conseguirá, mas ainda deverá haver guardas lá. Livre-se deles em silêncio, por favor. Nós faremos um bom trabalho para que o Torneio atraia a atenção dos guardas tanto quanto for possível. Neste tempo, você pode resgatar Margie.
_ OK, então, vamos por isso pra funcionar! - animou-se Bart.
_ Então iremos adiante. Cuide-se, jovem.
Fei e Citan rumaram para a arena na praça do castelo. Ao chegar na ala dos lutadores, foi ordenado que Citan ficasse junto à torcida e o doutor aconselhou Fei a não deixar qualquer batalha terminar muito depressa, pois quanto mais pudesse manter a atenção do público, mais simples seria para que Bart penetrasse no castelo. Curioso com seus possíveis adversários, Fei entrou na Tenda dos Participantes. Entre eles havia um grandalhão de sobretudo vermelho, cabelos verdes e com uma pose que, se significasse poder de luta, indicaria que aquele seria seu adversário mais duro. Fei ouvira falar dele durante sua breve estada em Dazil; era Big Joe. Também havia garotas entre os lutadores, mas o que realmente surpreendeu Fei foi descobrir um conhecido de Lahan entre os competidores.
_ Dan? O que está fazendo aqui?
_ É culpa sua que Alice... - o garoto voltou-se para ele com olhos nada amistosos - Eu nunca vou te perdoar. Eu vou matar você!
_ Dan...
Nesse momento, um soldado entrou e avisou que o Torneio começaria logo e que todos os participantes deveriam entrar na arena. E Dan saiu da tenda dizendo:
_ Você é o inimigo de todos em Lahan! Eu vou chutar o seu traseiro diante de todo mundo! E não adianta tentar fugir!
Dan saiu e misturou-se à multidão sem que Fei pudesse detê-lo, detido de repente por um homem misterioso envolto num manto azul cinzento e com uma estranha máscara branca a ocultar-lhe o rosto.
_ Ei senhor, você é de Lahan? - Fei voltou-se intrigado para ele, e o homem comentou em tom casual - Me parece que você e aquele menino têm alguma espécie de problema.
_ Quem você pensa que é? - Fei perguntou irritado - Meta-se nos seus assuntos!
O homem apenas riu em resposta, e Fei perguntou:
_ O que é tão engraçado?
_ Nada... Só estou imaginando que espécie de luta você terá com aquele menino... Bem, acho que terei que esperar para ver, ‘Fei’.
_ Hã...?
O homem saiu da tenda e Fei perguntou-se como ele podia saber seu nome, se Dan não o dissera e ele nem ao menos se registrara no Torneio com seu verdadeiro nome. Mas isso seria uma resposta para descobrir mais tarde.
No hotel, Bart sentia que sua impaciência poderia matá-lo e finalmente ouviu os clarins do castelo que anunciavam o início do Torneio, e voltou-se para a freira de Nisan.
_ Tá pra começar! Melhor eu me preparar, também.
_ Esse plano vai mesmo funcionar?
_ Já começou. Se algo estiver errado agora, então vai ser dose!
A preocupação dela ameaçava contagiá-lo, e Bart procurou parecer muito à vontade.
_ Ei, não se preocupe, Fei vai ficar bem! Além disso, Citan também tá com ele. Tudo o que eu preciso fazer agora é invadir o castelo pelo poço. Sem problema.
_ Eu rezo para que esteja certo.
_ Bom, eu vou indo. Margie está esperando na cidadela.
_ Então, boa sorte. E muito obrigada por estar ajudando a Madre Marguerite.
_ Sem crise! E é melhor você também sair de Aveh. As coisas vão ficar animadas logo, logo.
Despedindo-se da freira, Bart seguiu rumo à grade mais próxima do hotel, erguendo a proteção e metendo-se nos túneis d’água enquanto Shakhan aparecia na varanda do palácio de Aveh e começava o discurso de abertura do Torneio:
_ Bravos jovens estão derramando seu sangue nas linhas de frente. Nosso exército é o melhor, mas as ondas da guerra são incertas. Para proteger a tradição de Aveh e preservar a paz neste deserto, todos devemos fazer resoluções perturbadoras. O deserto é um tesouro precioso passado a nós por nossos ancestrais. Aqui, podemos forjar nossas mentes e corpos em um só. Nossos professores são o sol e o vento. Nos reunimos aqui hoje, com nossos corpos fortes forjados pelo deserto. O sol sobre nós é o mesmo que queima sobre nossos pais no front. O vento soprando aqui é o mesmo que agita nossa resolução e nossas preces e as leva aos nossos filhos no front. Este Torneio eleva nossos espíritos e renova nossas bênçãos deste deserto em que vivemos.
Eram palavras inspiradas, sem dúvida, mas Shakhan podia estar sendo sincero tanto quanto podia estar fingindo. Sua expressão e o tom de voz continuavam insondáveis. E ele prosseguiu:
_ Bravos, guerreiros, lutem bem e não envergonhem nossos irmãos no front. Que o 338o Torneio comece!
Um gongo soou na praça e a multidão foi ao delírio. Shakhan olhou para baixo, satisfeito com o discurso.
_ Umm... Uma fala entusiástica, se posso dizer isso de mim mesmo.
Alguém se aproximou por trás e Shakhan reconheceu a figura marcial de Ramsus.
_ Ah, Comandante Ramsus. Desculpe tê-lo mantido esperando. Por aqui, por favor.
Miang entrou logo atrás de Ramsus, mas o comandante não aceitou a poltrona especial que lhe fora destinada.
_ Temo que eu não tenha tempo para tais frivolidades. Passei apenas para me despedir.
_ É uma pena - lamentou Shakhan - Não gosta do nosso entretenimento?
Ramsus deu uma olhada para a praça onde os lutadores se reuniam e respondeu simplesmente:
_ Eu acho tedioso.
_ Ora, deixe estar, Comandante. - disse Miang - Shakhan está apenas tentando mostrar hospitalidade. Pessoalmente, eu acho artes marciais muito interessantes. Ficarei esperando para ver o Torneio.
_ Dizer que este evento é um tributo a você, Comandante, não é subestimar. - floreou Shakhan - Sua graciosa ajuda em nossa hora de necessidade nos permitiu celebrar a fundação do país hoje.
_ Fundação, que impróprio - e voltou-se para Shakhan - Nem ao menos é o seu país. Hmph, faça como quiser.
Virou as costas e saiu. Sem se dar por achado, Shakhan perguntou:
_ Miang, e quanto ao Torneio? Vai nos agraciar com sua companhia?
_ Sim, seria um prazer.
_ Ah, está começando!
O gongo soou novamente lá embaixo, anunciando a primeira luta: Gonzalez contra o ‘Jovem Viajante’. Ante a ovação do público, Miang viu Fei entrando na arena pela ala esquerda e comentou consigo mesma:
_ Meu...! Que rapaz bonito!
A luta começou. Gonzalez era um grandalhão careca e barbudo com uma clava de homem das cavernas e um físico bruto, mas Fei logo percebeu que não teria dificuldades para vencer, se quisesse.
Ainda assim, a fim de tornar as coisas mais simples para Bart, ele procurou encenar uma boa luta. Os primeiros golpes com a clava eram lentos demais, mas Fei levou todos eles, apenas tendo o cuidado de não receber os mesmos em cheio. Enquanto Bartholomew Fatima vencia as alterações de intensidade entre a correnteza subterrânea que seguia até o castelo, Fei levou alguns golpes mais pesados e recuou até a borda do ringue. Enquanto Bart saía do reservatório de água e levava uma bronca do velho zelador, Fei evitou o golpe que o derrubaria para além do ringue e revidou com um Raijin, lançando Gonzalez para o outro extremo da arena, quebrando a clava e pondo o adversário fora de combate.
Bart acabara de sair para o pátio interno do castelo, olhando desconfiado para os lados, mas não havia qualquer guarda realmente próximo, e os demais pareciam estar olhando para fora das muralhas. Na arena, Fei lutava contra o badalado e exagerado Big Joe, que entrou na arena fazendo alarde e, depois de uma volta por todo o ringue, voltou-se para Fei e apontou para ele, dizendo:
_ Sinto muito garoto, mas agora é a ‘hora do Joe’!
Pior do que o trocadilho, só mesmo o estilo de luta do grandalhão de cabelos verdes. Fei não conseguiu entender porquê a platéia delirava tanto, mas ao menos isso tornava a luta um pouco mais fácil de disfarçar; Joe só seria perigoso se sua pose fosse poder de luta. Fei teve que enfeitar muito e fingir sentir os golpes para conseguir segurar a luta mais um pouco, mas quase instintivamente bloqueou um ataque de Joe e o atingiu em cheio, derrubando-o para fora da arena e encerrando a luta, mediante os olhares incrédulos da platéia e da choradeira do grandalhão.
Bart subia até o segundo andar, escondendo-se entre as bibliotecas e cômodos enquanto procurava por Margie. Teve que enfrentar alguns guardas menores. Problemas, sem dúvida, mas bem menos do que seria de esperar no castelo. Fei devia estar fazendo um ótimo trabalho.
Na arena, enquanto isso, Fei deparou-se com o mago viajante Scud, uma figura curiosa com um turbante na cabeça e um manto verde que disse para que ele tivesse cuidado com suas pílulas. Pareceu estranho a Fei até ser atingido pela ‘Pílula Estranha’ do mago, que envenenou Fei e o deixou atordoado e fraco, alvo perfeito para o ataque de abelhas do alquimista. Enquanto Fei tentava clarear a mente, Scud o atacou com uma faca e depois recuou, espantado com a resistência do rapaz.
Fei esperava que Bart estivesse adiantado dentro do castelo, pois Scud finalmente era um adversário que precisava de atenção. Scud aproveitou o momento de pausa para usar uma ‘Pílula Forte’ e uma ‘Pílula Alegre’ para garantir que seu próximo golpe seria o último. Foi, portanto, uma surpresa para ele quando seu ataque seguinte, rápido demais para qualquer ser humano, como ele pensava, Fei saltou para longe e colocou-se em posição de defesa, já recuperado pelo poder do seu Chi e pela sua técnica do ‘Valor de Ferro’, que aumentaria a sua força.
Scud atacou novamente, ainda mais veloz do que qualquer humano comum, mas ele não era realmente um lutador. Seu primeiro ataque com a faca encontrou o vazio, e um Senretsu de Fei o jogou para o alto e para trás, conseguindo uma ovação ruidosa do público.
Semifinais do torneio. Fei olhou para o adversário e surpreendeu-se, pois não era ninguém menos que Dan. O menino olhava para ele com o mesmo olhar rancoroso de antes, e não era menos surpresa o simples fato de ele estar ali.
_ O que está fazendo aqui, Dan?
_ Hmph! Eu fugi da casa da Yui! Estou aqui pra vingar a morte da minha irmã! Seu assassino! Você vai pagar!
_ Dan, por favor...
Nem mesmo para manter o disfarce de seu amigo Fei se obrigaria a lutar com Dan, e o menino aproveitou para atacar com golpes que o próprio Fei lhe ensinara, enquanto dizia atacar por sua irmã, por Timothy e por todos os de Lahan. Fei no entanto não teve problemas para se afastar ou para conter os golpes do menino, até que Dan subitamente se afastou e uniu as mãos, reunindo energia do Chi diante de si.
_ Heh! Não vai escapar, seu assassino!
E a liberou num Tiro Guiado que quase lembrava o poder do Weltall em sua aparência e, Fei logo percebeu, talvez quase em força, também. A rajada de energia recobriu o rapaz e o empurrou para trás com violência, e Fei precisou de toda a sua força e concentração para não ser jogado para fora da arena.
Dan lançou outra vez o Tiro Guiado, e Fei não conseguiu esquivar-se, suportando sem poder se mover e esperando que Bart aproveitasse a chance, porque estava certo de que não passaria daquela luta.
Bart, enquanto isso, estava num lance de escadas e subindo depressa. Haviam alterado algumas coisas dentro do Castelo Fatima; nem tudo estava como ele se lembrava, e agora, havia guardas atrás dele. Tiros espocaram atrás de si e ele subiu, desaparecendo da visão de seus perseguidores. Eles continuaram a segui-lo e se voltaram para a esquerda, por onde ele fora, e o jovem príncipe os atingiu de repente, balançando nos chicotes que prendera a um caibro do teto e derrubando os guardas de surpresa. Como iria imaginar que haveria vigias responsáveis o bastante para não estarem vendo seu amigo Fei na arena? Ou seria possível que Fei tivesse sido derrotado?
“Ah não, de jeito nenhum! - ele pensou consigo mesmo - Até parece! Ninguém pode ganhar daquele cara! É melhor parar de pensar bobagem e ir buscar a Margie; mesmo sem perder, uma hora ele vai ser o campeão, e o Torneio acaba. Tenho que me apressar.”
De volta à arena, não parecia provável para Fei que ele seria o campeão. Seu poder da Cura Interior estava revigorando suas forças e amenizando seus ferimentos, mas não iria agüentar aquilo para sempre. Dan estava descarregando mais e mais Tiros Guiados sobre ele, e a platéia estava de fôlego preso, indagando-se quanto mais o Jovem Viajante suportaria sem revidar. Então, Dan finalmente pareceu ficar cansado.
_ Droga, Fei... por quê você não revida?! Anda, eu te desafio!
_ ... Não posso. Não posso me obrigar a atacar você, Dan!
_ Droga! Derrubar você tão facilmente não vai satisfazer as almas da minha irmã ou do Timothy! Saco! Vou ter que deixar esse duelo pra depois. Da próxima vez em que eu te encontrar, vai ser o seu funeral! Até lá, fique com isso!
E jogou um tecido branco na direção de Fei. O rapaz constatou com surpresa que era o vestido de casamento de Alice, e Dan ainda disse:
_ Sempre que olhar pra ele, quero que sofra e sinta a culpa pelo que você fez!
Dan desapareceu da arena logo em seguida e não ouviu nada do que Fei queria dizer.
Enquanto Bart finalmente chegava à torre leste, começou a luta final do Torneio entre Fei e o estranho mascarado identificado como “Sábio”. Fei procurou tomar logo a ofensiva, mas não conseguia atingir o oponente.
O Sábio não revidava seus golpes, mas nenhum deles tampouco tocava o homem de manto. Sem conseguir atingi-lo e já ouvindo as primeiras vaias da platéia, Fei não pôde deixar de comparar a sua luta atual com a que tivera antes com Dan, o mais forte evitando atacar para não ferir o mais fraco, e se incomodou com a facilidade que o outro tinha em evitar mesmo seus golpes especiais, como o Raijin ou o Senretsu.
Finalmente, ganhando espaço após ter um chute alto repelido, Fei disparou um Tiro Guiado e derrubou o Sábio, que no entanto girou no ar e caiu de pé.
“Isso não é nada bom - pensou Fei - Desse jeito...”
_ Bem como eu pensava - disse o Sábio repentinamente, e mediante a surpresa de Fei, ele tornou a perguntar:
_ Você, onde foi que aprendeu essa técnica?
_ Quem se importa com isso... Ande! Lute pra valer!
_ Hmm. Então, por quê está lutando? Por si mesmo? Ou em nome de outros?
_ Por quê está perguntando? - Fei mantinha a guarda alta, mas as perguntas o haviam perturbado.
_ Não tem que haver uma razão, ou um objetivo para uma pessoa lutar?
_ As minhas razões não são da sua conta!
_ Então, está lutando sem nenhuma razão ou objetivo?
_ Quer calar a boca? Eu estou a caminho de descobrir o meu propósito!
_ ... Então esqueça! Pois não há meio de você encontrar tal coisa.
_ O quê?
_ Você parece estar olhando adiante, mas, na verdade, só está olhando para baixo! Só está olhando para si mesmo. Desse jeito, não vai encontrar nada.
_ Como você pode saber...?
_ Eu sei - e deu as costas a Fei de braços cruzados, quase parecendo rir sob a máscara - Apenas trocando golpes com você posso fazer uma boa idéia.
_ Ah, cale-se!
Fei tornou a atacar, mas o Sábio o evitou como se ele fosse uma criança, e respondeu:
_ Fraco, fraco... Não vai sequer me tocar com esse tipo de ataques... Mas, superficialmente ao menos, você parece ter amadurecido fisicamente.
Fei continuou sem entender. Quem era aquele homem? E ele continuou, deixando Fei ainda mais surpreso.
_ Você se saiu bem se recuperando daqueles ferimentos, Fei...
_ Hã? Como você sabe o meu nome?! Eu deliberadamente não usei meu nome verdadeiro quando entrei nesse concurso. E isso de me recuperar dos ferimentos...? Você não é quem eu penso que é?!
De repente, o Sábio curvou-se como se sentisse dor e, diante da dúvida de Fei, ele perguntou-se:
_ Oh, Deus... já é hora? Acho que não posso evitar... Tenho que partir!
E foi exatamente o que ele fez, embora Fei ainda tivesse perguntas a fazer e a platéia ainda quisesse ver uma luta. Pela desistência do Sábio, Fei foi aclamado vencedor... mas ele sentia que as perguntas não formuladas eram importantes demais para sentir-se como tal.
Bart descobriu uma ala bem protegida no palácio e achou melhor investigar. Infelizmente, havia mais guardas ali que não haviam se retirado para ver o Torneio e não estavam dispostos a conversar.
Margie ouviu um som de confusão do lado de fora da porta do seu quarto. Depois, pareceu que a coisa agravara-se. A confusão virou uma luta que saiu do controle, e ela ainda se indagava se deveria se aproximar e ver o que acontecia quando um dos guardas arrebentou a porta com o corpo, arremessado por um poderoso golpe de um jovem, um rapaz loiro de um olho só que ela conhecia muito bem.
_ Bart!Margie
_ Vamos pra casa, Margie!
Ela correu até ele e o abraçou aliviada, e o alívio era mútuo. Bart e Margie haviam crescido juntos e eram muito próximos, e só recentemente tinham descoberto o quanto podiam sentir falta um do outro. Com Margie ali, abraçada a ele, Bart sentia sua força voltar, e tudo parecia possível de novo. Sentira muito a falta da prima, e não voltaria a se afastar dela. Era bom sentir o rosto dela em seu peito. E ela disse, numa voz carinhosa:
_ Eu sabia que você viria por mim.
Foi quando Bart lembrou-se do lugar onde estava, e que ainda corriam perigo. Era bom estar com Margie outra vez, mas precisavam sair dali.
_ Eu vou te tirar daqui. Anda, vem comigo!
_ Tá. Ah, espere só um segundo - ela foi até um dos sofás e agarrou um estranho bicho de pelúcia rosa, dizendo meio sem jeito - Eu gosto muito disso.
Margie ainda não perdera muito do seu jeito de menina ao que parecia, pensou Bart. De qualquer forma, ele a conduziu pelo corredor, pretendendo alcançar a fonte e sair dali do mesmo modo que entrara. Antes que chegasse à escadaria principal, a porta abriu-se e apareceram ninguém menos que Ramsus e Miang, e Margie agarrou seu braço.
_ Bart, olhe!
_ Saco, a Gebler!
_ Parece que nós temos ratos - disse Ramsus, à sua maneira fria e impessoal - Onde planeja levar essa menina, garoto?
_ Garoto? Hah, garoto?!? Experimente me chamar disso de novo! E quem diabos é você, afinal?
_ Você tem audácia. Mas eu não preciso dar meu nome a ratos como você.
_ O quê?
Bart não gostara realmente nem um pouco de Ramsus e sua atitude superior, e o pior era que o outro não se incomodava nem um pouco com isso.
_ Agora, entregue a menina - ele disse apenas - Ela é uma convidada muito importante. Até que ela nos diga onde um certo pedaço do Jasper de Fatima está, não podemos permitir que ela seja levada.
_ Dá um tempo! Você acha que eu vou entregá-la só porque você mandou? Sai do caminho, seu cretino da Gebler!
Nem isso pareceu perturbar Ramsus, e Bart tomou a frente de Margie. Ia haver encrenca, e ele não queria que nada acontecesse a ela. Ramsus deu um passo à frente e disse, ainda com seu porte Altivo:
_ Hmm. Eu presumo que você saiba onde uma linguagem tão abusiva levará você.
E sacou sua espada, enquanto Bart soltou seus chicotes. Ele se sentia estranhamente tenso. Havia algo naquela calma imperturbável do outro que o deixava inseguro, mas não deixaria que prendessem Margie de novo. A garota de cabelos curtos e olhos azuis escuros atrás do soldado finalmente falou:
_ Se realmente quer proteger aquela criança, então se renda agora... Príncipe Bartholomew!
_ Hã? Ah, então você sabe de mim, hein? - Bart estava realmente surpreso, mas não pareceu muito aborrecido - heh. Não é uma impressão tão ruim ter o nome conhecido por alguém tão bonita quanto você.
_ Ba-arty! - repreendeu Margie atrás dele. Miang, ignorando os comentários, disse:
_ Você pode ter tido seus problemas com Shakhan, mas nós não vamos tratá-lo tão mal. Quanto a Shakhan, nós achamos que ‘qualquer um’ é satisfatório para nós.
_ É bom saber disso, mas eu não posso aceitar. - Bart meneou a cabeça - Sabe, pra mim, ‘qualquer um’ é ruim.
_ Então está decidido - e Ramsus tomou a frente, a espada em posição de ataque. Bart se colocou em guarda e disse sem se voltar:
_ Tch... Margie! Se esconda ali atrás!
_ Não! Eu vou lutar, também!
_ Tanto faz, só se esconda!
Bart iniciou a luta com seu golpe ‘Caçador de Cabeças’, abrindo a guarda de Ramsus com seu chicote direito enquanto prendia suas pernas com o esquerdo para depois derrubá-lo. O comandante da Gebler, no entanto, meramente rolou para trás e partiu para o contragolpe, e os dois imediatamente começaram a se atacar com golpes equivalentes em força e velocidade.
O fato de ter uma arma a mais não favorecia Bart, ele logo percebeu, pois Ramsus era bom o bastante com a espada para conte-lo e ainda revidar; não tardou para que mais e mais talhos se desenhassem em suas roupas e seu corpo, com ferimentos cada vez mais pesados. Mesmo recuando, Bartholomew não conseguia evitar os ataques de Ramsus, embora se sentisse revigorar aos poucos.
Ramsus investiu pela frente e ele precisou de seus dois chicotes para desviá-lo, e foi então que viu que Margie estava rezando por ele atrás da pilastra, e entendeu de onde vinha sua resistência maior; ter uma prima que era a Grande Madre de Nisan, com orações que eram como uma técnica Ether de cura, tinha as suas vantagens.
Detendo-se e tornando a investir, Ramsus repeliu os chicotes de Bart e atacou pela direita, e o jovem pirata decidiu que era hora de terminar com aquilo; com seu ataque mais forte; “Duplo Sônico”, seus dois chicotes caíram sobre Ramsus enquanto sua guarda estava aberta e o jogaram para o alto, e o balé furioso das armas perseguiu o comandante da Gebler mesmo enquanto este caía ao chão.
Os ferimentos de Ramsus, no entanto, não pareciam muito graves e ainda se curavam visivelmente depressa. Bart voltou-se na direção de Miang e viu que ela parecia concentrada, de olhos fechados e mão direita erguida. A imediato obviamente estava curando Ramsus assim como Margie fazia com ele, mas num ritmo muito mais acelerado.
_ Você não é ruim, garoto - Ramsus disse - Nesse caso, é melhor que terminemos logo com isso.
Bart preparou-se para o pior, já respeitando a força do rival, mas tudo o que Ramsus fez foi manter a espada em riste diante de si próprio e fechar os olhos, como se concentrasse suas forças. Sem querer esperar pelo que poderia ser um ataque devastador, Bart ergueu a mão esquerda e condensou a energia Ether diante dela na forma de uma moeda, arremessando-a contra Ramsus antes de seu ataque.
_ Disco Celestial!!
Foi um erro. O Disco deteve-se na espada do comandante, que girou sua arma no ar contra Bartholomew e lançou toda a energia do Disco Celestial de volta contra Bart na forma de farpas dispersas, o que feriu o rapaz seriamente, a ponto de quase nocauteá-lo.
Margie deixou seu esconderijo e abraçou Bart, esperando poder curá-lo a tempo, enquanto Ramsus veio até os dois com ar imponente.
_ Foi tolice atacar durante a minha “Defesa Espelho”, moleque. Posso voltar a força de qualquer ataque contra meu inimigo. Você não deveria ter me desafiado.
Bart sabia o que viria, e praguejou consigo mesmo por não ter sido capaz de proteger Margie como deveria. A espada de Ramsus em breve terminaria seu serviço, e ele sequer conseguia ficar de pé.
_ Bart!
Miang, Ramsus e Margie não reconheceram a voz da figura que entrou pela janela, mas Bart sabia quem era. Fei penetrou no castelo e chegou em cima da hora, afastando Ramsus com um golpe facilmente bloqueado e depois emendando com um indefensável ‘Raijin’ que afastou Ramsus e Miang e deu a Margie o tempo necessário para recuperar os ferimentos de Bart, enquanto o próprio Fei se mantinha entre os amigos e os inimigos.
_ Você tá bem, Bart?
_ Estou feliz... que esteja aqui, Fei.
_ Fei?
Havia algo no nome que ouvira e na técnica que o atingira que perturbaram Ramsus, mas Fei não percebeu naquele momento, ocupado em bronquear com o amigo.
_ O que houve, Bart? Eu pensei que esse era só um simples resgate.
_ Ah, cala a boca! Que culpa eu tenho que esse asno tenha aparecido e me atrasado?
Margie estava curiosa quanto ao amigo de Bart que chegara numa hora tão oportuna, mas estava ocupada recuperando os ferimentos do primo. E Ramsus não interviu, também sem ação.
A forma como Fei surgira era semelhante a alguém de seu passado. Havia tropas inteiras de Gears, mas aquela figura vestida em rubro-negro e com longos cabelos ruivos soltos derrubava-os com facilidade sem sequer pilotar um Gear. Um disparo seu, e um Gear caía. Um golpe seqüenciado que Fei chamaria de ‘Senretsu’, e outro Gear foi ao chão. Um terceiro Gear caiu diante de um golpe onde o desconhecido carregara seu poder no punho e depois o liberou explosivamente num ‘Raijin’, como o que Fei acabara de usar.
Miang subitamente lembrou-o de que agora havia dois inimigos a enfrentar, e Bart afastou Margie ao ver o outro erguer novamente a espada e clamar:
_ Chega de falar! A batalha revelará a verdade sobre você.
Fei e Bart ficaram lado a lado em guarda, e o pirata preveniu:
_ Cuidado aí, Fei! Esse Gebler pode ser um asno, mas é um asno muito forte!
A luta recomeçou. Os dois amigos atacaram juntos, mas a reputação do oficial não viera à toa. Sua espada dançava com mestria diante de si para evitar os chicotes de Bart, e então Fei atacou com seu golpe Hagan, saltando, atacando com vários chutes e finalmente caindo sobre si mesmo com um salto mortal, após um chute mais potente.
Um ataque poderoso, mas que quase não abalou Ramsus, ainda sendo recuperado à medida que se feria por Miang. Mesmo sem ela, no entanto, o fato do oficial resistir sozinho aos dois demonstrava uma capacidade impressionante, e ele quase não era atingido, apenas recuando quando tal acontecia e atacando a cada bloqueio, ferindo os dois. Quando ele posicionou sua espada novamente numa defensiva, Fei teve seu ataque detido por Bart que disse:
_ Espera aí, Fei, que isso é a tal ‘Técnica Espelho’ dele. Se atacar agora, você não vai gostar.
_ Isso está demorando muito, Bart - as preces de Margie não os recuperavam com velocidade suficiente, e Fei estava usando todo o seu treinamento marcial para resistir ao cansaço - Se ficarmos lutando aqui por muito tempo, logo vão aparecer guardas e nós não temos como lutar com tanta gente assim.
_ Se tiver uma idéia melhor, eu tô ouvindo.
_ Pra falar a verdade, tenho - e voltou-se para Bart, falando em voz baixa - Vamos combinar os nossos golpes.
_ Quê?
_ A garota de cabelos azuis está mandando energia Ether pra curar ele quase na mesma proporção em que nossos ataques o ferem. Se combinarmos vários golpes de uma só vez...
_ É... pode funcionar. Mas vamos ter que ser rápidos e pegar ele de guarda baixa.
Ramsus agitou a espada, desfazendo a postura de defesa e completamente recuperado. Fei posicionou-se para atacar e perguntou:
_ Pronto?
_ Quando você quiser, Fei!
Fei correu na direção de Ramsus, e o outro veio contra ele com a espada pronta. Golpeou, mas Fei saltou sobre ele e passou pelo adversário enquanto Bart atacou com seu ‘Caçador de Cabeças’, aproveitando a guarda baixa do comandante e fazendo Ramsus atingir pesadamente a pilastra em seu caminho.
O comandante ainda se punha de pé quando Fei o alcançou com um Raijin, fazendo Ramsus atravessar a pilastra com seu corpo e derrubando partes do teto sobre o oficial da Gebler, que se ergueu furioso. O poder de Miang ainda o revigorava, mas a seqüência de ataques fora dolorosa. Viu Fei tornando a atacar e ergueu sua espada para a Defesa Espelho, mas o primeiro chute do Senretsu jogou longe a lâmina, e os chutes seguintes pegaram Ramsus desprotegido, atingindo-o em cheio.
O encerramento do ataque, um golpe de mãos juntas de Fei, jogou Ramsus na direção de Bart, e o líder dos piratas castigou o comandante Ramsus com um ‘Sônico Duplo’, atingindo-o com um balé rápido e furioso de seus chicotes. Por fim, prendeu o pescoço de Ramsus e o girou na direção de Fei, que saltou sobre o oponente e caiu sobre ele com um Hagan, quebrando sua armadura, ferindo-o pesadamente e jogando-o quase inconsciente ao chão.
Aturdido mediante a violência e velocidade dos ataques seguidos, Ramsus pensou consigo mesmo: “Ele parece... completamente diferente... e não há resposta. Seria só a minha imaginação? Mas... aquelas técnicas são realmente as dele...”
Por um instante, a imagem do estranho de cabelos ruivos tempestuosos e sua arrogante postura de combate tremeluziu ao lado de Fei e parecia fazer par com a dele. Miang veio ficar ao seu lado e guardas começaram a entrar pela porta atrás deles.
Fei atacou os guardas da frente com um novo Raijin, lançando-os sobre os de trás e para além da porta. Foi quando Margie se pronunciou;
_ Deixem o resto comigo!
_ Margie? - Bart não entendeu nada, até que a garota usou sua oração e, de parte alguma, vários e vários ratos cinzentos irromperam e investiram contra Ramsus, Miang e os guardas que entrariam em breve. Em meio ao tumulto, um rapaz com uniforme militar entrou por uma porta paralela e Fei comandou:
_ Agora!
E os três correram para lá, empurrando o jovem soldado para trás e entrando pelo elevador em que ele viera. Ainda ferido e em meio aos ratos, Ramsus pensou enquanto Miang o curava:
“É ‘ele’? Ou apenas quero pensar que é ele...”
Na verdade, a idéia de que Fei pudesse ser aquele de quem Ramsus se lembrava trazia uma sensação desagradável, que ninguém que tivesse vivido ou servido com o comandante poderia imaginar nele: medo.
“Se for ‘ele’... eu... eu sou...”
E novamente aquela voz feminina familiar falou em sua mente, parecendo ter dito aquilo havia muito tempo e, ainda assim, perigosamente real...
“Sem valor... Um rejeitado...”
_ Guarda! - sua voz e a presteza em se pôr de pé negavam seu estado debilitado quando ele deu suas ordens - Dobrem a guarda em todas as saídas! E não deixem aqueles ratos entrarem aqui outra vez!
Descendo pelo poço, o trio de fugitivos não podia estar menos disposto a voltar. Curioso, Bart perguntou:
_ Ei, Fei! Sabe aonde este elevador vai?
_ Não sei. Pra onde ele vai?
_ Eu é que tô perguntando! Essa coisa não estava aqui antes.
Então, nenhum dos dois sabia para onde estavam indo. Fei imaginou que isso era bem típico das situações em que se metia com Bart, mas o pirata já estava consolando a prima com voz calma:
_ Não se preocupe. Nós vamos te levar de volta pra casa... de algum modo!
_ Eu não estou preocupada.
O elevador continuou descendo, e Bart pareceu lembrar-se.
_ Ei, Fei, como é que foi o Torneio?
_ Ah, eu venci... acho.
_ Como eu pensava. Eu sabia que você podia!
O elevador finalmente chegou lá embaixo, e eles seguiram por um corredor metálico até o que parecia um hangar. Olhando em volta, Fei reconheceu a enorme nave de batalha aérea da Gebler que vira da floresta, quando estava com Citan. E Margie disse:
_ Olhem só o que está saindo dela...!
Uma fileira interminável de soldados Gebler estava saindo, todos correndo na direção do trio. Sacando os chicotes, Bart perguntou:
_ Por acaso vocês tão com disposição pra outra batalha?
_ Bart - Margie segurou no braço do primo - é melhor nós sairmos daqui... e rápido!
_ Corram, depressa!
E, seguindo Fei, eles fugiram para a direção oposta e entraram pela primeira porta à sua frente, com uma verdadeira legião de soldados em seus calcanhares.
Nos alojamentos dos soldados dentro do hangar, Elhaym Van Houten ouviu o sinal de alerta e uma voz de aviso:
_ Há intrusos na base! Três intrusos atualmente seguindo pela área da doca. Os dois homens devem ser mortos, mas a garota não deve ser ferida!
Como bom soldado, Elly saiu de seu aposento, na direção indicada pelo alerta e teria se unido à equipe de perseguição se, naquele momento, o trio de fugitivos não tivesse chegado até ela, e foi uma figura conhecida quem acabou esbarrando na jovem. Depois da surpresa do encontro, veio à surpresa de um reencontro.
_ Fei!
_ Você... Elly? O que está fazendo aqui?
_ Eu era quem devia estar te perguntando! - olhou atrás de Fei e viu Bart e Margie com o cansaço de quem tinha corrido muito e não quis acreditar - Não me diga que vocês são os intrusos, Fei?
_ Hã?
Bart estava agitado com a perseguição e a adrenalina em seu sangue estava alta. Ele pôs a mão nos chicotes e começou a dizer, enquanto avançava:
_ Se ela está em nosso caminho, é só...
_ Espere um segundo, Bart! - replicou Fei, contendo-o - Ela não... Elly não é inimiga!
_ Não é inimiga? Cê tá maluco? Olha só o uniforme dela! É uma oficial da Gebler!
Antes que Fei pudesse responder, a porta no fim do corredor abriu-se e eles puderam ouvir seus perseguidores chegando. Depois de um tenso segundo sem saber o que fazer, Elly abriu a porta de seu alojamento e comandou:
_ Depressa, por aqui!
Ela fechou a porta assim que eles entraram, e puderam ouvir o som de passos apressados correndo do outro lado. O som persistiu por algum tempo e depois acabou.
_ Parece que eles se foram... - comentou Elly, ainda junto à porta. Passado o susto, Bart indagou:
_ Fei, quer me explicar como é que você conhece uma oficial da Gebler?
_ Bem... é complicado...
_ Olha, eu não sei de onde você a conhece, mas não importa como veja, ela é uma oficial da Gebler! Não é uma inimiga? De onde você tirou essa?
Ao invés de responder, Fei voltou-se para Elly como quem pede uma confirmação, e ela fez que sim com a cabeça:
_ Sim. Forças Especiais do Império Sagrado de Solaris, também conhecida como Gebler... Eu sou a Tenente Elhaym Van Houten, da Terceira Divisão de Ataque do Exército de Ignas. E... enquanto voltava de uma missão para capturar o mais novo modelo de Gear de uma fábrica militar de Kislev, fui atacada por Gears perseguidores de Kislev e fiz um pouso forçado na sua vila.
Fei apenas ficou em silêncio e Elly pareceu subitamente sem jeito - Eu queria contar, mas não consegui me obrigar a... - ela baixou seus olhos, sem conseguir olhar para ele - Quando ouvi o que o meu pouso de emergência causou na sua vila... não consegui dizer...
_ Eu sabia.
Elly olhou para ele sem acreditar, e só depois de um instante percebeu que ele falava sério.
_ ... Fei?
_ Eu ouvi enquanto você falava com o Doc.
_ Então, por quê?
_ Foi... tudo culpa minha. Mas eu descarreguei em você os meus próprios sentimentos... me desculpe.
_ Não, não foi...
Elly não sabia bem o que dizer. Não quisera falar a Fei sobre sua identidade por temer a reação dele, e agora... ele se desculpava. E fez que não com a cabeça, dizendo:
_ Basta esquecer disso. Você não podia evitar... tinha seus próprios problemas.
_ Mas, Fei... - e olhou curiosa para Bart e Margie - por quê está com eles?
_ Eu estou cooperando com Bart e sua tripulação. Viemos resgatar Margie, que tinha sido feita prisioneira no castelo.
_ Entendo...
Elly tomara sua resolução depois de ouvir aquilo, e abriu a porta para o corredor, sobressaltando Bart.
_ Ô, espera um minuto! Onde você acha que está indo?
_ Vocês querem sair do castelo, certo? Nessa confusão, vocês podem fugir pela porta de lançamento de Gears.
_ Grande idéia! Mas... será que nós realmente engolimos essa? Não, acho que não! Ela fala manso, mas provavelmente tá planejando nos entregar pra aquele velho careca. É um truque, Fei!
Fei simplesmente não acreditava nisso, sabendo inconscientemente que Elly nunca faria uma coisa dessas, e não era apenas opinião sua, pois Margie tocou o braço do primo e disse:
_ Espere, Bart! Ela não é má pessoa. Ela disse que nos ajudaria, então vamos seguir o seu plano.
_ Ah - respondeu ele com um gesto de impaciência - você é sempre assim! Não dá pra ver... que ela é da Gebler?! Não seja tão confiante, droga!
_ Isso não é verdade - e voltou-se para Elly - é, Elly?
_ Ah, é? Olha só onde a sua habilidade de julgar caráteres te colocou...! - mas ele só estava reclamando por hábito, pois sabia que não iria convencer Margie do contrário, e procurou apoio em Fei - E quanto a você, Fei? Acredita nela?
_ Eu já tomei minha decisão há muito tempo. - e olhava para Elly, que não soube o que responder. E Bart ficou exasperado.
_ Gah! Primeiro você, agora ela! Que me importa! Vocês dois podem pular de um barranco que eu não me importo nem um pouco!
A decisão já fora tomada. Elly saiu primeiro para verificar o corredor e pediu que esperassem, chamando-os em seguida.
_ A costa está livre. Depressa, sigam-me!
Os três acompanharam Elly até o hangar de Gears, não encontrando qualquer obstáculo. Diante de um dos Gears militares, Elly entregou uma combinação de números a Fei.
_ Esse é o código de partida do Gear. Podem ativar qualquer Gear padrão com este código.
Fei pareceu confuso, até entender que Elly não pretendia ir com eles. Ela fez sinal com a cabeça e disse:
_ É tudo o que posso fazer por vocês. O resto cabe ao destino.
_ Tá certo - e Bart tomou a frente, quase empurrando Margie consigo - Vamos, Fei!
Mas Fei continuou parado olhando para Elly, que também olhava para ele. Parecia faltar algo a se dizer ali, e Bart chamou com impaciência:
_ O que está fazendo? Anda logo!
_ Venha com a gente, Elly! - Fei surpreendeu a moça, e continuou - Você não é o tipo de pessoa adequada a um lugar destes!
_ Fei...
_ Ô, vocês tão perdendo tempo falando! - Bart interrompeu de novo - Eles vêm vindo! Nós vamos ser presos!
Fei também sabia que o tempo era curto, mas voltou-se mais uma vez para a moça ao invés de atender Bart.
_ Elly...
Com pesar, ela acenou que não com a cabeça - Obrigada, mas isso é impossível. Eu... sou um soldado de Solaris. Este é o lugar ao qual pertenço. Eu não posso ir com vocês.
E afastou-se, então. Fei ainda chamou por ela mais uma vez, e ela parou sem se voltar para dizer:
_ Fei, na próxima vez em que nos encontrarmos... nós seremos inimigos.
E afastou-se correndo, sem dar mais chance para que ele dissesse nada. Depois de vê-la desaparecer pela porta do corredor, Fei voltou-se e entrou no Gear sem dizer palavra, e quando Bart quis fazer algum comentário foi silenciado por um gesto de Margie. As comportas se abriram e o Gear deixou o hangar pela porta de lançamento.
Pouco depois, Elly estava alinhada com vários outros soldados e oficiais da Gebler, com Ramsus diante de si dando ordens à sua imediata:
_ Miang, prepare o meu Wyvern! Eu tenho que persegui-los...
_ Comandante!
Ramsus voltou-se para o jovem oficial que o interrompera e ele cochichou:
_ Comandante, eu recebi uma mensagem de Hyu...’
Elly não pôde ouvir o que fora dito, mas Ramsus subitamente perguntou em voz alta - O quê?!
Ele deu um suspiro, como que se resignando a algo que não o agradava e depois fez um gesto, ordenando:
_ Desliguem a força! Chamem todos os homens de volta para a base e esperem por ordens posteriores! - e cruzou os braços, parecendo pensar consigo mesmo - Aquele tolo... O que ele está fazendo aqui agora...?
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb Mar 20, 2010 9:25 pm

Capítulo 10: A Caminho de Nisan

A Yggdrasil recolhera os fugitivos no deserto e agora eles estavam rumando para Nisan enquanto conversavam no convés com Sigurd, e ele perguntou:
_ Bem, Marguerite, agora que já salvamos você, posso fazer uma pergunta? Por quê resolveu ir contra o inimigo sozinha?
_ Desculpem... - e ela pareceu acanhada - mas... eu ouvi um rumor na cidade naquele dia... Diziam que as irmãs da seita que haviam sido capturadas por Aveh ainda estavam vivas...
_ Obviamente, um rumor infundado começado pelo inimigo a fim de atrair você - concluiu Sigurd, mas Maison interveio:
_ Por favor, não seja tão duro com ela. A Seita de Nisan é o lar de Marguerite. É perfeitamente compreensível.
Bart ainda não havia se pronunciado, fingindo estar muito ocupado com o timão do convés. Ao ouvir aquilo, voltou-se.
_ Então... você achou que podia salva-las sozinha?! Isso foi burrice!!
_ Eu achei que podia! E daí?! Eu estava errada. Mas... - e Margie pareceu perder a irritação novamente, voltando as costas e olhando para o deserto - mas... vovó e mamãe já tinham sido executadas...
_ Marguerite...
Sigurd, bem como os outros, podiam entender o quanto aquilo devia ser doloroso para a moça. Para acalmar os ânimos, Maison pigarreou:
_ Seja como for, Marguerite está aqui ilesa. Isso é o que importa! Antes que a sorte acabe, levemos Marguerite para Nisan. Podemos conversar mais lá. Agora, eu irei preparar o seu quarto... Senhorita Marguerite, posso pedir que me acompanhe?
Maison se retirou e Margie seguiu logo atrás dele, mas ela não dera cinco passos ainda antes que Bart a chamasse.
_ Margie!!
A moça voltou-se e viu o olhar do primo, agora bem mais compreensivo, quando ele disse:
_ Da próxima vez avise a gente! Nós vamos com você.
_ Tá... Eu vou fazer isso.
Ela parecia triste, mas um tanto reconfortada, quando deixou o convés. Passado um instante, Sigurd comentou:
_ Marguerite está suportando tudo sozinha. Jovem mestre, você deve ser gentil com ela.
Eles desceram pouco depois e a primeira coisa que Fei e Bart descobriram foi o bicho de pelúcia rosa que Margie fizera questão de trazer consigo. Estava bem diante da ponte de comando e atrapalhando quem queria entrar e Bart comentou com o amigo:
_ Essa Margie! Deixar um bicho estranho desses bem aqui! Agora fica aí, interrompendo o caminho pra a ponte!
_ Isso não é estranho! - retrucou uma voz fina e Bart olhou para os lados, antes de olhar feio para Fei.
_ Ei Fei!!! Vamos parar com as vozes engraçadas, tá?!
_ Hã? Mas eu não disse nada!
_ ... Esquisito. Mas que seja, vamos pedir à Margie pra dar cabo disso.
E lá se foram os dois rumo ao quarto de Margie, próximo ao hangar de Gears da Yggdrasil. E mal chegaram lá, Bart foi dizendo:
_ Ei Margie, livre-se daquele animal de pelúcia estranho que tá sentado diante da ponte! Está no caminho!
_ Ela não é um ‘animal de pelúcia estranho’! Tem um nome! O nome dela é Chu-Chu! Mas é esquisito. Ela estava bem aqui, onde eu coloquei, um momento atrás...
Foi quando a porta se abriu e o ‘bichinho de pelúcia’ de Margie entrou e falou com a voz fina que Fei e Bart tinham ouvido antes:
_ Prazer em conhecer vochu!! Eu sou Chu-Chu! - e voltou para Fei seus grandes olhos escuros - Eu me apaichunei por vochu quando vi vochu pela primeira vez em Bledavik!! Para onde quer que vá, eu vou com vochu!
E ela então virou o rosto, parecendo terrivelmente sem jeito enquanto dizia para si mesma:
_ Ah, meus deuses... Eu acabei de declarar o meu amor!!
Bart coçou a cabeça e pareceu muito surpreso, mas também estava se divertindo:
_ O que nós pensamos que fosse só um brinquedo de pelúcia é na verdade um animal vivo! Esquisito!
_ Não admira que ela parecesse tão quente agora há pouco! - comentou Margie de braços cruzados e com ar de quem tinha entendido tudo. Fei foi o único que não achou tanta graça, ao notar que Chu-Chu estivera falando com ele.
_ O q-quê?
_ Manda ver, Fei!! - Bart deu-lhe um tapinha no ombro - Tá tudo bem. Eu, como capitão, dou a vocês a minha permissão!
Chu-Chu pulou de alegria, Fei mandou que Bart ficasse quieto e Margie riu. Vendo a animação da criaturinha rosa e o ar sem graça do amigo,Bart riu mais ainda e se afastou comentando:
_ Bom, eu não quero interromper vocês dois, então vou esperar na ponte.
Fei balançou a cabeça desconsolado mas, apesar de também estar rindo, Margie ficou um pouco mais séria quando Bart saiu e agradeceu a Fei.
_ Obrigada pela sua ajuda no castelo. Eu... ouvi dizer que você esteve ótimo no torneio. Bart estava se gabando do quanto vocês eram companheiros, e tudo o mais.
_ M-mesmo? - perguntou Fei voltando-se para ela, parecendo um pouco menos embaraçado. E Margie deu as costas a Fei, baixando a cabeça e parecendo envergonhada.
_ Sabe, eu queria poder ajudar ao Bart, mas acabei devendo a ele de novo. Fei - e voltou-se para ele - você já viu as costas do Bart? Ele tem cicatrizes ao longo das costas, e elas parecem muito dolorosas. Há muito tempo, quando nós dois fomos presos por Shakhan, Bart me protegia de levar surras. Naquela época eu decidi segui-lo... para servi-lo e protege-lo! Mas é sempre ele quem me protege...
Fei continuou em silêncio. Não era realmente o tipo de imagem que se faria de Bart conhecendo-o superficialmente, mas ele realmente sabia ser responsável quando o assunto era alguém com quem se importava. E Margie pareceu ficar embaraçada de repente por falar de forma tão aberta, e se desculpou.
_ Hã, ah, me desculpe... Seja como for, muito obrigada por ter me salvo!
Pouco depois na ponte, Fei encontrou Sigurd e Bart conversando e procurou acompanhar o assunto. O imediato de cabelos brancos estava falando sobre o que Margie lhe dissera a respeito de um causador de problemas da Gebler, e Bart confirmou:
_ É, acho que já vi... Então, quem diabos é ele?
_ Pela descrição de Margie, acredito que seja Kahran Ramsus, da Agência Especial de Tarefas no Estrangeiro do Império de Solaris. Em outras palavras, ele é o comandante em chefe da Gebler. Parece que a Gebler não está apenas procurando pelas áreas de escavação em torno de Aveh, afinal.
_ Tá querendo dizer que eles não estão atrás do Jasper?
_ Se este fosse o único objetivo deles, não precisariam enviar um homem importante como ele! Jovem mestre, isso pode se tornar inesperadamente complicado...
_ Desculpe interromper, Sigurd - interrompeu Fei - mas o Doc não voltou ainda, voltou?
_ Ah, Hyu... digo, ‘Doc’... Bem, não precisa se preocupar com ele, em breve se reunirá a nós. E estamos a caminho de Nisan, através da estrada secreta. O sinal para localiza-la é uma árvore solitária no deserto.
Citan chegou à Yggdrasil pouco antes da entrada do cruzador na estrada secreta. Enquanto a nave desaparecia pela estrada subterrânea, Sigurd e Citan trocaram confidências na sala de conferência do cruzador e com ar pensativo, Sigurd disse:
_ ... Agora entendo porquê você veio até a superfície... Certo, eu entendo você. Mas Kahran Ramsus... assumir o posto de Aveh é muito inconveniente.
_ O país natal pode ter tido algumas razões especiais - comentou Citan pensativamente - mas talvez ainda haja uma chance de sucesso. Você e eu, que costumávamos ser chamados de “Elementos” na escola de treinamento do comandante em Jugend estamos aqui!
_ Espero que esteja certo...
_ Aliás, ela ainda está...?
Sigurd pareceu ainda mais preocupado antes de concordar com um aceno de cabeça.
_ De acordo com Fei, havia uma auxiliar feminina ao lado de Kahr, e ele disse que ela possuía olhos e cabelos cor azul índigo... Então, deve ser ela...
_ Então, todos os antigos membros dos “Elementos” estão na superfície do mundo agora...
_ Acho que sim - e Sigurd voltou as costas ao velho amigo, parecendo um pouco nervoso antes de dizer - Hyuga... Para ser honesto com você... ela me assusta. Ela apóia Kahr e é gentil com todos, eu sei muito bem disso, mas às vezes eu sinto um medo estranho dela. Isso me incomoda mais do que Kahr estando nesta terra.
_ Isso não pode ser verdade... Não nela.
_ Sim, eu também não quero acreditar nisso, mas não se lembra de como eu sempre pude sentir essas coisas com precisão?
_ Sim, me lembro - Citan pareceu mais preocupado, sabendo que os instintos de Sigurd eram dignos de toda a confiança. Meio que para sair do assunto, ele perguntou:
_ Aliás, você já contou ao jovem...?
_ Não, ainda não. Não quero que ele se preocupe até sabermos exatamente quais são os objetivos de Solaris. Mas, eventualmente, eu terei que contar a ele. Mas de qualquer forma, Hyuga, você conseguiu alguma informação?
_ Na verdade não - lamentou Citan - Eu saí de lá antes de penetrar na seção central...
Sem que ambos soubessem, Fei estava no alto da escadaria ouvindo a conversa, absorto em pensamentos como o nome pelo qual Sigurd chamava Citan. Estava tão absorto que deu um pulo quando alguém chamou baixinho pelo seu nome.
_ ‘Fei!!’
Ele voltou-se sobressaltado, mas viu que era apenas Bart, também chegando devagar para espreitar a conversa.
_ ‘Ah, é você Bart?! - ele disse baixinho - Não me assuste desse jeito...!’
_ ‘Foi mal, foi mal - ele olhou para baixo, ficando tão intrigado quanto Fei - Me parece que Sig e seu amigo doutor conhecem muito bem um ao ouro. Sig... que droga, achei que eu sabia de tudo sobre aquele cara!
_ Quando o Doc voltou...? - perguntou-se Fei, voltando a olhar para baixo.
Mas isso seriam respostas para depois. Não tardou para que a poderosa Yggdrasil aportasse na doca secreta em Nisan. O povo aguardava ansioso, pois Sigurd providenciara para que a cidade soubesse que Marguerite estava retornando e, no momento do desembarque, Maison desceu com os viajantes enquanto Sigurd fazia os acertos finais a bordo. Bart foi o primeiro a descer e perguntou ao primeiro aldeão conhecido como estava a cidade.
_ Apesar da alegria do povo com a volta da Madre Marguerite - disse o homem - recebemos notícias há vários dias atrás de que pode haver um exército avançando da Capital Real, e os representantes da Seita estiveram em discussão desde então.
_ E o que eles decidiram?
_ Até agora, planejam apenas reforçar as defesas locais. E pessoas contrárias a Shakhan foram reunidas aqui... Provavelmente porque eles ouviram sobre o que está havendo.
_ Bem, isso é reconfortante.
_ Sim. No entanto, os habitantes estão começando a se sentir inseguros. Há pessoas começando a se refugiar nas montanhas ao norte.
_ Não dá pra culpa-los.
_ É claro. Aliás, como está Marguerite...?
_ Melhor do que pensávamos. Mas eu sei que ela passou por maus bocados.
Margie desceu pouco depois, e o grupo de recepção ficou visivelmente alegre com o retorno da Grande Madre. Juntamente com Maison, Citan, Fei e Bart, ela cruzou os portões da cidade e olhou maravilhada para tudo o que podia.
_ Uau! Já faz tanto tempo desde que eu saí daqui!
_ Bem - disse Citan - antes de mais nada, devemos acompanhar Marguerite até o templo da seita...
Foi quando notaram Bart olhando para trás, e ele perguntou com ar intrigado:
_ O que foi, Velho Maison?
Foi quando todos notaram que o mordomo estava chorando, enxugando discretamente uma lágrima no canto do olho.
_ *Sniff...* Os deuses me agraciaram...! E pensar que a pequena Senhorita Marguerite finalmente foi capaz de voltar para cá... É tão comovente!
Citan e Fei olharam para Maison, para Bart e novamente para Maison, e Bart pareceu ficar sem jeito diante das lágrimas do seu tutor:
_ E-ei! Vê se se controla, velho!
Maison mais do que depressa enxugou as lágrimas, também parecendo sem jeito:
_ M-me perdoem... Que terrivelmente embaraçoso! Eu não pude evitar... Eu... é melhor que eu volte e dê algumas instruções aos homens que ficaram na nave. Por favor, jovem mestre, vá adiante e acompanhe a Senhorita Marguerite em sua visita às irmãs. Com licença.
Maison os deixou e o grupo seguiu rumo ao monastério, onde a notícia da chegada de Margie deixara todas as irmãs numa grande expectativa. Sempre acompanhando a jovem madre, o grupo chegou ao grande monastério.
O monastério era um lugar espetacular, com janelas e vitrais ricamente trabalhados e uma aura de tranqüilidade que poderia subjugar o maior dos guerreiros. As freiras estavam reunidas diante do altar em oração quando uma delas ouviu alguém entrar e reconheceu a garota que vinha diante dos três homens.
_ Margie!
Diante do nome conhecido, todas as irmãs se voltaram e vieram correndo receber a madre desaparecida. A alegria da reunião era mútua e, entre a troca de saudações, ela disse:
_ Sim, e é tudo graças ao Bart e a estes homens.
_ Nós ouvimos dizer - respondeu uma das freiras - Então, estávamos cantando um hino de alegria e júbilo.
_ Bem vinda de volta, Margie - saudou Irmã Agnes, a líder presente das freiras - Nós tínhamos fé em que você e seu primo Bart um dia retornariam em segurança. Nós e seus outros amigos estivemos esperando por vocês.
_ Irmã Agnes! - e Margie trocou um abraço com a freira mais velha, que disse com pesar:
_ Infelizmente, sua mãe e a abençoada Madre Real...
_ Eu já sei, Irmã Agnes... Eu ouvi a respeito na Capital Real... Mas, ao menos, eu consegui voltar. Eu nunca mais vou pra lugar nenhum, nem vou deixar vocês de agora em diante!
_ Abençoada seja, minha querida.
E a freira mais velha enxugou lágrimas. Lembrando de algo dos modos de Bart, Margie limpou as lágrimas de Agnes e disse:
_ Irmã Agnes, isso não parece você! Aqui estou eu, sã e salva! Será que não pode me dar uma bronca, como nos velhos tempos?
Agnes sorriu com a brincadeira, e isso dissipou o ambiente triste.
_ Hã... Eu sinto muito... mas estou tão feliz que não pude evitar...
As demais freiras mantiveram-se num silêncio emocionado, até que Agnes olhou em volta e disse, subitamente parecendo inconformada:
_ ... Não há razão para ficar tão solenemente quietas. Para celebrar o retorno de nossa querida irmã Margie e para expressar nossa alegria aos céus, vamos encerrar o nosso hino.
_ Obrigada - disse Margie, contendo a emoção - e abençoadas sejam vocês todas. Ah, e irmã... eu posso ir lá em cima? Já faz tanto tempo, e eu gostaria de dar uma olhada lá.
_ Ora, mas é claro, querida! Não precisa ter vergonha de ir a lugar algum, a não ser por uma coisa: nunca mais fique longe por tanto tempo.
Margie riu, sabendo que Agnes diria aquilo. Já se parecia com a mesma Agnes que ela conhecia. E as freiras retornaram ao seu canto no altar, que soava pela catedral e dava à aura de paz uma presença mais real. Bart ficou á esquerda da prima e comentou, meio para si mesmo:
_ Já faz algum tempo desde a última vez em que estive aqui - então viu que algo parecia diferente na expressão da prima e perguntou - Algo errado, Margie?
_ ... Não... Nada. É só que... - ela também limpou os olhos e sorriu para Bart - Acho que eu fiquei um pouquinho comovida. Heh, heh heh.
_ ... Tá. Mas vê se pega leve agora. Você já passou por coisa o suficiente, tá?
_ ... Se está tentando me fazer chorar, não vai conseguir. Ah, já sei! - e olhou para Fei e Citan - Que tal se eu mostrar a vocês a nossa catedral? Me sigam!
E foi animadamente correndo na frente, tomando o rumo de uma ampla escadaria, enquanto Citan comentava:
_ Que garota forte ela é... É óbvio que ela realmente quer apenas relaxar e chorar...
_ É, você acertou - Bart concordou - Ela sempre foi assim. Por tudo o que ela fala, dá pra ver que entende bem sua posição... Talvez hajam umas coisinhas que eu poderia aprender com ela.
Eles subiram com Marguerite até os camarotes do segundo andar. A luz do sol entrava pelos vitrais e o canto das freiras era ainda mais nítido ali em cima. O telhado era desenhado de forma a facilitar a acústica, e os entalhes por toda a sacada haviam sido feitos de forma soberba.
_ ... Que magnífico! - admirou-se Citan.
_ Sempre que aprontávamos quando éramos crianças - disse Margie - Bart e eu costumávamos nos esconder aqui.
_ Ei, pare de contar essas velhas histórias! - ralhou Bart - É embaraçoso!
_ Mas, pra mim, Bart não mudou muito desde então - comentou Margie, se afastando pelo corredor.
_ O quê?! Quer dizer que você acha que eu ainda sou um moleque!?
Fei e Citan fizeram sinais para que ele falasse mais baixo; afinal, ainda estavam numa catedral! E eles seguiram Margie até ficarem na passarela exatamente sobre a porta de entrada, de frente para o altar. Margie olhava para o altar, encantada.
_ Eu acho que a vista daqui é a melhor.
Sobre o altar, entre vários candelabros, haviam duas figuras enormes semelhantes a anjos. Mas havia uma peculiaridade: cada um dos anjos só tinha uma asa, e ambos pareciam estar prestes a segurar a mão um do outro. Citan acenou afirmativamente com a cabeça antes de responder:
_ Sim, isso é de tirar o fôlego! A luz externa brilha através do vidro temperado da frente da catedral... Que obra de arte de maestria brilhante é esta!
_ Vocês perceberam - perguntou Margie - que os dois grandes anjos só têm uma asa cada um...?
O canto das freiras pareceu mais alto e Margie prosseguiu:
_ De acordo com uma lenda passada em Nisan, Deus poderia ter criado os humanos na perfeição... mas assim, os humanos não ajudariam um ao outro. E é isso o que estes grandes anjos com uma só asa representam. Para poder voar, eles dependem um do outro.
_ Ah, então é essa a razão - Citan fez que sim com a cabeça, começando a meditar profundamente enquanto olhava em volta - Entendo. Numa nova inspeção, o anjo esquerdo parece um tanto masculino, enquanto o da direita parece feminino. Sem dúvida é uma conotação incomum, não? Geralmente, estas descrições não especificam o gênero. Mas estes anjos são claramente distinguíveis como tendo gêneros opostos. E o espaço entre eles é o caminho onde há o advento de Deus... ou seria o caminho levando a Deus? Bem, não sei. Poderia ser qualquer um, ou ambos.
Ele pareceu pensativo por um longo momento, sem notar que Bart, Margie e Fei olhavam para ele em silêncio e com ar de estranheza. Ele finalmente bateu nas próprias mãos, concluindo:
_ Entendo! Isso tudo coincide com os ensinamentos de Nisan!
Bart e Margie olharam par Fei, mas ele meramente acenou que não com a cabeça; também não entendera nada. E Margie riu.
_ Ah, Doutor Citan Uzuki, você é um companheiro divertido!
Foi quando Citan percebeu que se perdera nas reflexões e pediu desculpas, um tanto embaraçado. Em sua defesa, Fei disse sorrindo:
_ O Doc sabe um bocado sobre um bocado de coisas. Às vezes, nem eu entendo do que ele está falando.
Todos voltaram a olhar para os anjos enquanto a catedral continuava cheia do canto angelical das Irmãs de Nisan, e pensaram por algum tempo na lenda. Bart acabou por dar de ombros:
_ ... Hah! Forçá-los a voarem juntos...? Seria menos incômodo se eles pudessem voar por si mesmos, não acha Fei?
_ Bart! - Margie o repreendeu - Você está perdendo o significado mais profundo e belo disso! - e voltou o olhar para as estátuas, com ar sonhador - Algum dia, eu gostaria de poder ajudar alguém desse jeito...
Eles continuaram a observar as imagens e a ouvir o canto, imersos nos próprios pensamentos sobre a lenda e os anjos por mais algum tempo, até que Margie voltou-se para os três, tendo se lembrado de algo.
_ Ah, não visitamos a ‘Sala de Sophia’ ainda não é? Seria realmente necessário que vocês passassem por alguns procedimentos antes de poderem vê-la, mas acho que vai ficar tudo bem se desta vez eu fizer uma exceção especial.
_ Sophia? - perguntou Fei.
_ Sim, Sophia. Ela é reverenciada como a madre fundadora da nação de Nisan, e fundadora da religião de Nisan, que segue seus ensinamentos. Há uma sala lá em cima que tem um retrato da Madre Sophia.
_ Eu definitivamente gostaria de ver isso! - declarou animadamente Citan - Fei, vamos dar uma olhada.
Eles tornaram a seguir margie até o fim da passarela, passando por algumas portas laterais até chegar à última delas, onde havia uma escadaria maior. Ao fim dela, havia um quarto onde a janela curiosamente tinha a forma do pingente em forma de crucifixo de Fei, e a luz do sol desenhava a forma exatamente no tapete central. O trio entrou seguido por Margie e a primeira coisa de que Fei se tornou consciente depois de olhar para a figura ali retratada foi a voz de Citan, comentando que era um retrato peculiar, e a linda dama retratada também estava além de qualquer comparação.
_ E, mais ainda... - ele comentou pensativo - isso parece muito familiar...! O que acha, Fei?
_ É, eu acabei de pensar a mesma coisa. O cabelo é de uma cor diferente, mas a atmosfera, ou a personalidade dela é exatamente a mesma.
_ O quê? - Citan ficou confuso - Cor do cabelo? Do que está falando?
_ O que eu quero dizer? - Fei nem sequer piscava, com os olhos fixos na enorme pintura diante de si - Olhe...! É a garota que eu encontrei na floresta... é a Elly! Quero dizer... - e voltou-se para os outros, parecendo confuso também tem algo nela que é idêntico à Elly... você não acha?
_ Sim, agora que mencionou... - e Citan estudou mais atentamente a figura - ela se parece com Elly. Mas não era disso que eu estava falando... eu queria dizer que a técnica de pincel e o estilo de cobertura usados neste retrato são parecidos com os seus.
_ Mesmo? - e Fei tornou a olhar para o retrato, aproximando-se mais para ver melhor. Vestida num hábito branco de freira, sentada numa cadeira estofada antiga e com um crucifixo gêmeo ao de Fei no pescoço, estava Sophia. O mais intrigante nela era que, a despeito do penteado diferente e da cor diferente do cabelo, qualquer um poderia dizer que aquela era realmente Elly, com um sorriso melancólico no rosto como se estivesse triste no momento da pintura. Fei olhou com cuidado o estilo da pintura e foi para o outro lado antes de dizer:
_ Em primeiro lugar... Eu não chego nem perto de ser tão bom artista.
_ Não... - discordou Citan - é muito parecido com o seu estilo. Mas... de algum modo, eu posso sentir uma atmosfera de tristeza neste retrato - Fei tornou a olhar para a jovem retratada ali, enquanto Citan comentava - Ela está sorrindo mas, de certa forma, dá a impressão que ela está ansiosa. Talvez o retrato esteja refletindo o interior dela? Ou talvez, sejam os sentimentos interiores do artista sendo refletidos?
Citan novamente parecia estar imerso em reflexões. Voltando-se novamente para o quadro, ele deu mais atenção ao canto inferior direito e observou:
_ Ah... Se olharem com mais atenção, vão perceber que a pintura não está completamente terminada - todos repararam, então, que havia um espaço branco apenas manchado naquele canto do quadro - O artista largou seus pincéis quando estava quase terminando. Por quê isso?
A pergunta fora feita para Margie, mas ela também não sabia responder.
_ Acho que a minha avó sabia algo sobre isso... mas e se perguntarmos para Agnes? Ela pode saber de alguma coisa.
_ Bom... vamos dar uma passada na cidade? - perguntou Bart.
_ Sim, claro - Citan concordou, ainda olhando pensativo para o quadro - mas esta pintura despertou minha curiosidade. Se importa se eu falar com a Irmã Agnes antes de voltarmos?
_ Tudo bem. Vamos passar pelo quarto dela.
Todos saíram do aposento, mas Fei deteve-se por mais um instante. Ele voltou-se mais uma vez para o retrato, sentindo uma enorme sensação de familiaridade, e quase pôde ver um rapaz da sua idade e com o cabelo preso como o dele pintando um retrato que ainda não estava naquela parede. A porta do aposento estava aberta, e havia uma jovem dama sentada diante do artista, enquanto esperava que ele fizesse o retrato. Uma jovem dama que poderia ser Elly. E ela dizia um nome...
“Lacan...”
Fei sacudiu a cabeça, percebendo que esquecera de algo importante que parecera dançar por um momento em sua mente. Citan voltou até a sala e perguntou então:
_ Há algo de errado, Fei? Parece que você estava divagando.
_ Hã...? Não. Não... é nada.
A visão perturbadora se fora e ele quase já não podia se lembrar dela...
Correndo com Citan e Bart para alcançar Margie, eles a encontraram nos aposentos de Agnes, na biblioteca do monastério. Margie estava pensando em voz alta, em meio à conversa com Agnes quando chegaram:
_ Eu imagino que tipo de pessoa foi Sophia... Eu adoraria tê-la encontrado.
_ Margie me contou que viram o retrato de Sophia - Agnes disse aos recém-chegados quando se aproximaram - Ela foi a madre fundadora de nossa seita. Dizem alguns que o retrato foi pintado há pelo menos 500 anos.
_ Quinhentos anos... - refletiu Citan - Isso é realmente fantástico. Pessoalmente, eu considero aquele retrato intrigante. Vocês têm algum material histórico de tal período?
_ Em nossas mãos, não há tais registros intactos - lamentou Agnes - Todos os registros e materiais referentes à Sophia se perderam... O retrato é a única coisa que resta. Nós também não temos muito conhecimento sobre ela.
_ Isso é mesmo uma pena! Então, não há realmente nada restando?
_ Para alguém que ajudou Marguerite, eu adoraria ter alguma outra coisa a partilhar, mas infelizmente, eu sou incapaz de ajudar...
_ Oh, bem, não importa. Por favor, não se preocupe com isso. Eu só estava indagando. Mas realmente parece estranho... Se uma construção majestosa como esta sobreviveu à história, seria de esperar que um ou dois pergaminhos também deveriam ter resistido.
_ De acordo com a tradição, Sophia esteve presente há quinhentos anos atrás... Ela sacrificou-se pelas pessoas e foi convocada para estar com Deus. É tudo o que eu posso dizer a vocês.
_ Entendo... - lamentou Citan - Então, tudo se perdeu nas trevas da história.
Tendo falado a respeito da lenda de Sophia, mesmo que pouco tivesse ficado claro, Fei, Citan e Bart foram novamente a Nisan onde Maison chamava pelo seu jovem mestre em voz alta, avisando ao encontra-lo:
_ O povo de Nisan foi muito generoso em nos permitir alugar esta casa. Portanto, não precisamos nos incomodar com acomodações por algum tempo. E, a propósito, Mestre Sigurd deseja ter uma palavra com vocês a respeito de seu próximo movimento, se puder.
_ Tá certo. E cadê o Sig?
_ O bom mestre Sigurd espera por vocês aqui dentro.
_ Tá. Valeu Maison.
Sigurd os recebeu com um cumprimento de cabeça, comentando num tom sereno que lhe era comum:
_ Sempre que venho aqui acalma o meu coração. Mas, de qualquer forma jovem mestre... eu quero discutir quais são nossos planos daqui por diante.
_ Tudo bem. Mas, antes de fazer isso... tem uma coisa que eu quero te perguntar.
_ ...A mim?
_ É.
Bart entrou num quarto dos fundos, seguido por Sigurd. Citan ficou à porta e não pareceu nada surpreso quando o rapaz perguntou subitamente:
_ Sig... O que é que há entre você e aquele oficial da Gebler? Qual é a conexão entre você e ele...? Sabe... Com certeza, você sabe um bocado sobre a Gebler por algum motivo!
Sigurd ficou em silêncio por algum tempo, voltando-se para a porta ao ver Citan aparecer e acenar afirmativamente com a cabeça antes de responder.
_ ... Muito bem, eu vou contar - Citan veio colocar-se ao lado do amigo, enquanto Sigurd começou a explicar - Eu e... Citan, aqui... costumávamos morar em Solaris.
_ Solaris... - Bart parecia estar entendendo devagar - Você quer dizer... de onde vem a Gebler?
_ Isso mesmo.
“Solaris... chama os forasteiros de ‘Cordeiros’. São usados para trabalho manual. Basicamente é escravidão.”
_ Escravidão?
Maison, e também Fei, entraram no quarto também para acompanhar a conversa enquanto Bart perguntava:
_ É de lá que vocês se conhecem? - e indicou Citan, ao que o doutor respondeu afirmativamente com um aceno enquanto Sigurd continuou:
_ Nós trabalhamos para o governo de Solaris por um curto período, mas descobrimos que não gostávamos dos métodos deles e fugimos na primeira chance que tivemos.
Bart ficou em silêncio por algum tempo, parecendo sério como raramente se via. Parecia estar considerando tudo o que ouvira. Após a pausa, ele perguntou:
_ ...Vocês eram amigos dessas pessoas? Sig - e parou diante do imediato - eu conheci você quando era garoto e estivemos juntos desde então... Assim, isso teria que ter acontecido ainda antes. Provavelmente eu não teria entendido isso se tivesse ouvido antes, mas... por quê você achou que eu não poderia lidar com isso agora? Você com certeza podia ter me contado. Especialmente quando tinha algo a ver com as pessoas que estão apoiando aquele idiota do Shakhan! - e deu as costas a Sigurd, parecendo aborrecido - Eu queria que você tivesse me dito antes.
_ ... Não há nada que eu possa fazer a respeito disso agora - respondeu Sigurd, após um instante em silêncio - Mas há uma coisa em que eu quero que acredite: nós deixamos Solaris por vontade própria e por nossas próprias razões. Agora que eles surgiram diante de nós, não podemos apenas nos sentar e não fazer nada. Se necessário, eu darei minha vida para detê-los.
Bart olhou para Sigurd, para Citan, deu uma olhada para Fei como que pedindo apoio e acabou abanando a cabeça afirmativamente, e respondeu:
_ Tá bom, eu entendo. Mas dá pra detalhar um pouco mais? - sentou-se na cama atrás de si - O que me incomoda é esse negócio de ‘Habitantes da Superfície’... É como se Solaris fosse em outro lugar. Como nas nuvens, ou coisa do tipo?
_ Sim, bem... - Sigurd resolveu começar do princípio - Etrenank, a capital do Império Solaris, é localizada nos céus. Solaris é separada da terra por campos de distorção dimensional conhecidos por ‘Portões’. A travessia entre os dois requer meios especiais de transporte... tais como aeronaves. Para chegar a Aveh, nós embarcamos num vôo regular até a superfície.
_ Eu vim bem depois de Sigurd - comentou Citan - ms também escapei da mesma forma.
_ Hmmm... tá. E o que são ‘Cordeiros’?
_ É a palavra que os solarianos usam para indicar aqueles que vivem na terra. Como eu disse antes - prosseguiu Sigurd - tais ‘habitantes da superfície’, ou ‘habitantes da terra’, são usados para trabalho manual, que pode ser qualquer coisa. Desde soldados até trabalhos administrativos. Solaris reúne sua mão de obra dos habitantes da terra. Os trabalhos são divididos entre os mais apropriados. Algumas vezes, as pessoas sofrem lavagem cerebral.
_ Lavagem cerebral?! - perguntou Bart, agora parecendo indignado.
_ Eu... quando você, jovem mestre, ainda era menino, eu fui usado como objeto de testes. Provavelmente havia algo que eles valorizavam dentro de mim.
Bart e Fei ficaram em silêncio. Isso parecia demais. Voltando-se para Citan, Fei perguntou:
_ Você também, Doc?
_ Não... Eu nasci nos níveis mais baixos da cidade. Não é um segredo completo... mas acho que eu sou um solariano. Sabem... Você sempre precisa de gente para conduzir um país... Não importa o quão cientificamente avançado seja, você não tem apoio sem pessoas.
_ Solarianos puros são raros - comentou Sigurd - Na verdade, eles não chegariam a um quarto da população total de Aveh. Então, eles sustentam seu país roubando habitantes da superfície.
Bart sacudiu a cabeça negativamente, como que afastando o pensamento de que qualquer um poderia servir, como acontecera a Sigurd. Ao invés disso ele perguntou:
_ Aquele cara da Gebler com quem eu e Fei lutamos... quem é ele?
_ O nome dele é Kahr... Kahran Ramsus - respondeu Sigurd - Como já sabem, ele é o Comandante da Gebler.
_ Ramsus...?
_ Nós o chamamos de Kahr. Em Solaris, há uma escola de treinamento de oficiais chamada ‘Jugend’. Ele se tornou o comandante depois de sair de lá.
_ Ele é um cidadão dos níveis baixos, assim como eu - disse Citan - No entanto, com suas habilidades fantásticas... depois de se graduar, ele subiu pelos postos com velocidade inigualável.
_ Aquele homem tinha um ideal - continuou Sigurd - alcançar uma consolidação de todos os seus colegas. Mesmo habitantes da terra, se tivessem talento, eram trazidos para o exército.
_ Então, vocês dois foram pegos pelo Ramsus...? - perguntou Bart.
_ Não... - respondeu Citan - Não fomos pegos por ele. Nós mesmos nos aliamos a ele.
_ Naquela época, concordávamos com ele.
_ Naquela época, Ramsus era a nossa esperança. Ele tinha ideais altos e queria mudar o sistema de Solaris. Para nós, objetos de teste e cidadãos de nível baixo, ele era realmente tudo o que podíamos querer.
_ Um benfeitor? - Bart não conseguia imaginar a figura arrogante com quem lutara como esperança, fosse para quem fosse.
_ Sim - confirmou Sigurd - Mesmo eu, um objeto de testes, fui movido pelos ideais dele.
_ Então, por que vocês quiseram sair de Solaris?
_ Fomos colocados em posições militares chaves por Ramsus - explicou Sigurd - e graças a isso, soubemos do relacionamento entre Solaris e os habitantes da superfície.
_ Os... ‘Cordeiros’, né?
_ Eles não usavam a nós, ‘Cordeiros’, apenas para trabalho escravo - o rosto de Sigurd pareceu mais sombrio - Eles também escolhiam alguns de nós, como eu, para serem usados como objetos de experiências para refinar suas drogas... Drogas que mudam as personalidades das pessoas, para torna-las mais agressivas e para retirar suas habilidades latentes. Estavam nos usando como cobaias humanas para testar suas drogas de alteração psicológica.
_ Cobaias humanas...? - Bart não parecia acreditar - Experiências em humanos?
_ Sim - confirmou Sigurd - Por exemplo... ‘Drive’. Essa droga e todas as outras como ela são produtos derivados de experiências humanas.
_ No entanto - completou Citan - o papel de tais objetos de experiência não era limitado apenas a isso.
_ Essa droga ‘Drive’ - perguntou Fei pensativo e parecendo preocupado - é uma coisa que qualquer um no exército de Solaris pode usar?
_ Pelo menos, qualquer um nas forças Gebler que seja enviado para a superfície - respondeu Citan, e Bart voltou-se para Fei, entendendo o que preocupava o amigo.
_ Está preocupado com ela, né? - Fei voltou-se depressa para ele, e Bart fez que sim com a cabeça, sério - Eu vi um pouco disso... no quarto dela.
_ Não...
_ ... Que seja ... Usar escravos como cobaias... Quanto esses caras podem ser baixos...? Saco! - sentou-se novamente na cama e fez um sinal afirmativo com a cabeça - É... acho que entendi a maioria. Velho Maison! Reserve o salão da cidade pra nós. Vamos terminar de conversar lá. Eu vou lá fora respirar um pouco.
Bart saiu sozinho, e Sigurd comentou um tanto pesaroso:
_ Eu deveria ter sido honesto com ele antes...
_ É melhor não se preocupar com isso - atalhou Citan - Você fez tudo o que pôde no tempo certo. O jovem vai entender.
Fei saiu em seguida, encontrando Bart numa passarela de Nisan, pensativo. Pondo a mão em seu ombro, ele perguntou:
_ Você está bem, Bart?
_ É, acho que sim - mas continuava olhando para frente - Eu não tinha idéia de que Sig tivesse um passado desses...
_ Ainda está desconfiado dele?
_ Bom... Quero dizer... Foi tão repentino. Acho que eu esperava ouvir alguma coisa diferente... como que nós fomos rivais na infância, ou coisa parecida. Mas isso nem se compara à história que ele acabou de nos contar, né?
_ Então, ouvir a história dele confundiu você porque não era tão simples.
Citan chegou logo e juntou-se aos dois - Houve um tempo em que ele esteve cooperando com um dos generais da Gebler. E mais, Solaris era uma terra da qual você sequer havia ouvido falar.
_ Ei, o que você tá querendo dizer?
_ Não, não estou querendo dizer nada, nem culpando você por nada. O que estou dizendo é isso: se pensar em como ele se sente, então vai entender porque ele não podia falar sobre isso com você até agora. Olhando para as atividades de Solaris em relação aos outros países até então, percebe-se que não era nada além de simples manutenção do seu próprio império, ou ‘autopreservação’. E, como você viu, o poder militar deles é imenso. Então provavelmente Sigurd estava pensando adiante.
“Ele provavelmente estava se concentrando em dar conta dos problemas aqui, no continente de Ignas, primeiro. Uma vez que as coisas estivessem em ordem por aqui, isso daria a ele uma fundação mais forte para lidar depois com Solaris, o que é um plano bem melhor do que correr diretamente para uma guerra que ele sabia que não poderia vencer. Muito lógico, na verdade.”
_ Parece que vocês entendem um ao outro muito bem - comentou Bart, ainda olhando para frente.
_ Bem, nós não somos exatamente desconhecidos, não? - Citan deu de ombros - E nós costumávamos conversar sobre várias coisas até decidirmos fugir de Solaris.
_ Falando nisso... por quê vocês fugiram? Aquele sujeito, Ramsus, deveria ser uma ‘Estrela da Esperança’ ou coisa assim, não devia?
_ Sim, eu certamente pensava assim no início. Mas então percebi que o modo de pensar dele realmente não era uma grande mudança no sistema prévio. Basicamente, a única diferença era que eles ignoravam a posição e classe da pessoa, ou sua habilidade. As palavras haviam mudado, mas ainda não havia diferença do que Solaris havia feito até então. Ele não tinha nenhuma intenção de trazer a todos um modo de vida melhor.
_ Em outras palavras, ele é um elitista - Bart cruzou os braços, parecendo aborrecido - Acho que não gosto muito dele.
Fizeram silêncio por algum tempo então, perdidos nos próprios pensamentos. Por fim, Bart perguntou:
_ E então, Citan... Acha que eu consigo vencer a Gebler?
_ Por quê? - Citan voltou-se para ele - Está planejando enfrenta-los?
_ Enquanto estiverem trabalhando com Shakhan, não há como evitar isso. Da forma que as coisas vão, eu tenho certeza de que vamos ter que lutar com eles mais cedo ou mais tarde.
_ Hmmm... Imagino que sim, mas... mesmo que derrotássemos as forças Gebler aqui, ainda há Solaris para se lidar. Se não formos cuidadosos, é possível que nos envolvamos com uma guerra muito mais longa do que essa com Shakhan. Não concorda que continuar da forma em que está é muito mais difícil para todos? Eu acho que é hora de tentarmos conseguir a ajuda de um número maior de pessoas.
_ Então, derrotar Shakhan não vai dar cabo daqueles tipos da Gebler - voltou-se para Citan - Eu sei o que tá tentando dizer: “Para conquistar Gebler, primeiro recupere teu trono!” Certo?
_ Hmmm... Você poderia colocar dessa maneira.
_ O que quer dizer com ‘poderia colocar dessa maneira’? Mas, mesmo assim, talvez seja hora de eu fazer algo sobre isso.
Foram então até a casa de reuniões da cidade e encontraram Maison e Sigurd lá, com uma mesa no centro da sala que Sigurd emprestara na loja de ferramentas.
_ O proprietário da loja disse: “Se o jovem mestre precisar de qualquer coisa, é só pedir”.
_ Eu estou grato - Bart foi até os quadros de Nisan na parede dos fundos e comentou, distraído - Quando eu era um guri, costumava emprestar coisas de lá e sempre me metia em apuros.
_ ‘Emprestar’...? - Fei imaginou se Bart avisava o que estava emprestando e perguntou - E o que você levava?
_ Um barco de brinquedo... Acho que era isso. Eu colocava fogos de artifício nele e deixava flutuar no lago da catedral. Eu sempre costumava brincar de marinha - olhou por uma janela voltada para o lago e continuou - Não tenho certeza, mas acho que eu fingia que o lago era o mar aberto, e eu era o comandante da frota. Mas... que seja. Esqueçam essas histórias velhas. É melhor nós começarmos.
Deixando a janela e as lembranças para trás, Bart tomou posição junto à mesa com Fei, Citan, Sigurd e Maison e começou-se a reunião.
_ Primeiro... a Gebler é o problema maior.
_ Sim - concordou Citan - Ramsus está a caminho de cumprir seus objetivos. O fato de ser agora o comandante da Gebler é prova disso. Um homem comum não poderia progredir tão depressa ao longo da organização daquele país. E agora, ele está atualmente aqui em Ignas. Francamente, a situação não é muito favorável. Precisamos de algum modo encontrar um ponto fraco e atacar com todo o nosso poder.
Bart olhou pensativo para o mapa e os companheiros, antes de se decidir:
_ Primeiro, vamos nos concentrar só em Shakhan. Assim que ele estiver fora do caminho e Aveh estiver segura de novo, podemos pensar no que fazer quanto à Gebler. - cruzou os braços - Com nossa força atual, devemos ser capazes de conter as forças da guarda real. O problema é como lidar com a Gebler ao mesmo tempo... Eles com certeza devem reagir a pedido de Shakhan. Não vão simplesmente sentar e ficar quietos.
_ Posso dar uma olhada no mapa? - pediu Citan, considerando o cenário por algum tempo em silêncio e por fim dizendo:
_ Resumindo, nós queremos que a Gebler parta por algum tempo. Pelo menos, até que recuperemos a capital real, Bledavik.
Ele então indicou o mapa de Ignas, com alguns pontos assinalados, e confirmou:
_ Estas são as unidades Gebler atualmente em Aveh, correto? - mostrou o ponto próximo à estrada para Nisan - Os guardas do oeste... - depois o ponto central do continente - a força de defesa da Capital Real e... - por fim, indicou o ponto a nordeste - as unidades ao longo da linha divisória na fronteira com Kislev. Há três grupos, cada um feito de uma mistura das forças de Aveh e da Gebler. Só dois deles são muito grandes: as unidades de defesa da Capital Real e as unidades de fronteira de Kislev. A guarda reunida na fronteira de Nisan é pouco mais do que um grupo de vigilância.
_ Para recapturar a capital real - observou Sigurd - será necessário retirar essas unidades de defesa de Bledavik.
_ Nós temos alguns Gears em Kislev, correto? - perguntou Citan e Bart confirmou, dizendo que haviam conseguido alguns. Citan apontou para a fronteira com Nisan e perguntou:
_ E se usarmos estes Gears para lançar um ataque aos guardas do oeste aqui, na fronteira com Nisan?
_ Entendi - disse Bart - Vamos atraí-los fazendo parecer que Kislev está invadindo Aveh.
_ Mas o problema é: atacar os guardas da fronteira será o bastante para pôr o centro em movimento? - perguntou Sigurd.
_ Para garantir isso, Nisan terá que parecer estar aliada a Kislev - explicou Citan - Se eles virem as coisas desta forma, certamente irão se mover.
_ Está dizendo que quer usar Nisan como isca? - era óbvio em seus olhares que tanto Bart quanto Fei reprovavam a idéia - Logo Nisan, em batalha...?
_ Shakhan é muito sensível às ações de Nisan e Kislev - ponderou Sigurd - Se Nisan começar a agir ele provavelmente deixará o serviço para a Gebler, mas...
_ É claro que eu não pretendo fazer isso de início - explicou Citan - mas olhando para a situação, nós podemos ser levados a chegar a este ponto.
A idéia de envolver Nisan no confronto não parecia muito boa e Bart tornou a se aproximar do mapa e planejar.
_ Primeiro, nos infiltramos na capital. Pra derrubar Shakhan, vamos nos encontrar com nossos agentes que já estão na cidade.
_ Estamos esquecendo de uma coisa - comentou Citan - As unidades próximas à fronteira de Kislev.
Ele indicou a fronteira e explicou: - A força principal da frota de Aveh é a nave de batalha Kefeinzel. Ela esteve em serviço desde o reinado do último rei. Devido ao seu poder de fogo, a unidade inteira é chamada de ‘a frota invencível’. Pelo que me lembro, o relatório da inteligência de ontem disse que a nave está próxima da fronteira.
_ Saco... Isso coloca tudo em xeque!
_ Não fique tão deprimido. Eu apenas queria que você visse a distribuição atual de forças na área. Mesmo que no pior caso eles venham, não será um problema tão grande.
_ O que quer dizer? - perguntou Bart, confuso, e Citan explicou:
_ Eu tenho algumas informações adicionais sobre a frota de fronteira de Aveh. O comandante supremo aposentado de Aveh foi transferido para lá. Bem, não realmente transferido... melhor dizer removido... O seu nome é Vanderkaum.
_ Vanderkaum... - Sigurd pareceu reconhecer o nome - Não está falando do mesmo Vanderkaum que esteve em Jugend?
_ O próprio - e, voltando-se para Bart - Jovem, ele não foi capaz de adaptar-se às mudanças de táticas... particularmente o que veio depois da introdução dos Gears. Ele é um homem que nunca vai se afastar de sua dependência de grandes armas navais.
_ Tá querendo dizer que ele é convencido. Ele é todo tamanho e nenhum poder militar verdadeiro... - Bart pareceu satisfeito - Um alvo excelente pra piratas!
_ Jovem mestre! - exclamou Maison, horrorizado - isso não vai ser um ato de pirataria!
_ Só estava brincando.
_ Na verdade, o número de Gears designados para a frota parece ter sido reduzido - observou Citan - Mesmo assim... que generoso da parte dele ser tão cheio de si.
_ Ele é assim, tão miolo mole? - perguntou Bart, animado - Vai ser divertido bagunçar ele!
_ Jovem mestre! - tornou a protestar Maison.
_ Eu sei, eu sei! Que seja; Citan, você acha que ele pode atacar nossa força de Gears?
_ Isso não é problema. Mesmo com Vanderkaum, nós temos forças suficientes restando para agir. No entanto, não seria sábio subestimar nossos oponentes.
_ Bem, agora que sabemos contra quem estamos lidando, aqui está o que faremos: - e Sigurd mostrou o mapa - Além de fazer nosso grupo principal atacar Bledavik, temos que impedir a frota nos limites de Kislev de voltar para a capital.
_ Então, está sugerindo que tenhamos outra unidade? - perguntou Bart, e Citan confirmou com a cabeça.
_ Uns poucos soldados eficientes para manter o inimigo longe... Uma força pequena é melhor.
_ Força pequena...? - perguntou Sigurd.
_ E se Fei conduzir um grupo de Gears até lá.
_ Eu...?! - Fei perguntou com todos olhando para si.
_ Espere um pouco! - objetou Sigurd - Não há razão para envolver todos vocês nisso!
_ ... Eu vou fazer isso - concordou Fei, após pensar por um instante - É, deixe que eu faço isso. Então, quando partimos?
_ ... Você tem certeza? - quis saber Bart.
_ Nós já chegamos até aqui... Ei, somos amigos até o fim, agora!
Bart concordou com um sorriso, e Citan disse:
_ A velocidade é tudo. Devemos cuidar disso assim que for possível.
_ Tá bom, amanhã.
_ Eu... estou realmente grato... Fei, Citan... - Sigurd parecia sem palavras, e Bart confirmou com animação pelos dois.
_ É isso aí, não tem jeito de nós perdermos! Ninguém vai morrer em vão!
_ Muito bem dito, jovem mestre! - concordou Maison.
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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeTer Abr 06, 2010 7:50 pm

Capítulo 11: Recapturar Aveh

O dia começou para o grupo antes de começar para o sol, e foi com surpresa que eles viram a porta se abrir e Margie entrar, tão cedo.
_ Bom dia! Por quê o rosto preocupado? Não está se sentindo bem? - estava cercando Bart com perguntas, e isso não estava colaborando em nada para acalmar a apreensão dele com a batalha que viria.
_ Ou está se sentindo triste por dizer adeus? Ou talvez só esteja nervoso?
_ Fica quieta, idiota! Não me amola!
Margie riu à vontade, tendo tirado Bart do sério. Ela mesma ficou séria depois, no entanto, ainda olhando para ele.
_ Bem... já é quase hora.
_ É, é sim. - voltou-se para os outros - Vamos nessa, pessoal.
Enquanto o grupo da Yggdrasil voltava para bordo, Sigurd avisou:
_ Nossos camaradas de Nisan vão atacar a guarda do oeste em uniformes de Kislev como planejado. Vamos esperar pelo momento certo e então seguir para o palácio na Yggdrasil.
_ Entendido, mas evitem qualquer morte desnecessária. Isso vale especialmente pra as tropas de Aveh e também pro pessoal da Gebler - lembrou Bart, com um sinal de concordância de Sigurd. Batendo as mãos uma na outra, Fei disse:
_ Acho que eu vou fazer algum barulho com meu Weltall, então.
Fei e Bart bateram os punhos, em concordância e despedida. Margie se aproximou deles já nas portas da Yggdrasil e comentou:
_ Na próxima vez em que nos encontrarmos, Bart, eu não vou conseguir chamar você pelo nome, ou de ‘jovem mestre’. Que tal, ‘Sua Majestade’...?
_ Corta essa! Bart já está ótimo... ‘Grande Madre de Nisan’!
_ Ei...! Você sabe que eu detesto esse título!
_ Tá certo, tá certo! - ele riu - De qualquer forma, estamos indo.
_ Tá bem. Boa sorte.
A Yggdrasil seguiu viagem sob os olhares de Margie e Agnes, e a freira mais velha comentou em voz alta, meio que para si mesma:
_ Marguerite e Bartholomew... Ver vocês dois traz de volta as minhas esperanças. - Margie voltou-se para ela, que continuou observando a Yggdrasil enquanto comentava - Muito antes dos Fatimas de Aveh serem chamados Fatima, os irmãos reais e suas esposas contemplaram muitos reinos ou eras prósperas. Eu estou aguardando pelo dia em que a Grande Madre da Seita de Nisan tomará seu lugar no trono como esposa de Bartholomew.
_ O quê?! - Margie exclamou, surpresa e tremendamente encabulada - Ei, espera aí! Eu odeio falar de rainhas e romance...! Bart e eu somos bons amigos!
_ Mas Margie - riu Agnes - o casamento é a melhor amizade.
E a freira saiu lentamente, ainda rindo e comentando para si mesma:
_ Bem, Marguerite, da forma como está amadurecendo para se tornar uma linda mulher, eu não acho que Bart será capaz de ignorar você por muito mais tempo.
_ Pára com isso, está me embaraçando! - e seguiu atrás de Agnes, o rosto ainda afogueado. Enquanto isso na Yggdrasil, Fei e o esquadrão do General Maitreya estavam a postos no hangar de Gears, preparando-se para a partida sob os olhares de Bart, Sigurd e Citan. Maitreya estava avisando que seu esquadrão partiria logo para evitar a detecção.
_ Vamos nos encontrar nas Rochosas da Fronteira amanhã às 1200, entendido?
_ Sim senhor!
Os membros do esquadrão pareciam um pouco animados demais e Bart achou melhor lembrar:
_ Apesar da nave de guerra estar ultrapassada, vocês vão numa unidade pequena. Vai ser uma luta dura, mas vocês podem mudar o futuro de Aveh. Estou contando com todos.
_ Deixe isso conosco, jovem mestre! - respondeu Maitreya - Vamos puxar a cauda de Vanderkaum de um lado pro outro! Certo filho?
_ ... Não me chame de ‘filho’ - respondeu Fei - Que com certeza você não é o meu velho.
Com risos e a promessa de ser úteis na batalha, Maitreya e sua unidade despediram-se de seu jovem mestre. Fei e Bart se encararam por algum tempo e depois Fei acenou com a cabeça, voltando-se e indo para a cabine de Weltall. Mas Bart ainda disse:
_ Fei, é esquisito que eu diga isso, já que fui eu quem te fez se envolver, mas... se cuida, tá?
_ Você também.
_ Se... alguma coisa acontecer comigo... - o tom de sua voz fez Fei voltar-se por um momento, vendo a fisionomia grave tão incomum em Bart - toma conta da Margie e deles pra mim.
Fei voltou suas costas novamente para o outro, sentindo o peso da possibilidade incomodá-lo, mas respondeu de forma indiferente:
_ Não seja idiota! Isso não parece com você. Mas... eu vou cuidar deles. Não se preocupe.
E desta vez ele partiu, juntamente com a unidade de Maitreya, seguindo pelo calor do deserto rumo às montanhas na fronteira. A batalha se daria no dia seguinte.
Naquela noite, sob a luz da lua dourada, a Yggdrasil seguia pelo deserto rumo à sua posição, próxima a Bledavik. Citan desceu à sala de reuniões do cruzador e encontrou lá o Velho Maison, que pareceu apreciar a oportunidade para uma conversa.
_ Enfim, estamos partindo para Bledavik. Apesar de ser o príncipe, nosso jovem mestre não conhece muito bem a Capital Real. Eu sempre vi isso como algo lamentável. Fiz o meu melhor para educa-lo como o Príncipe Coroado. No entanto - e pareceu mais preocupado - olhando para trás, eu forcei os “fardos da realeza” depressa demais sobre ele... e pode ter sido demais para uma criança com um futuro como o dele lidar... Eu devo ter sido o mais terrível de todos os mentores!
_ Meu caro Lorde Maison... eu dificilmente concordaria com isso! O jovem teria assumido o fardo por si mesmo e talvez o jogasse fora se não quisesse mais suporta-lo. Ele é um grande homem agora... muito capaz de lidar com tais fardos e pressões. E eu acredito que vocês sejam aqueles que deram a ele a força para faze-lo.
Faltaram palavras a Maison, mas o tremor em suas mãos e seus olhos baixos eram indicações suficientes do quanto ele estava grato pelas palavras de Citan, que meramente sorriu e tomou mais um gole de chá.
Sigurd e Bart estavam no convés da Yggdrasil, que corria pela noite no deserto sobre a superfície, enquanto capitão e imediato contemplavam o luar vermelho. A fisionomia incomumente séria do jovem mestre causou curiosidade a Sigurd, que perguntou:
_ Por quê um rosto tão sombrio? Amanhã será nosso primeiro retorno ao seu castelo em doze anos.
_ Voltar ao castelo... Depois de conseguirmos o palácio real de volta, acho que vou ter que ser o rei... Eu não sou muito apropriado pra isso, sou?
_ Você vai se acostumar.
A lua parecia maior sobre o deserto, refletindo a cor das areias, e Bart comentou inquieto:
_ Escuta, Sig...
_ Sim?
_ Eu acho que... não faz mesmo diferença quem é o rei, faz? Enquanto ele for um símbolo de esperança, certo? Não tem que ser eu.
E Sigurd entendeu os sentimentos de Bart. Ele sentia medo de perder a liberdade e a mobilidade que tinha ali, no deserto, e de ficar para sempre confinado no palácio como o rei. Ao invés de uma resposta direta, o imediato de cabelos brancos disse:
_ Eu fui seqüestrado por Solaris e sofri lavagem cerebral para uso como uma cobaia humana - voltou-se para Bart - Mas mesmo eles não puderam apagar meu desejo de voltar para casa. Então, me lembrei de você e Marguerite, não como a realeza do nosso país, mas apenas como crianças normais. Eu não me importo em reconstruir uma dinastia. Quero recuperar este reino porque ele pertence a você... Porque é o seu lar!
_ Porque é o meu lar?
_ Sim, por isso, nós devemos derrubar Shakhan amanhã. Estou certo.
Após um instante de hesitação, Bart acenou afirmativamente com a cabeça e sorriu:
_ ... É. Então, vamos fazer isso!!
_ Mas primeiro... - Sigurd olhou para ele com ar crítico - eu acho que você precisa tomar um banho!
_ Um banho?!
_ Você não parece em nada com um rei! Está enfrentando o líder do inimigo... então, você deve ter uma aparência nobre!
_ Ei, você acabou de dizer que não importa se eu sou ou não um rei!!
_ Aquilo era aquilo, isso já é outra coisa!
Sem ser visto, Citan sorriu diante daquela discussão animada, semelhante à de dois irmãos, e refletiu consigo mesmo:
_ Alguém que esperava por você... Um pensamento foi tudo o que precisou para que recuperasse sua consciência... Você é um grande homem, Sigurd...
A Yggdrasil continuou sua corrida pelo deserto, sob o céu estrelado e a lua dourada de Ignas, que iluminava a noite. E ela também contemplava várias partes daquele mundo. Ao mesmo tempo, poderia estar olhando para a cena no convés do cruzador de areia dos piratas ou através da janela do palácio de Aveh, num quarto especial de hóspedes, onde Kahran Ramsus e Miang dividiam a mesma cama.
Enquanto desperto, o comandante da Gebler podia manter sua atitude altiva e ocultar qualquer sentimento que quisesse. Dormindo, no entanto, estava completamente à mercê de seus demônios interiores, e nesse momento ele se debatia na cama, lembrando.
Em meio às chamas dos incêndios, a figura vestida em negro e vermelho, de cabelos ruivos, fez um gesto e lançou algo semelhante ao Tiro Guiado de Fei, e um Gear tombou. Uma seqüência de golpes, um ‘Senretsu’, e um segundo Gear caiu. Um terceiro chegou a apontar seu rifle na direção do louco, mas ele sorriu de forma cruel e concentrou poder no seu punho, derrubando também este com um Raijin.
E ele voltou-se, zombeteiro, para onde Ramsus e uma coluna de seus tenentes e Gears ainda estavam. O comandante da Gebler estava insuportavelmente consciente das batidas cada vez mais rápidas de seu próprio coração e não percebia a figura sombria envolta num manto negro e com um capacete assustador que contemplava a luta com óbvia satisfação, à distância.
E foi em meio às chamas que aquele Gear terrível finalmente apareceu, como que chamado por seu mestre, enquanto a figura que derrubara sozinho três Gears pareceu incorporar-se à sua máquina cor de sangue. Após um instante de pausa, o Gear vermelho avançou e pareceu meramente passar pelos dois Gears à direita de Ramsus, mas o fato foi que ambos caíram, semidestruídos e sem condições de funcionar. E então Ramsus entendeu a razão do seu temor: seu aliado enlouquecera, pouco se importando com quem atacava. E o poder dele era...!
_ Ele está fora de controle! - gritou ele aos seus tenentes - Detenham-no! Não me importo como vão faze-lo, apenas detenham-no!
Isso parecia patético, sua voz soando assustada daquele jeito, e o Gear terrível parecia de algum modo se divertir com isso, avançando novamente e fazendo toda a coluna de oficiais desaparecer e derrubando um último Gear mal parecendo toca-lo para depois voltar seu olhar brilhante para Ramsus, que apenas empunhava sua espada, quase sem notar o quanto ela tremia em sua mão.
“I-isso não pode ser...”
Mais dois Gears militares se aproximaram do agressor vermelho, mas mal o alcançaram e tombaram para trás, lentos e sem poder diante dele. E o Omnigear vermelho correu até Ramsus, detendo-se diante dele como um arauto do inferno.
_ Ugh! S-socorr...
O som dos jatos do Gear começou a parecer alto demais e ele parecia prestes a atacar quando Ramsus gritou e tudo ficou vermelho...
E a próxima coisa que Kahran Ramsus viu foi que despertara. Estava sentado na cama, ofegante e com seu coração ainda acelerado, mas estava em segurança. O sonho se repetira. Seu coração controlou-se lentamente enquanto Miang também despertou.
_ O que houve? Parece que você acabou de ter um pesadelo... Não foi o mesmo sonho de novo, foi?
_ Não... - mas ele não olhou para ela, ainda procurando diante de si a confirmação de que o demônio não estava ali - Não foi nada.
E saiu da cama, deixando em seguida o quarto, ignorando o chamado de Miang.
Assim que a porta se fechou, no entanto, a atitude preocupada dela pareceu dar vez a um tom brincalhão enquanto ela disse ao quarto ‘vazio’:
_ Ficar espiando não é muito educado, sabia...!?
O ar diante dela torceu-se numa onda negra e a forma sinistra de Grahf materializou-se diante de Miang. Ainda rindo de forma despreocupada, ela disse:
_ Eu vi o garoto a quem procura lutar no Torneio. Eu pude dizer com certeza. Ele se parece muito com você.
_ Você usou a influência do Ministério para se aproximar daquele homem - retrucou o encapuzado, ignorando os comentários dela - Não sei o que está pretendendo, mas não ouse nem pensar em planejar contra mim. Fique fora disto!
E o ar se distorceu novamente, e Grahf desapareceu. E, como antes, Miang não pareceu nem um pouco impressionada.
_ Ah, vejo que as notícias já alcançaram você... Como sempre, você é o primeiro a ouvir sobre tudo. Mas não se preocupe... não vou roubar sua ‘posse premiada’. Eu vou colaborar. Além disso, eu e você fizemos um longo caminho...
A manhã começou cedo na Yggdrasil e já encontrou Bart, Citan, Sigurd e Maison próximos ao timão. As atenções estavam plenamente despertas e Bart percebeu seu operador de som reagir a algo.
_ O que foi, Franz?
_ Não... por um momento, achei que havia captado alguns sons não naturais...
_ Estamos próximos da capital - Bart respondeu - Provavelmente é só algum tipo de navio de lá.
_ Mas não é da superfície... Veio de baixo da areia!
_ De baixo...? - perguntou Bart, incrédulo - Este é o único cruzador de areia de toda Aveh!
_ Não ouvimos nada sobre uma nova nave nem mesmo dos espiões no Quartel Naval de Aveh - apoiou Sigurd - Franz, pode tentar outra vez e confirmar o que é?
_ Não consigo pega-lo de novo - respondeu Franz depois de algumas tentativas - Pode ter sido só uma baleia da areia...
_ Jovem mestre! - interrompeu o oficial de comunicações - Estou detectando um aumento no uso da Faixa F! É a freqüência da força de defesa da Capital Real!
_ Aí... na superfície! - exclamou Franz - Estou detectando sons de âncoras sendo içadas e motores sendo ativados! A frota de defesa da Capital Real deve estar partindo.
_ Também interceptamos uma transmissão da patrulha na fronteira com Kislev! Estão requisitando apoio imediato da Capital Real! Parece que nós lançamos mesmo um inferno na fronteira!
_ Tá certo, vamos começar! - comandou Bart - Preparar os botes! Quando formos à terra, escondam a nave!
Sigurd, Bart e Citan tomaram o rumo da saída, mas Maison deteve o rapaz pelo braço com uma expressão preocupada:
_ J-jovem mestre, eu tenho um terrível pressentimento sobre isso... Seja muito cuidadoso!
_ Tá tudo bem, Velho Maison.
Enquanto eles deixavam a ponte de comando da Yggdrasil, um grupo de pilotos da Gebler preparava-se para deixar o hangar em Aveh e conhecia seu novo oficial comandante. Ou melhor, a nova oficial. E Elly Van Houten conhecia seu novo esquadrão.
_ O quê? - perguntou Renk - Essa garotinha é a nossa oficial comandante?
_ Diz-se que ela é da elite saída de Jugend - comentou Broyer, e Stratski emendou:
_ Ela voltou só da operação de infiltração de Kislev.
_ E de ‘mãos vazias’, pelo que ouvi! - acrescentou acidamente Helmholz - Sem lembranças para o Comandante, hein?
_ É, e que carinha bonita! - admirou Renk - Ela não faz o tipo do soldado.
_ Vocês aí! - ela lembrara-se do comentário de Fei dizendo que ela não pertencia àquele lugar e isso a irritou ainda mais do que o descaso de seus novos comandados - É assim que se dirigem a um oficial superior? Lembrem-se do seu rank!
_ Ah, que medo! - retrucou Renk.
_ Não ligamos muito para rank - disse Vance com ar insolente - E não ligamos muito pro Renk, também! Mas só porque é bonita não quer dizer que pode ser tão metida!
_ Há! Esse asno tá com ciúmes! - riu Broyer.
_ O que? Eu sou muito mais bonito! - respondeu Vance - Como eu poderia estar com ciúme?
_ Ô, faz esse pervertido ficar quieto! - pediu Stratski, enquanto o grupo se dirigia aos seus respectivos Gears - Ele me dá calafrios!
_ E é assim que é... - resumiu Renk, como sempre fazendo sua a voz de todos - Então, não se meta no nosso caminho, ‘Senhorita Tenente’.
Elly sentiu que a missão já estava começando mal, e não fez mais qualquer comentário. Os cinco cavaleiros observaram enquanto ela dirigia-se para um novo Gear branco e rosado e Renk foi o primeiro a pronunciar-se quanto à nova máquina.
_ De qualquer modo, vamos só ver essa coisa se mexendo. Não dá pra dizer o que faz só de olhar pra ela.
_ Que espécie de máquina é essa? - perguntou Stratski, admirado - Eu nunca vi destas antes.
_ É um novo modelo de Gear chamado Vierge, pra uso exclusivo de oficiais - informou Renk - Dizem que pessoas com poder mental normal não conseguem operá-lo.
_ Então, ela ainda é uma ‘Jugend’ apesar de não ter habilidade? - perguntou Stratski.
_ Hah, parece que vai ser divertido! - Vance comentou animadamente - Vamos ver o que ela pode fazer!
Na cordilheira próxima à fronteira de Kislev, Weltall e os Gears do esquadrão de Maitreya reencontraram-se no sopé da montanha e o general comandou:
_ Direto para o pico da montanha! Não há tempo a perder. Partir!
E eles assim fizeram. Houveram alguns contratempos com monstros e criaturas da caverna um tanto agressivas, mas nada de que o esquadrão não pudesse dar conta sem problemas maiores. Na metade do caminho, porém, o mais adiantado dos batedores avisou na freqüência geral:
_ Talvez tenhamos problemas, amigos. Estou avistando Gears em aproximação a estas montanhas, e eles parecem fortes. Venham para cá conferir!
O Weltall de Fei e os Deurmods do grupo seguiram o sinal do batedor até uma saída dos túneis, já numa área superior da montanha, onde puderam ver um grupo de Gears voadores que, obviamente, deviam pertencer à Gebler. E Fei os reconheceu da batalha na base secreta de Bart.
_ Deixem que eu cuido disso! - ele comunicou aos companheiros, tomando a frente por acreditar que os inimigos o seguiriam se não vissem os piratas avançando - Vão depressa até o pico!
_ M-mas...
_ Não temos tempo a perder! Enquanto estamos aqui perdendo tempo, o grupo de Bart já está a caminho do castelo! Se apressem!
_ E-entendido.
Os demais continuaram a subida apressadamente e ocultos pelas cavernas das montanhas, enquanto Fei conduziu Weltall para uma posição onde mesmo os voadores não teriam como não vê-lo. Juntamente com os cavaleiros, no entanto, vinha um Gear branco e rosado que ele não reconheceu da vez anterior. E, no Gear, Elly reconheceu o Gear negro que surgira em seu caminho.
_ Esse Gear?! Não me digam que é Fei?!
_ Ei, é ele? - perguntou Broyer a bordo do Aegis - O cara de antes?
_ É - concordou Renk em um dos Atiradores - Com certeza é ele.
_ Bom. É hora da revanche! Vê se não fica pra trás, irmã.
E desceu com o Aegis para confrontar Fei, enquanto Elly não podia acreditar no que via, e Renk dizia:
_ Você está no caminho. Por quê não fica aí, parada, e só assiste? - e desceu logo em seguida com o seu Atirador. A bordo do Espadachim, Stratski também disse.
_ É, isso mesmo! Nós podemos dar conta desse cara sozinhos.
O Espadachim também desceu e Helmholz passou diante dela no seu próprio Atirador, pedindo desculpas pelo que acontecia, e Vance também desceu em seu Cavaleiro, dizendo que ela saísse do caminho. Elly protestou pelos comunicadores de todos, ordenando que recuassem uma vez que ainda não dera ordens para o ataque, mas os oficiais já estavam confrontando Fei e Weltall.
O primeiro desafio foram os Atiradores de Renk e Helmholz. Os demais vinham logo em seguida e Fei ativou os Turbos de Weltall para confrontar os dois de uma só vez. Os disparos de rifle e a mobilidade extra das asas nos jatos dos membros da Gebler davam-lhes uma certa vantagem, mas Weltall movia-se com mais facilidade entre as encostas das montanhas por não ter que desviar de um companheiro. Isso os deixava em certo pé de igualdade.
Não tardou, enquanto atacava e recuava para ganhar tempo, para que Fei notasse que os cavaleiros da Gebler pareciam mais preocupados em acertar as contas com ele pelo último combate do que a procurar pelos piratas que ainda subiam pelos túneis nas cavernas. Poderia ser uma vantagem, mas ele ainda não conhecia as técnicas de ataque daqueles Gears, e quando ambos pairaram sobre ele lado a lado, uma descarga combinada dos seus rifles resultou num Feixe de Força, o ataque mais poderoso dos dois, causando dano pesado e jogando Weltall de costas sobre os ‘degraus’ da montanha.
Fei ainda tentava clarear a mente quando o painel de instrumentos acusou um aumento de reação de energia nos Gears inimigos. E ele confirmou nos monitores: não teria como alcança-los e impedir o disparo, e Weltall concentrou energia do Chi de Fei em suas mãos.
O Feixe de Força tornou a cair sobre ele, mas desta vez foi confrontado pelo Tiro Guiado de Weltall, e as energias se chocaram por alguns segundos. Mas Fei estava usando energia do seu espírito e movido por urgência, enquanto os disparos dos membros da Gebler dependiam de seus rifles. Weltall ficou de pé num movimento rápido e subiu pela encosta, aproximando o ponto de choque das energias até que os rifles inimigos explodiram com a pressão, jogando os Atiradores para trás. E eles ainda eram arrastados pela explosão quando Weltall alcançou o mais próximo, de Renk, e o Hazan de Weltall causou-lhe mais danos do que ele poderia suportar e se manter voando.
Helmholz veio auxiliar seu parceiro, mas Weltall estava auxiliado pela velocidade de seus Turbos e girou no ar, montando nas costas do inimigo e destruindo seus jatos, mandando os dois Atiradores pela encosta abaixo. Como no ataque à base pirata, isso não destruiria os inimigos, mas também não permitiria que continuassem lutando.
Mal Weltall alcançara uma plataforma segura e Fei suspirara de alívio quando o Aegis de Broyer o alcançou com um ‘Pile Driver’ e o lançou para a frente, ao mesmo tempo em que a armadura de seu Gear acusava perda de capacidade. E o Cavaleiro de Vance e o Espadachim de Stratski se juntaram ao combate.
Weltall ficou de pé e Fei reconheceu o Cavaleiro que enfrentara antes. Num ataque combinado, o Espadachim disparou seu canhão embutido e o Cavaleiro investiu com sua garra. Fei manobrou seu Gear para saltar sobre o ataque da garra e atingir o Aegis com um Raigeki, tentando eliminar primeiro o dono do ‘Pile Driver’ e abrindo sua guarda.
O Espadachim de Stratski ondulou sua espada esquerda e depois a direita, e as lâminas maleáveis de seus ombros cortaram as rochas próximas ao Weltall, mas perderam seu alvo e ao invés de atingir o Gear negro, acabaram por cortar fora os escudos enormes que protegiam os braços do Aegis, ao mesmo tempo em que se danificavam ao atingir a proteção do outro. Fei utilizara a idéia de que ‘tudo o que é ruim para mim é ruim para o meu inimigo’, usando a força de um contra a do outro.
Tendo saltado para longe enquanto os Gears inimigos se inutilizavam em conjunto, Weltall deteve-se numa posição que punha os rivais alinhados, e tornou a disparar o Tiro Guiado, agora numa trajetória mais inclinada. Era cansativo usar o poder Chi em intervalos tão curtos, mas valeu a pena. Com o ângulo inclinado, a rajada arrastou rochas consigo e atingiu Aegis e Espadachim com violência, lançando ambos morro abaixo e deixando Weltall sozinho para lutar com o Cavaleiro.
O disco que servia de escudo para o soldado foi lançado num giro, pegando Weltall de surpresa e derrubando-o, deixando-o aberto para um golpe das garras do Cavaleiro por cima. Mas o Gear negro conteve o golpe cruzando seus pulsos diante de si e lançando o inimigo contra a montanha com um chute.
Vance girou seu Gear novamente para arremessar o escudo, mas Weltall o pegou em pleno ar e lançou de volta, atingindo a cabeça do Cavaleiro, abrindo sua guarda. Então, o Gear negro de Fei encerrou a batalha agarrando o braço do outro e girando na direção da encosta, para jogar o Gear da Gebler para baixo. Rolando pela encosta, os jatos do Cavaleiro foram danificados e ele não conseguiu deter a própria queda.
Elly assistiu a tudo sem se envolver. Como ela esperava e temia, Fei e Weltall haviam derrotado os cinco soldados da Gebler com relativa facilidade. Weltall estava em guarda no alto do penhasco, mas nenhum deles tinha condições de prosseguir na luta. Nenhum, a não ser ela.
_ Vance! Helm! - ela ouviu Renk chamar pelos comunicadores - Vocês dois estão bem?
_ Por quê estou perdendo pra um Cordeiro? - perguntou Vance, transtornado - Alguma coisa está errada... muito errada!!
_ Vance!! Se controle! - exigiu Renk.
_ Ah, é?! Eu só preciso de mais! Preciso de mais ‘Drive’!!
Elly sabia o que devia fazer. Era o seu dever. Então, por quê estava hesitando?
_ ... Eu não posso fazer isso. Não posso... lutar com Fei. Mas...
Elly sabia que não lutaria para valer com ele. Não podia. A menos que ela...
“A única coisa que me resta... é usar a ‘Drive’... Mas...”
Sua mente voltou a uma cena que conhecia bem. Ela corria por corredores em sua base, sendo perseguida por outros três oficiais. Era a mesma cena que ela revira depois da sua discussão com Fei na Floresta da Lua Negra. Ela tentou fugir, implorou que não a fizessem tomar a droga por temer os efeitos, mas nem mesmo a alta posição de seu pai pudera impedir aquilo e Elly forçadamente ingerira a ‘Drive’.
Ao voltar a si, estava sozinha no corredor. As paredes estavam manchadas de sangue e os três oficiais estavam mortos. Elly não se lembrava de que tipo de poder a ‘Drive’ revelara dentro de si, mas não queria aquilo. Nunca mais usaria a droga se dependesse da sua vontade, e apesar da reação violenta ter sido apreciada pelo alto comando, a posição de seu pai impunha respeito suficiente para que não ousassem repetir a experiência. Não à força.
_ Não faça isso! - alertou Renk, detendo Vance - - Mais um pouco de ‘Drive’ e você vai perder sua sanidade!!
_ Não me importa! Eu já estou maluco com isso como está!!
_ Pare com isso agora, Vance - interrompeu Elly - Eu... vou cuidar disso.
O novo Gear parou diante de Weltall e Fei colocou-se em guarda por reflexo, pois a voz que surgira nos comunicadores lhe era familiar.
_ ... Essa voz?! Elly...? Elly, é você?!?
_ Fei... O que está fazendo? Você não devia estar aqui!
Vierge atacou depressa, tão depressa que Weltall quase não pôde se defender, e seus golpes obrigaram o Gear negro a recuar. Seu monitor ligou-se ao de Elly e então ele percebeu a expressão distante e os olhos vidrados dela.
_ Elly?! O seu rosto... o que foi?! Não me diga que... você está usando aquela droga de personalidade de que Bart nos falou?
_ Isso não tem nada a ver com você. E você devia parar de tentar ser tão amigável!
Vierge juntou os pulsos sobre a cabeça e os acenou para baixo, enquanto vários pequenos projéteis saíram de suas aletas laterais, pairando no ar por um momento para depois se espalharem pelo ar ao redor de Weltall. A um último comando, cada um deles disparou uma rajada de energia Ether de uma direção, tornando a defesa impossível. E enquanto Fei sentia o impacto e Weltall acusava danos múltiplos ao longo do exoesqueleto, os Cavaleiros da Gebler também estavam surpresos.
_ Uau! Você viu aquilo?! - perguntou Broyer.
_ Aquelas coisas eram Aerods! - murmurou Renk, espantado.
_ ‘Aerods’?
_ Drones de Resposta Ofensiva de Ether Animados - Helm respondeu a Vance - conhecidos comumente como Aerods. Na Gebler só há um punhado de pessoas capazes de usa-los. Pelo que eu ouvi, seriam apenas pessoas da Classe dos Elementos.
_ M-mas... - Stratski não queria acreditar - isso não é, tipo, um efeito colateral da ‘Drive’? Não é nada de mais, certo...?
_ Não, a ‘Drive’ só pode extrair o potencial já existente no interior dela - replicou Renk admirado - Vocês estão olhando... pra uma profissional, meninos!
Vierge tornou a atacar e Fei ativou seus turbos, e Weltall evitou a seqüência de golpes por muito pouco. Elly não estava se contendo; o sistema de auto-reparos de Weltall estava trabalhando a toda velocidade, mas ainda precisaria de algum tempo antes dos danos dos Cavaleiros Gebler e dos Aerods estarem recuperados o bastante para outra luta. Saltando para longe, Fei se colocou em guarda e tentou chamar Elly à razão.
_ Elly, pare com isso! Por quê nós temos que lutar?
_ Por quê? - a voz dela era arrogante, nada parecida com a voz suave de que Fei se lembrava - É óbvio; é a providência divina! Nós somos os escolhidos, os Abel... O propósito da nossa existência é subordinar os ‘Cordeiros’ habitantes da superfície... e os que ficarem em nosso caminho devem ser eliminados!
Ela tornou a atacar em altíssima velocidade, mas os Turbos de Weltall igualavam as condições. Ele não foi capaz de impedir a seqüência seguinte de ataques, mas ao conter um dos ataques, Fei revidou com uma cotovelada, jogando Vierge para trás e então saltando no ar, atingindo o Gear de Elly com os pés e odiando-se pelo que havia feito, e esperando não ter que continuar.
_ Elly, desperte! Suas emoções estão sendo controladas pela droga!
_ Essa é a minha verdadeira natureza - e Vierge tornou a se colocar de pé, preparando o ataque - Não existe outra!
_ Isso é mentira! Um dia, você se sentiu responsável, culpando-se por causar o incidente em Lahan por ter pousado lá. Você foi gentil comigo quando eu estava com problemas... A verdadeira Elly nunca diria algo assim!
_ Você fala como se soubesse... - havia desprezo na voz dela - e ainda assim, não sabe de nada!!
Vierge tornou a atacar. Weltall saltou e atacou, buscando impulso para se afastar mais, mas desta vez Vierge desviou facilmente o ataque e subiu, atingindo pesadamente Weltall e jogando-o montanha abaixo.
Lançado de mau jeito, Fei conseguiu usar os jatos de seu Gear para controlar a direção da queda, mas sentiu o impacto ao chegar lá embaixo e sabia que seria derrotado se continua-se como ia. Apoiou-se com dificuldade no rochedo enquanto Vierge saltava sobre ele, pronta para despedaça-lo e à ponta da rocha num golpe só.
Mais por reflexo que por qualquer outra coisa, ele aproveitou-se da força acumulada em seu Gear e subiu ao encontro de Vierge, atacando pesadamente.
_ Hazan!
Subitamente atingida por uma seqüência de chutes, quase como se Weltall tivesse caminhado para o alto sobre ela, Vierge caiu pesadamente numa das plataformas da montanha enquanto o Gear negro de Fei chegou ao penhasco acima de si com um salto mortal. E o rapaz ficou inquieto ao ver que o Gear de Elly não se movia mais.
_ Maldição, eu não queria ter chegado a esse ponto! Elly!!
Weltall desceu velozmente até a plataforma onde estava Vierge, e Fei continuou chamando por Elly. Weltall abaixou-se, verificando as condições do Gear caído...
E Vierge lançou novamente seus Aerods, agora à queima-roupa, causando várias explosões menores ao longo da blindagem de Weltall e fazendo Fei gritar de dor em sua cabine. O ataque derrubou Weltall encosta abaixo e ele só se deteve numa plataforma quase ao pé da montanha. Ele ainda tentava se pôr de pé quando Vierge surgiu, pairando sobre ele como um anjo da morte.
_ hahahahahaha! Sofra! Morra! Apodreça na obscuridade!
_ E-Elly... será que eu... preciso... lutar com você?
_ Parece que acabou pra você. Chegou a hora de eu pôr um fim ao seu sofrimento. Mas não tema: em nome da sua bondade comigo, eu vou te matar sem dor. Adeus, Fei!
Todos os sensores de dano estavam em alerta e Fei não tinha certeza de ainda poder lutar com Elly. Weltall estava em péssimo estado e Vierge provavelmente o destruiria no próximo ataque... mas ele não veio. Surpreso, o rapaz viu o Gear de Elly curvar-se e parecer inativo enquanto uma voz dolorida de uma jovem que tentava recuperar sua sanidade falou pelo comunicador:
_ M-minha... cabeça...
Vierge não se movia, e os gemidos de dor de Elly indicavam que algo não ia bem. Mas Fei também percebeu que era a sua última chance de detê-la e Weltall moveu-se, derrubando Vierge e detendo-a junto ao chão pelos braços e pernas. Os danos sofridos na luta tornavam a tarefa quase impossível, mas Fei não deixou que Elly se soltasse.
_ Elly, acorde! Volte a si!
Vierge debateu-se sob Weltall sem sucesso e, em meio à dor, a personalidade de sua piloto vacilava:
_ Ugh... Silêncio, idiota impertinente! Eu não vou ouvir um Cordeiro... N-não... Não é... verdade. E-eu... Eu não quero... isso...
Fei percebeu que Elly estava em conflito consigo mesma e que ela precisaria de um ponto de apoio, algo em que prender a atenção para voltar. E sua voz serviria.
_ Elly, agüente firme! Continue lutando contra os efeitos da droga! Você pode!
_ F-fique quieto...
_ Eu estou com você, Elly. Você não está sozinha!
_ Eu não preciso... de aparências externas de compaixão... E-eu... F... Fei... M-me... ajude... E-essa... não sou... eu...
A despeito da situação delicada, dos danos sofridos e de Elly ainda não ter recuperado sua personalidade, Weltall abraçou Vierge junto a si e prendeu os braços dela para baixo, e os tremores pararam momentaneamente.
_ Agüente, Elly. Não se perca. Eu estou com você.
_ N-não...
Num salto, Vierge livrou-se de Weltall com um movimento brusco e Fei temeu por um momento que ela tornasse a atacar. Mas o Gear de Elly apenas ficou de pé, cintilando como uma estrela como se recebesse um choque por um momento que pareceu infinito. Então, um último grito de Elly se fez ouvir e Vierge caiu sobre si mesma, enquanto Fei abria apressadamente a cabine de Weltall e corria, ainda chamando por ela.
Elly se recuperou depressa. Passada a fase de enfraquecimento, a droga perdia depressa o poder e logo os dois estavam frente a frente, ao lado de seus Gears. Elly parecia sem jeito e pesarosa, mas antes de pensar no que ela fizera a ele, Fei não conseguia acreditar no que ela havia feito a si mesma.
_ Elly, por quê...?
_ Eu o avisei... - ela baixou a cabeça - Eu disse que da próxima vez em que nos encontrássemos nós seríamos... inimigos.
_ Mas não há razão pra fazer isso consigo mesma só pra poder lutar... Não há razão nenhuma pra você e eu lutarmos... Nenhuma.
_ Não... havia outra escolha - ela ergueu os olhos - Eu sou uma oficial de Solaris... Não posso dar minhas costas à minha unidade, à missão.
_ Por quê você teve que usar a ‘Drive’?
_ Eu não queria... Quando eu a uso, eu mudo. Sinto como se fosse dominada por algum poder desconhecido que eu nunca quis. Há um poder em mim que eu não quero admitir. Mas... eu quero proteger meus aliados... Então, não tive escolha a não ser usar... a ‘Drive’.
Sim, Fei podia entender isso. Ele próprio tinha a sua droga, Weltall, que olhou pesaroso. Nunca mais pilotaria se a escolha fosse sua, mas em nome de seus amigos e em seu próprio nome, ele precisava continuar com o Gear. Foi com um sorriso triste que ele comentou;
_ ... Elly... você se parece comigo.
_ Pareço...? - ela lembrou-se, então, da relutância dele quanto ao Gear e também sorriu - Provavelmente. Eu senti que conhecia você desde o primeiro dia em que te encontrei... Provavelmente, porque nossos problemas são tão parecidos.
Fei colocou as mãos sobre os ombros dela.
_ Eu estou aqui, com você. Pode não ser muito, mas pelo menos eu posso entender como se sente, Elly.
_ O que? Está dizendo pra lambermos as feridas um do outro?
_ Não, não é... - então ele calou-se e baixou a cabeça - É, acho que estou. Desculpe...
_ Não... me desculpe você - Elly também desviou os olhos - Eu não estou sendo justa, estou...?
_ Não, sou eu que sou meio pessimista às vezes. Mas... mesmo que seja... é melhor do que se preocupar com isso sozinho.
_ Fei...
Ela olhou para ele e, por um momento, nenhum dos dois disse nada. Havia muito que ambos queriam dizer, mas nada saía. Por fim, os olhos de Fei caíram sobre Vierge e ele voltou-se de costas para Elly, os olhos agora fixos em Weltall.
_ Você não vai mudar de idéia...?
_ Por favor, Fei, não fique tão triste. Eu não tenho escolha. Esse é o meu único lar...
Ele teria que se separar dela outra vez. Fei cerrou os punhos, frustrado por na poder fazer nada quanto a isso e foi lentamente até a cabine de Weltall.
_ Eu tenho que ir. Meus amigos estão me esperando.
Elly não disse nada, também se sentindo triste. Gostaria de poder dar a resposta que ele queria, e também não gostava da idéia de se separar dele, mas não podia fazer nada. Subindo em weltall e se detendo um último instante, Fei voltou-se para ela.
_ Se puder, saia do exército, Elly. Essa aparência não combina em nada com você.
Não havia nada mais a dizer. Weltall acionou seus jatos e partiu, enquanto Elly continuou ali.
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Maomy

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeQua Abr 14, 2010 4:51 pm

*passando so pra dar um abraço no aizen* yyyyyy eu sei k estou atrasada na leitura, mas logo logo eu recupero e comento sxsxsxs portanto nao desista (ajora) senao senao vou perssegui-lo com o chicote (_00)
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aizensan

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MensagemAssunto: Re: Xenogears *-*   Xenogears *-* Icon_minitimeSáb maio 15, 2010 3:56 pm

Capítulo 12: Desencontro no Deserto

A bordo da sala de estar da Yggdrasil, o velho mordomo Maison procurava manter sua atenção no trabalho para não se preocupar com a futura retomada de Bledavik quando um som atrás de si chamou sua atenção. A xícara do seu jovem mestre Bartholomew caíra e se quebrara, e ele perguntou-se se isso era um tipo de presságio.
No salão onde a fonte se originava e por onde Bart uma vez entrara estava reunido o pequeno grupo que deveria aprisionar Shakhan. Seguindo o plano, ele subiria com Sigurd e mais dois homens enquanto Citan e os dois homens restantes abririam os portões do castelo para abrir caminho para sua força principal de ataque. Conforme Sigurd lembrou-se, seria útil evitar mortes desnecessárias e combates e, acima de tudo, agir depressa.
A idéia seria pegar Shakhan desprevenido, mas quando saíram da fonte na praça central do castelo, as portas principais se abriram para revelar o governante em pessoa e Miang. Citan e Sigurd sabiam que aquilo era um péssimo sinal, mas Bart tomou a frente.
_ Nos poupou o trabalho de te encontrar, Shakhan! Se prepare!
_ Nós estivemos esperando por vocês - respondeu Shakhan, com o rosto calmo de quem tinha tudo sob controle.
Foi quando Bart e seu grupo perceberam os atiradores posicionados em toda a volta da praça e Sigurd cerrou os punhos.
_ Maldição! Uma emboscada!
_ Onde está Kahr...? - perguntou Citan, temendo algo ainda pior do que o fracasso daquele grupo, e Miang prontamente confirmou seus temores:
_ Vejo que você é rápido para entender. Ramsus deve estar tomando conta de suas forças divididas na fronteira de Nisan enquanto conversamos. Ramsus viu facilmente através do seu plano de usar um ataque menor para nos atrair a muito tempo. Não nos subestimem... - e, olhando com depreciação para Citan - Por acaso, você viveu por tanto tempo aqui embaixo que sua mente se perdeu, Hyuga? E Sigurd... quem iria pensar que você se juntaria aos últimos sobreviventes da dinastia real...
_ Maldita... Por quê ainda estão apoiando Shakhan? Qual a diferença pra vocês de quem é o rei?
_ Hah! Você sugere o filho do Rei Fatima assassinado? Ele se recusou a cooperar! Está tentando dizer que, de repente, ele quer ser nosso fantoche? Eu não acredito nisso... mesmo vindo da boca de um traidor como você. Há há há... Além disso, a estupidez nos fantoches tem suas vantagens.
_ Estupidez? - Shakhan olhou ultrajado para Miang, mas ela meramente se afastou e deixou que ele tomasse conta da situação e defendesse seu posto por si mesmo. Ela pretendia se reunir a Ramsus e partiu, ignorando o chamado de Bart.
_ Ô garota, espera aí! Volta aqui, que isso ainda não terminou!
_ Seu pirata... - Shakhan estava furioso pelo insulto, e pretendia descarregar a frustração nas futuras vítimas diante de si - Não, você é apenas um verme da areia. Já me causou vergonha suficiente. Mas isso é o fim; você não soube seu lugar e agora tudo o que espera você é a aniquilação. Preparem-se para atirar!
O som de armas sendo engatilhadas veio de toda a volta e Bart pensou uma última vez em Margie, desejando que ela pudesse fugir de Nisan se chegasse a tanto...
E então, todos ouviram o som de hélices ruidosas se aproximando, chamando a atenção até dos atiradores. E diante dos olhos surpresos de Shakhan e de todos os demais, um Caranguejo de Areia pousou entre o grupo de Bart e o usurpador do trono, com ninguém menos que Maison nos controles. Diante dele, uma metralhadora giratória fez mira contra o peito de Shakhan.
_ Shakhan, seu rebelde maldito! Faça um movimento e essa arma vai cuspir fogo!
_ Velho Maison?!
_ Os reforços chegaram, jovem mestre. Por favor, venham a bordo.
O Caranguejo reclinou-se em suas pernas e todo o grupo subiu, enquanto Maison mantinha o assustado Primeiro Ministro sob mira.
_ Devemos partir agora? Acredito que os anfitriões não nos desejem por aqui.
E ligou os rotores para tirá-los dali, enquanto Bart aproveitava sua vantagem:
_ Te vejo por aí, velho careca! Vamos acertar isso mais tarde. Até lá... mantenha essa cabeça encerada, hein?
O Caranguejo ergueu-se novamente e pareceu preste a sair... quando um som diferente se fez notar, uma nuvem de fumaça escura começou a brotar dos rotores e Citan foi o primeiro a entender o que isso significava. Os rotores se soltaram e saíram voando sozinhos, deixando a máquina exatamente onde estava. E Shakhan recuperara sua vantagem.
_ Isso é alguma espécie de piada? Hmm, parece que os vermes da areia não podem realmente voar. De qualquer forma, agradeço pelos risos. Quase me faz odiar ter que atirar em vocês.
A situação novamente parecia difícil, mas Maison olhou em volta por um instante, como que inspecionando os arredores, e pediu:
_ Por favor, abaixem-se todos. E segurem-se com firmeza.
E tornou a mover as alavancas, obrigando o Caranguejo a correr ao redor da praça. Os tiros espocavam na blindagem e não tardou para Bart entender que não estava chegando a lugar algum.
_ Ei, Maison, você só tá andando em círculos!
_ Apenas deixe isso comigo.
Tendo desenvolvido velocidade suficiente, o Caranguejo saltou para uma das muralhas, para cima da fonte ornamental e por cima da muralha, saindo do castelo e correndo a toda velocidade para o deserto. Shakhan ficou parado imóvel na porta do castelo, sem poder acreditar que perdera sua presa numa situação daquelas.
Em pouco tempo, o grupo de ataque fora recolhido pela Yggdrasil e comemorava a sua fuga, embora ninguém fosse mais grato a Maison do que Bart.
_ Eu sinto muito que você tenha se envolvido diretamente, Maison. Eu... apreciei muito o quê fez. Mas eu não tinha a menor idéia de que você podia operar uma coisa daquelas.
_ Não é nada de mais. É só uma coisinha que aprendi há muito tempo. Não sou um especialista ou algo do tipo. Na verdade - baixou a cabeça - estou um tanto embaraçado por tê-lo feito.
_ Jovem mestre! - Sigurd veio correndo da ponte de comando - Os exércitos da capital real estão voltando! Fomos nós quem mordemos a isca. Devemos fugir antes que sejamos pegos!
Em outra parte, Fei e o grupo de Maitreya estavam parados no alto da cordilheira, tendo uma ótima visão do deserto e da fronteira. Também podiam ver a frota de fronteira de Vanderkaum, um grupo numeroso de veículos de areia. Ao lado de Weltall em seu próprio Gear, Maitreya perguntou:
_ Nosso trabalho é atrasá-los. Então, como quer fazer isso?
Fei procurou pensar por um instante, mas acabou simplesmente dando de ombros e respondendo com simplicidade:
_ Simples. Nós fazemos... isso!
E Weltall saltou para baixo, acionando seus jatos e partindo para uma ofensiva direta. Tendo ficado para trás por um momento, Maitreya ficou apalermado com aquela impetuosidade toda e comentou consigo mesmo:
_ ... Ele pode ser ainda mais impetuoso do que o jovem mestre... Falkon! Siga o garoto! O resto de vocês, fiquem com sua unidade, mas me sigam! Não fiquem atrás do garoto! Nós estamos nessa também!
A nau capitânia da frota da Gebler soou o alarme repentinamente, enquanto o intercomunicador transmitiu o recado:
_ Bandidos chegando no vetor 3-3-6! Dois grupos, cerca de sete ou oito máquinas, distância 2000!
_ Transmitir a todas as naves! - ordenou o general - Atirar à vontade, iniciar ação evasiva! Mas não deixem as posições de apoio caírem!
A nave capitânia dera suas ordens e o grupo começaria a se mover. Os sistemas de controle de tiro rápido iniciariam a operar e as minas aéreas seriam liberadas, quando uma ordem de espera se fez ouvir. Era Vanderkaum.
_ Oficial de comunicação, mudança de ordens! Contate Von Hipper... Faça o segundo esquadrão de destróieres se aproximar do flanco inimigo. Abram o flanco da frota e os atraiam até o arco de disparo da arma principal de Kefeinzel.
O general a bordo prontamente colocou sua objeção. Aquilo era estupidez! Não havia como a arma da nave capitânia alcançar Gears velozes! Mas Vanderkaum não estava ouvindo, ocupado em ditar ordens.
_ Controle de tiros! Chefe de artilharia! Preparar munição tipo três! Retirem os atiradores do convés e preparem-se para ativar o canhão principal do Kefeinzel... Eu vou aniquilá-los com energia pura.
_ Almirante!! - exclamou o general - O que está fazendo, retirando os artilheiros anti-Gear?!
_ Cale-se, oficial de aviação! Agradeço por sua opinião valiosa, mas eu estou no comando, e não você! De que adiantam atiradores de ervilha e armas de quarenta sen? Fim da discussão! Não tão depressa, capitão! Não vamos querer que o inimigo fique para trás.
Todos os soldados seguiram o comando de Vanderkaum, mas seus pensamentos eram semelhantes aos do general: aquele plano não funcionaria nunca. Lá fora, Weltall foi o primeiro a alcançar o grupo em fuga e seu rádio pegou uma mensagem de Falkon:
_ Vá pelo oeste até a nave mãe! Esqueça o destróier! Eu fico pra trás e cuido disso!
Weltall acelerou, com Gears inimigos tentando bloquear seu caminho e a artilharia espocando à sua volta e erguendo areia para todos os lados. Isso ajudava a ocultá-lo visualmente dos inimigos, mas também o atrapalhava na localização das minas flutuantes. Com dificuldade ele passou pelo primeiro bloqueio e a voz de Falkon se fez ouvir de novo:
_ Afaste-se do destróier! Eu vou usar tiros de reação!
Weltall adernou para longe e os disparos do destróier o perseguiram por mais alguns segundos, antes que uma explosão silenciasse os ataques daquela posição. Na ponte de comando do Kefeinzel, Vanderkaum não se conformava com o que estava vendo.
_ Aquele idiota do Hipper! Persigam-nos, eles estão só brincando com ele! Você não é bom o bastante nem para ser o meu cão!
_ Nossa mobilidade é muito diferente... - foi a resposta que veio.
_ Controle de fogo! Chefe de artilharia! Não deu um tiro ainda! O alcance do Tipo três é dentro de quinhentos! Não atire até ver o branco dos olhos deles!
_ Gears em velocidade de batalha podem se mover a dois mil por hora.
_ Esta nave inteira! - bradou Vanderkaum - Todos vocês são idiotas!
“Você é o idiota maior!” - pensou consigo mesmo o general.
Lá fora, mais uma linha de defesa estava diante de Weltall, e Falkon avisou:
_ Logo depois desta linha de naves está a nave mãe Kefeinzel! Vai firme, garoto!
Fei acelerou e Weltall começou a se aproximar, mas isso não era tarefa fácil. Dois destróieres atiravam pela esquerda e direita e ele não tinha espaço para manobrar, pois havia Gears inimigos e minas flutuantes para comprometer sua aproximação. Os Gears tentavam alcançá-lo e ele procurou jogá-los contra as próprias minas, e Falkon tornou a avisar:
_ Muito bem, agora evite a escolta! A nave diante de você é a Kefeinzel!
A bordo da nave mãe, tiros eram disparados para derrubar o Gear negro que se aproximava e eram completamente desperdiçados. Em sua ponte de comando, Vanderkaum não se conformava.
_ Controle de fogo, chefe de artilharia! O que estão fazendo? Não estão nem chegando perto! Estão cegos?
_ O motor do Destróier Iltus se foi! E pelos sinais luminosos de Luveh, o leme deles também se foi!
A desordem ia alem de qualquer reparo. O general discretamente se afastou quando o sinal de que Weltall estava sobre a nave chegou, e Vanderkaum imaginava o que Ramsus faria se ele sofresse mais uma derrota. Lá em cima, no convés, a artilharia menor fez tudo o que era possível, mas o Gear negro era veloz o bastante para evitar a maioria de seus disparos enquanto ele destruía sem maiores dificuldades o canhão principal da Kefeinzel, fazendo soar o alarme geral de evacuação da nave. Todos a bordo corriam para os casulos de fuga, mas Vanderkaum continuava parado na ponte de comando, como que em choque.
_ Certo... Eu ainda tenho aquilo. Ainda tenho aquilo...
Ele continuava repetindo isso, enquanto a ponte se enchia de fumaça.
Do lado de fora, Maitreya parou seu Deurmod ao lado do Weltall de Fei e comemorou:
_ É isso aí! Um ponto pro nosso lado!
_ É... - Fei concordou com um sorriso satisfeito - E tudo graças ao seu apoio. Valeu.
_ Parar os guardas da fronteira? Hah... Nós os destruímos! Bem... - e retomou um pouco de sua compostura, o entusiasmo voltando aos eixos - terminamos nosso trabalho. Espero que os outros estejam bem.
_ Bart e o grupo dele - Fei ficou pensativo - Provavelmente ele está bem... Alguma notícia deles?
_ Nada. Mas dizem que sem notícias significa boas notícias, eu acho. Meu Gear não tem um equipamento de comunicação muito bom. Provavelmente eles se saíram bem.
(Garras gigantes giraram e se colocaram em prontidão, enquanto canhões inoperantes zumbiram com energia quando foram acionados.)
Weltall voltou-se de repente para a Kefeinzel arruinada, movido por Fei, e Maitreya notou então que ele parecia subitamente perturbado.
_ O que foi?
Weltall ficou em posição de defesa e Maitreya não entendeu, até que luzes brotaram abaixo da antiga ponte de comando da nau capitânia e uma explosão veio em seguida, revelando grandes garras de metal que precederam um corpo enorme semelhante a um tanque de guerra e uma lagosta ao mesmo tempo. E a voz de Vanderkaum veio pelos comunicadores de Fei, Maitreya e do resto do grupo:
_ Vocês... Eu vou matar todos vocês!!
Do outro lado do deserto, Bart decidira-se pelo retorno a Nisan. As palavras de Miang eram claras para ele e mesmo os conselhos de Maison e Sigurd não puderam mudar sua decisão.
_ Margie e eles ainda estão lá. Nós vamos voltar! Precisamos fazer isso! E isso me lembra... E quanto a Fei e seu grupo? Se eles estiverem bem, nós poderíamos...
_ Não tivemos contato desde que confirmamos a ordem de ataque deles - comentou Franz.
_ Maldição, isso não pode estar acontecendo!
Bart baixou a cabeça, pesaroso de que o amigo e seu grupo pudessem ter sofrido o mesmo destino de Nisan. Então, o instinto de quem nascera e se criara no deserto o fez notar algo antes dos demais.
_ Por trás...? - ele ergueu a cabeça, silencioso por um instante. Depois, comentou em voz alta:
_ Tem alguma coisa vindo por trás de nós! Jerico! Me passe o leme... não, fique com ele! Basta se apressar e virar pra qualquer lado!!
_ Jovem mestre...? - indagou Sigurd, admirado. E Franz de repente começou a falar, alarmado:
_ Por trás da nossa trilha! Trezentos! Estou pegando o som de torpedos sendo preparados! Um cruzador da areia?! É grande! Velocidade sessenta! Rota relativa 0-0-0! Estavam escondidos por trás de alguns recifes!
_ Kahr! - murmurou Sigurd, e Franz continuava informando:
_ Estou recebendo uma propulsão de alta velocidade, partindo da nau inimiga! Torpedos?! Dois deles! Velocidade 87! Torpedos confirmados com o sonar. Eles passaram para perseguição teleguiada!
_ Estações de batalha! - bradou Bart - Ativar camuflagem! Preparem o perturbador sonoro!
As luzes da ponte de comando mudaram para vermelho enquanto toda a tripulação da Yggdrasil assumia seus postos de batalha e Bart assumia a postura de comando. Desta vez, no entanto, eles não estavam atacando uma presa; eles eram a presa.
_ Estações de batalha, todos!
_ Abrir misturador! Perturbador sonoro, segundo e quarto tubo... preparar!
_ Emitir Perturbador sonoro! - ordenou Bart - Preparar para desligar o motor!
Os Perturbadores foram lançados como torpedos na direção oposta, e Bart agarrou-se na grade de apoio.
_ Leme... agora! Desvie pra a direção oposta o máximo que puder! Parar o motor! Alerta de colisão!!
A ordem foi repetida pelos intercomunicadores e a Yggdrasil adernou violentamente para a esquerda. Todos aguardaram tensos na ponte de comando até Franz relatar:
_ Torpedo... 1, ainda perseguindo! Maldição! Impacto em 3!!
Um estrondo se fez ouvir pelo deserto. A bordo da nave da Gebler, Ramsus e Miang aguardaram pela notícia favorável na ponte de comando, e ela chegou.
_ Confirmado, som de destruição do veículo... seguido por um rápido som de explosão. Veículo inimigo provavelmente está flutuando depressa até a superfície.
_ Estática fluida ao redor do veículo inimigo está diminuindo. Manobrabilidade na areia do veículo inimigo caiu em 60%. Parece que o motor principal e os redutores de efeito foram incapacitados.
_ Assim que seus redutores de efeitos forem destruídos - falou então Ramsus - eles permanecerão enterrados e incapazes de se mover. Ir à superfície foi um movimento esperto. Chefe de Torpedo da Areia! Bom trabalho em reduzir o poder de luta deles. Brilhante!
_ Desculpe preocupá-lo.
_ Bem... - Ramsus voltou-se para Miang - o que devemos fazer com eles...?
_ Oh? É incomum ver você sem saber o que fazer.
_ Eu prometi a um velho amigo... Preciso ser moderado - ele pareceu ficar pensativo - Um velho... amigo...
Outro dia no passado veio à memória de Ramsus. Um jovem oficial da Gebler de cabelos brancos longos e ainda com os seus dois olhos azuis partia do hangar sem olhar para trás.
_ Sigurd!
Sigurd deteve-se sem no entanto se voltar e esperou que o outro o alcançasse.
_ Por quê está abandonando esta terra?! - indagou Ramsus, sem entender - Você deveria nos ajudar a criar uma nação ideal!
_ Eu não o estou abandonando. - replicou o outro, ainda sem se voltar - Tenho vivido aqui para roubar a tecnologia deste país desde o início. Além disso, há alguém esperando por mim. Não seja amargo.
Ele voltou-se então, com um sorriso tênue no rosto e os olhos fixos nos de Kahran Ramsus.
_ Não foi tão ruim seguir os mesmos ideais que você, durante aquele curto tempo.
Não havia mais nada a dizer e Sigurd se foi, deixando um Ramsus perplexo e furioso para trás. Toda a frustração e rancor explodiram por fim quando ele percebeu que Sigurd realmente não voltaria.
_ Seu traidor!!
O passado se foi. Ramsus abanou a cabeça para livrar-se das lembranças e voltou sua mente para a questão que tinha diante de si.
_ Oficial de Comunicação! Use meu nome e exija que eles se rendam. Diga a eles para se renderem se desejam a segurança de Nisan. Todas as divisões, cessar fogo, mas manter-se em alerta! Se algum veículo inimigo tentar atacar, atirem individualmente nele!
Outro lado do deserto. O Gear de Vanderkaum, Dora, era como um tanque de guerra, a cabeça coberta por uma proteção resistente em que os Gears piratas não faziam qualquer dano, e apenas Weltall conseguia algum efeito. As garras compridas do Gear verde tinham aprisionado dois dos Gears piratas, e atacou Weltall e os demais piratas usando os prisioneiros como armas, ou os seus canhões embutidos.
Weltall tornou a investir, e Dora tornou a usar os prisioneiros. Desta vez, no entanto, os Turbos do Gear negro foram ativados e ele era muito superior ao pesado Dora, passando com facilidade entre as garras do oponente e atacando sua cobertura com um Hazan, quebrando-a por fim.
A capa protetora despedaçou-se enquanto Weltall aterrisava com um salto mortal e os prisioneiros piratas foram libertados, e pelo rádio Fei avisou:
_ Depressa, eu destruí a cobertura! Ataquem agora e ele vai ceder!
Os Gears piratas não precisaram de outro comando e Fei finalmente pôde ver em primeira mão o estilo deles. Ao destruir a capa protetora, Weltall liberou um canhão central poderoso do Dora, mas como já haviam dito a Vanderkaum, era difícil manter em mira um grupo de Gears velozes correndo para todos os lados.
Vanderkaum estava nervoso, se esforçando atrás dos controles para conseguir fechar seus oponentes na mira do canhão principal do seu Gear quando Weltall surgiu à sua frente e descarregou um Tiro Guiado. Como Fei esperava, um Gear tão sólido quase não sofreu danos, mas a luz do disparo deixou Vanderkaum sem visão por tempo suficiente para Maitreya e seus homens atacarem em série, cada um deles atingindo em fila rápida a base das garras do Gear, enquanto o próprio general obstruía a saída do canhão. Quando Vanderkaum, ainda recuperando a visão, percebeu tantos alvos próximos da arma principal, disparou... e ela explodiu, jogando Dora para trás e evidenciando a derrota.
Vanderkaum ficou muito abalado, sem saber o que fazer. Sua reputação e tradição de guerreiro haviam sido jogadas no ralo e seus rivais estavam afastados. Se ainda houvesse alguma arma funcionando... se o Dora ainda tivesse força...
_ Você quer o poder?
A voz sinistra veio num clarão de luz, e diante da surpresa de Vanderkaum, um Gear de bronze mergulhou dos céus numa velocidade vertiginosa para deter-se a poucos metros do solo e bem diante dele, de braços cruzados. Uma aura vermelha agressiva começou a fluir dele, e um rosto encapuzado apareceu no monitor do Dora.
_ Eu sou Grahf, aquele que procura o poder. Tu desejas o poder?
_ O poder... Sim, o poder... eu o quero. Eu quero o PODER!
_ Pois que seja.
O Gear de Grahf ergueu sua mão direita e ela começou a cintilar com o mesmo brilho vermelho que se aglomerava em torno de toda a máquina. E Grahf disse:
_ Meu punho é o sopro divino! Desabrocha, ó semente caída, e revela teus poderes ocultos!! - a mão estendeu-se na direção do Dora e Grahf completou - Concedo a ti o poder da gloriosa ‘Mãe da Destruição’!
A luz vermelha irradiou-se do punho do Gear de Grahf e banhou o Dora, e Vanderkaum sentiu que mudava dolorosa e totalmente.
Distantes demais para entender o que fora dito, mas vendo o Gear de bronze se afastar dos restos do Dora, tanto Fei quanto os piratas estavam confusos.
_ ... O que era aquilo? O sujeito de agora há pouco? - perguntou Maitreya, mas Fei estava perdido nos próprios pensamentos. Aquilo se parecia com alguma técnica, mas não era nada que ele conhecesse.
“Eles... Por quê eles...? O que fizeram?”
Apenas o vento do deserto respondeu por algum tempo, enquanto a fumaça das naves destruídas de Vanderkaum esmorecia aos ventos. Então, um comunicado de rádio alcançou os Gears piratas, e um dos pilotos transmitiu a mensagem.
_ Oh não! General! General Maitreya! Pegamos uma mensagem em código R! Não estou certo, mas parece que o jovem mestre está em apuros!! Não temos tempo pra esse sucateiro!
Foi a última coisa que o soldado disse antes que um disparo de energia maciça varresse seu Gear do deserto. Fei, Maitreya e o resto da unidade se voltaram para ver o Dora de Vanderkaum novamente ativo e cintilando com poder, mais ameaçador do que nunca.
_ Vocês aí... O que estão fazendo, me ignorando e olhando para o lado...? Eu vou matar todos vocês!!
E para provar o que dizia, vários jorros de energia começaram a brotar dos canhões do Dora e colunas de luz subiam em cada ponto onde atingiam, enchendo o deserto de sons e luzes intensos. Maitreya avançou com seu Gear e deteve-se por um momento, voltando-se para Weltall.
_ Fei, reúna os feridos e volte para o jovem mestre. Depressa! Minha unidade vai ficar pra trás e tentar conseguir algum tempo.
_ Não seja idiota! Eu vou ficar também!
_ Cale a boca e escute, garoto! Você é o convidado do jovem mestre! Eu não posso te deixar morrer aqui!
_ Mas...
_ O jovem mestre... - a voz de Maitreya agora era baixa, como quem fazia um pedido - O que ele realmente precisa agora é a sua força. Por favor, vá ajudá-lo. Eu imploro.
Fei ficou sem palavras diante do apelo do General Maitreya. Não lhe parecia certo partir daquele jeito, mas como negar aquele pedido? E Maitreya ativou seu Gear, ordenando:
_ Farrant! Vind! Vamos andando!!
Tudo o mais pareceu um filme em avanço rápido para Fei. Os Deurmods vermelhos dos piratas correndo, confrontando o gigantesco Dora...
(Pare!)
... e sendo subjugados por seus canhões e garras.
(Pare com isso!)
Um a um, aqueles homens valorosos e suas máquinas caíram. E o som de seu próprio coração pareceu de repente alto, terrivelmente alto, a ponto de encobrir até mesmo o som da batalha.
(P-por favor... Pare!)
Mais sons. Metal sendo destroçado, e o pulso do seu coração. Gritos que se perdiam em meio às explosões, e seu coração. O pulso do seu coração parecia crescer e engolir a tudo. Fei pedia baixinho que tudo aquilo parasse, incapaz de fazer qualquer coisa. Foi quando ele soube o que fazer, ergueu a cabeça e abriu seus olhos.
Longe no deserto, a Yggdrasil corria desabaladamente na superfície e deixando um rastro de fumaça atrás de si. O incêndio fora extinto, mas as condições estavam péssimas. O Brigandier de Bart conduzia a nave através do grande timão exterior e o líder dos piratas pesou sua situação.
_ Cercado, hein? Como é que estão os reparos?
_ O motor principal e os osciladores dos redutores de efeito estão quase ilesos - avisou o engenheiro - mas as conexões elétricas entre eles foram perdidas. Estamos desviando a conexão principal e tentando remendar toda a energia que pudermos, mas só vai nos dar 70% da nossa força máxima costumeira na melhor das hipóteses. As brocas propulsoras não estão danificadas, mas se a areia não puder ser granulada, elas podem ser. Nós faremos velocidade de batalha três... mal e mal.
_ Sig! - chamou Bart - O que o ‘Sr. Manda Chuva’ da Gebler tem pra dizer?
_ Ele esteve quieto desde a primeira exigência de rendição.
Bart ficou em silêncio por instante, olhando em volta. A Yggdrasil estava cercada por uma frota inteira da Gebler que corria ao seu redor como uma cerca viva. A coisa mais sensata a fazer, dada a sua situação e a de Nisan, seria aceitar a rendição imposta por Ramsus. Então ele sorriu, feliz consigo mesmo por nunca ter sido muito sensato.
_ Todo o pessoal para os postos de batalha. O plano é escapar à força assim que os conectores estiverem ligados.
_ Jovem mestre! - exclamou Sigurd.
_ Sig, escuta: a rendição não vai mudar o destino de Nisan. Vamos perder a Yggdrasil, o núcleo da nossa força, pra salvar Aveh e Margie. Eu sei que parece ruim, mas você ainda pode contar com a gente!
_ Bem dito, jovem mestre! - afirmou Maison, entusiasmado - Este velho o seguirá até os poços do inferno!
_ Desculpe, Velho Maison, eu não vou morrer hoje!! Até porque eles não parecem querer nos acertar.
_ Com certeza parece ser assim - analisou Sigurd, pensativo - Talvez eles tenham motivos políticos que envolvam Margie ou o jovem mestre.
_ Provavelmente é isso, Sig! Mas eles tão esquecendo uma coisa... É mais difícil levar um animal vivo do que morto!
_ Jovem mestre! - chamou o engenheiro - as conexões de emergência estão completas. Use o motor como quiser!
_ Valeu! Tá bom, vamos... pegar esses idiotas!!
Toda a Yggdrasil se preparou para o que seria a sua última batalha. A bordo do cruzador da Gebler, Ramsus ouviu o aviso assim que a nave pirata começou a se mover novamente.
_ Confirmado, um Gear inimigo em ação. Curso direto. Veículo inimigo, som de motor aumentando... Aumento de velocidade, som de desvio confirmado, mudanças de curso... Tomando ação evasiva.
_ Comandante...? - Miang não conseguia manter totalmente a seriedade - Há há há.
_ Não puderam evitar, hein...? - Ramsus suspirou - Todas as divisões, trajetória de espera cancelada! ... Resumir ataque!
_ Arco de tubos de torpedo 1 a 3, míssil Namthal. Ajustar 1 e 2 para perseguição, 3 para anti-radar. Tubos 4 a 6, torpedos de areia Makara Mk5. Todas as unidades, iniciar fogo defensivo. Mirar para a nave principal.
_ E-esperem!!! - uma outra voz soou de repente, alarmada - Explosões ao longo do perímetro da frota confirmadas. Sons múltiplos de destruição de veículos! Reações de alta energia... Que espécie de arma é essa!? Comandante!! Eu não posso acreditar nisso! Este... Gear...? É como cargas de reação voando à nossa volta...!
_ Acalmem-se - ordenou Miang - Coloquem a figura analisada no monitor.
_ S-sim, senhora...
Uma imagem externa foi apressadamente transferida para a tela principal da nave mãe e, a despeito do susto que todos os oficiais possam ter tido, era o medo de ver um demônio desconhecido. Para Ramsus, no entanto, o medo era ainda maior, pois ele conhecia o monstro.
“Ah...! Isso é...!!”
As naves, destróieres e Gears de areia da Gebler desapareciam a cada movimento de braço do Gear vermelho, que cruzava o céu com uma velocidade inacreditável e despejava sobre o deserto tanta energia que fazia os disparos do Dora parecerem lanternas. Todo o cerco à Yggdrasil foi desaparecendo inapelavelmente, e a câmera da nave mãe conseguiu uma visão frontal bem nítida do demônio vermelho, lembrando Ramsus do pesadelo que tivera. Desta vez, no entanto, era tudo real.
No convés da Yggdrasil, Bart acompanhava as explosões ao longo do perímetro sem entender o que acontecia. Toda a frota inimiga estava desaparecendo e o milagre parecia tão grande que ele não queria agradecer, temendo o que seria cobrado dele por aquilo. Brigandier voltou-se na direção das explosões e então seu piloto viu que algo se aproximava.
_ Está vindo... pra cá?
Um brilho vermelho cresceu e ficou cada vez mais intenso, fazendo a própria Yggdrasil tremer à sua aproximação. Na ponte de comando de sua nave mãe, Ramsus deixava seu ódio sobrepujar o medo.
_ A-aquele Gear! Não há engano! É ele! Demônio de Elru...! Vamos Miang!
E ele correu sem pensar duas vezes para o hangar de Gears. Miang tentou chamá-lo à razão, mas não havia como fazê-lo e ela também o seguiu. Antes de deixar a ponte, no entanto, a enigmática imediata voltou-se ainda uma vez para a tela principal e sorriu.
Bart não sabia o que fazer ou dizer. Diante dele, flutuando sobre a escotilha de entrada da Yggdrasil, estava o Gear vermelho que estivera atacando a Gebler. Ele gostaria de poder dizer que estava grato pela ajuda, se não fosse pela incômoda e certa sensação de morte que acompanhava aquela máquina. Se aquele Gear e seu piloto haviam entrado na batalha, não era por intenção de ajudar quem quer que fosse.
Aquela coisa tinha uma cor vermelho sangue e asas de energia pura emanando de suas costas, e elas milagrosamente o mantinham voando. O que mais incomodava Bart, no entanto, era a terrível sensação de familiaridade que havia nele. Era como se já tivesse visto aquela máquina em algum lugar.
_ Você é forte?
A voz que soara pelo comunicador era fria e impessoal, e no entanto tinha um som familiar, também, embora o rosto do recém-chegado não estivesse no monitor. Era um estranho, e lhe fizera uma pergunta estranha.
_ ... O quê? Quem é você...?
Bart se incomodaria em notar como sua voz parecia assustada em relação à sua voz costumeira, mas a verdade era que estava mesmo assustado. E o estranho insistiu:
_ Eu perguntei, ‘Você é forte?’!
E sem esperar resposta, ele levou sua mão diante do que seria o rosto e uma luz intensa brilhou, pouco antes de lançar um ataque de energia intensa.
Movido às pressas por seu piloto, Brigandier saltou do convés e ganhou distância da Yggdrasil, ficando de pé. Antes de se voltar, porém, Bart sentiu uma terrível presença flutuando logo acima e atrás de seu Gear.
(Atrás de mim!?)
O suor frio escorria da fronte do pirata, e ele quis de coração ver sua prima Margie uma última vez. Mesmo o cerco que Ramsus promovera não o havia assustado, mas agora...! Tenso, tentando ganhar tempo e entender o que acontecia, Bart perguntou:
_ ... Por quê você vem, tão de repente, me atacando?!
_ Heh, heh, ótimo - o outro respondeu, debochando - Então banque o tolo! Você, forte... Hã?
A atenção do Omnigear vermelho foi subitamente atraída para algo que se movia à sua direita e Bart pôde ver dois Gears em aproximação ligeira. O Gear branco apenas deteve-se a uma certa distância, mas o dourado parou com suas asas de dragão abertas e segurou sua espada, preparado para a luta, enquanto o pirata reconhecia a voz que falou em seu comunicador.
_ Você aí... garoto pirata! - exigiu o tom autoritário de Ramsus - Você o conhece!? É isso mesmo... Afinal, você estava com aquele pirralho, Fei!
_ Não, eu não conheço ‘ele’! Mas, mesmo que conhecesse, com certeza eu não diria a você!
_ Bom! Então, não vai se importar se eu der conta dele. Eu devo a ‘ele’ muita coisa!
Dito isso, o Wyvern de Ramsus apontou sua espada e investiu, e o Omnigear pousou no deserto sem palavra. Bem diferente do quase alucinado comandante da Gebler.
_ Eu finalmente o encontrei! Agora, devo desafiar você!!
Os dois Gears investiram, o Wyvern com a espada erguida para o golpe... que nunca foi desferido, pois o braço da espada foi arrancado com um golpe simples do Omnigear vermelho.
Antes sequer que pudesse ficar surpreso, Bart viu o estranho atacante agarrar o Gear dourado de Ramsus pela cabeça e decolar, erguendo-o sobre o deserto sem esforço e sem tempo de reação. O comandante da Gebler, transtornado e indefeso, o chamava de monstro e se debatia tentando reagir, mas o Omnigear mergulhou na areia escaldante fazendo o Wyvern atingir o solo com a cabeça e depois tornando a erguê-lo diante de si com desprezo evidente.
_ ... Guha! M-mal... dito seja... - Ramsus praguejou, agora por um comunicador que chiava com estática devido ao dano sofrido - Se não fosse por você...
Sem parecer dar qualquer atenção ao outro, o Omnigear o soltou no ar e girou, atingindo-o com um chute e jogando-o na areia completamente fora de combate, tendo ainda arrancado sua perna esquerda com o último golpe. Mas ele ainda estava longe de ficar satisfeito e correu na direção de Brigandier, e Bart ficou em guarda.
_ Tch! Fique longe!!
O Gear branco de Miang alcançou o que restava do Wyvern e pairou sobre ele, abaixando-se gentilmente para recolhê-lo.
_ Comandante... vamos nos retirar!
_ Não faça nada precipitado, Miang! - advertiu Ramsus - Eu ainda tenho um braço!!
_ Estamos nos retirando! - ela insistiu, sem dar espaço a contradições - Parece que aquele cachorro louco tem um novo brinquedo.
As asas de energia criavam uma aura esverdeada em torno do Omnigear e espalhavam areia por toda a parte, enquanto ele pairava diante do Brigandier.
_ Bem, agora que minha mola motora está aquecida... vamos começar o evento principal!!
_ Hoje é o meu dia de azar - Bart comentou, quase parecendo conformado - Por quê isso tem que acontecer agora? Ah, bom... vamos acabar com isso!
Apesar da sua fama de brigão, Bart realmente não gostava de combater. No entanto, ninguém poderia chamá-lo de covarde. A diferença de forças era patente e, mesmo assim, ele não tentou fugir em momento algum. Ramsus, que quase o vencera até a chegada de Fei em Aveh, não pudera sequer incomodar o Omnigear... mas ele tratou logo de partir para o ataque, ativando seus Turbos e tentando atacar mais depressa.
Usando seu novo ‘Golpe da Serpente’, Brigandier saltou e prendeu a cabeça do Omnigear, mantendo-o preso no chicote direito enquanto o esquerdo afundava na areia, prendia as pernas do adversário e o puxava para derrubá-lo... mas o Omnigear meramente saltou para trás quando puxado, caindo de pé e continuando na espera.
Ele tentou seu ‘Disco Celestial’, usando a Máquina de Ether do Brigandier. O Omnigear ficou parado e mal se moveu quando atingido.
Brigandier usou o ‘Sorriso Selvagem’ para diminuir a visão do outro e depois um ‘Chicote em Cadeia’. E mesmo assim, o Omnigear nem tentou se mover para desviar. Cansado, assustado e um tanto irritado com o descaso do outro, Bart comandou o Brigandier para um ataque direto, que foi subitamente interrompido quando o Omnigear agarrou o braço direito do Gear pirata e Bart ouviu apenas:
_ É a minha vez.
O Omnigear empurrou Brigandier para trás e Bart mal começara a cambalear quando o outro o atingiu com as duas mãos espalmadas no peito, fazendo o Brigandier voar para trás e Bart gritar, enquanto seu Gear tombava e todos os sensores de dano indicavam problemas.
Antes mesmo que ele caísse propriamente no chão, o Omnigear encerrou o ataque com uma nova seqüência de seus punhos que dilacerou completamente a armadura do Brigandier com ondas de choque negras, uma técnica muito parecida com a que Fei usara no Calamidade durante a saída da Caverna de Estalactites, caso Bart tivesse visto ou se lembrasse para comparar.
Brigandier caiu semidestruído no deserto enquanto a tripulação da Yggdrasil emudecia. Mas Sigurd viu seu jovem mestre cair e passou imediatamente à ação.
_ Motor, preparar para força máxima!! Jerico! Me dê o leme!
_ Mas primeiro imediato - objetou o navegador - agora, com os redutores de efeito fora de funcionamento, se correr à velocidade máxima, a nave não vai resistir à fricção!
_ Ela pode ‘saltar’ devido ao Efeito Bernoulli nas asas de superfície ao invés disso! - retrucou Sigurd, preparando-se.
_ Primeiro imediato!
_ Nunca se esqueça disso! - Sigurd voltou-se com olhos decididos para o navegador, que emudeceu - A Yggdrasil não é nada sem o jovem mestre!! Força total! Velocidade máxima!!
Quem tivesse a oportunidade de ver com certeza não se esqueceria nunca daquele momento. A gigantesca nave pirata Yggdrasil começou a correr pelo deserto com dificuldade, os trancos aumentando com a velocidade, mas sempre seguindo rumo ao local onde Bart caíra. As asas de superfície se abriram e a proa começou a empinar. O controle ficou mais e mais difícil, mas o pulso firme de Sigurd manteve a direção firme. E a nave começou a subir.
O Omnigear vermelho estava parado, enquanto Bart juntara seus pedaços e pretendia fazer um último movimento. Era tudo o que Brigandier ainda poderia fazer depois do ataque sofrido, e ele pretendia ao menos tombar lutando. Então, o deserto pareceu escurecer e ambos olharam para o alto, enquanto o casco da Yggdrasil encobriu o sol e caiu sobre eles.
Bart, que planejara um último golpe, mudou de idéia e usou seu último movimento para se afastar da área de impacto. E até mesmo o Omnigear vermelho, se houvesse alguém para ver, parecia estar profundamente admirado daquilo. Um segundo depois, a nave pirata aterrou violentamente e todo o deserto estremeceu. Brigandier, no entanto, estava fora da área da queda.
_ Jovem mestre! - chamou Sigurd - Você está bem?!
_ Não exagera, Sig... Tentar fazer a nossa nave ‘voar’?! - ele parecia ótimo, com o mesmo tom brincalhão de sempre, o que foi um alívio para Sigurd - Quando voltarmos, vai levar um mês pra colocar essa pilha de sucata funcionando de novo.
_ Há... Há há... Você parece estar bem!
_ Putz!! - e Bart suspirou de alívio - Afinal, o que era aquele monstro?
Antes que Sigurd pudesse responder, o casco subitamente se moveu como se enrugasse e Bart soube no ato que aquilo não era efeito da queda. Algo não estava certo.
_ Sig! O que é que tá havendo?
_ A nave...? - Sigurd também estava confuso - O motor deveria ter se perdido, mas...
A Yggdrasil começou a centelhar e ranger, protestando contra a impossibilidade que acontecia, e mediante os olhares surpresos de Bartholomew Fatima e toda a sua tripulação, o cruzador de areia deixou o solo do deserto. Abaixo dele, com o braço direito erguido enquanto flutuava para cima, o Omnigear vermelho estava ileso.
A visão era aterrorizante. Aquela... coisa estava erguendo a nave inteira com uma só mão e sem fazer qualquer esforço aparente. A nave vazava areia por todos os lados e manteve-se inteira só por um instante, antes que a proa e a popa se curvassem e apenas o corpo central continuasse inteiro, sustentado pelo Omnigear.
_ Isso foi muito interessante - comentou a voz desconhecida, num tom de quase admiração - Mas derrubar uma nave de guerra em mim é trapacear... Pegue de volta!
Bart tornou a ver o sol ser encoberto enquanto a sua Yggdrasil foi arremessada sobre si sem qualquer esforço. Desta vez, no entanto os sistemas do Brigandier estavam exauridos e ele simplesmente não tinha para onde correr. Todo o seu painel apagara, e ele sabia que não sairia dali.
_ Sig, Maison! Aaahhhh!!
Na ponte de comando a nave inteira se inclinara e as luzes e sinais de alerta gritavam enquanto a voz da tripulação se confundia nos comunicadores internos:
_ A bomba de areia, redutores de efeito e as brocas de propulsão estão todos fora do ar!!
_ Motor principal, motor de apoio, ativar a autofuga! Transferir energia para as baterias! Índice de saída 0.5, tempo para operação... 500!
_ A terceira ponte... está arruinada! - avisou Franz.
_ A seção do hangar, a seção de armamentos e até o casco de pressão foram destruídos!!! Não podemos impedir a areia de entrar!
_ Trancar cada seção completamente - ordenou Sigurd - e iniciar operação independente!!
_ Assim o controle de danos não vai se mover! - objetou Franz - O buraco não será coberto!
_ Está tudo bem... De qualquer modo, é impossível salvar a nave inteira. Nossa prioridade é garantir a ponte! Reúnam todos na ponte imediatamente!
A ordem de Sigurd foi passada e o imediato voltou-se com pesar. Então, deparou com Citan e Maison ainda ali e lembrou-se de mais um dever.
_ ... Hyuga... Não... Você agora é Citan. Você precisa sair. Vou pedir a Maison que o leve a um casulo de fuga.
_ Eu não posso deixar todos vocês assim...?!
_ Não temos o direito de mantê-lo aqui e fazê-lo se envolver - Sigurd tornou - Se vir Kahr e Miang outra vez, tenha certeza de fazê-los pagar por mim. Maison... por favor, mostre o caminho a ele.
_ Por aqui, por favor.
Sem mais nada que pudesse ser dito ou feito, Citan se foi. Ele e seu Gear Heimdall estavam a bordo do casulo e se afastaram da condenada nave pirata, para aterrisar coincidentemente nos limites da fronteira de Kislev. Talvez fosse obra do vento.
E uma visão curiosa o aguardava quando desceu, o que o fez investigar mais depressa ao passar pelas proximidades da colina onde um dia a frota de Vanderkaum estivera. O som de passos metálicos de Heimdall se fez ouvir até que ele parou diante de uma pilha de escombros fumegantes. Não dava para dizer com certeza o que aquilo tudo fora, mas haviam garras de metal retorcidas e canhões destroçados largados sobre a areia, e isso bastou para que Citan o reconhecesse.
_ Isso é... o Dora. Ele estava estacionado aqui? Isso foi muito descuido da minha parte...
Mais surpreendente que o Gear pesado ali, no entanto, era a situação em que ele estava. Conhecedor das forças da Gebler, Citan não podia pensar em muitas coisas que pudessem reduzir o Dora àquela condição. Mas...
_ Mas, sua condição... é exatamente a mesma dos outros que ‘ele’ destruiu...
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